Para uma melhor experiência neste site, utilize um navegador mais moderno. Clique nas opções abaixo para ir à página de download
Indicamos essas 4 opções:

Ok, estou ciente e quero continuar usando um navegador inferior.
Ecocria

Lideranças femininas começam a conquistar espaço no movimento estudantil 

Pela primeira vez após três décadas de existência, Diretório Central dos Estudantes da Unesc tem uma mulher na presidência

Prestes a encerrar o mandato como presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), a estudante de Enfermagem Gabriela Minhos, 27 anos, vai deixar um marco na participação feminina dentro do movimento estudantil. Em quase 35 anos de Diretório, ela foi a primeira mulher a ser eleita para ocupar o principal cargo de representação acadêmica da maior universidade da região.

Mesmo com as mulheres presidindo 52% dos Centros Acadêmicos da Unesc (11 das 21 entidades), demorou 34 anos para que uma delas fosse eleita presidente da entidade máxima, o DCE.

“A gente olha para os espaços e percebe muitas presidentes mulheres nos Centros Acadêmicos. No DCE que é uma esfera ainda maior, nunca se teve uma mulher. Então eu tinha essa responsabilidade comigo, o que tornava tudo mais desafiador”, relembra.

Os Diretórios Centrais dos Estudantes são entidades de representação estudantil vinculados às universidades e faculdades, e estão espalhados por todo o Brasil. É por meio deles que os alunos se organizam politicamente, para reivindicar direitos. Os Centros Acadêmicos são entidades equivalentes ao DCE, porém, representando os cursos de graduação de maneira individual. 

MAIORIA COMO ELEITORAS, MINORIA COMO CANDIDATAS

Dupla jornada inviabiliza que mulheres pensem em se envolver em espaços de poder, analisa Camila

As mulheres representam a maior parte do eleitorado brasileiro: são mais de 82 milhões, o que representa 52,6% dos votantes, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Quando se fala em população, elas também são maioria: 104,5 milhões, o que representa 51,5% de quem vive no Brasil, de acordo com o último censo do IBGE. Os números chamam a atenção e a conta não fecha, uma vez que a política segue com baixa participação e adesão de mulheres.

Mas o que falta para que a participação feminina seja maior dentro do movimento estudantil, nos espaços de poder, e também na política partidária? Para a ex-presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), Camila Lanes, é necessária uma mudança cultural em todas as esferas. 

“A atual divisão do trabalho é um exemplo cultural que se mostra cruel com as mulheres. Pesquisas mostram que a dupla jornada, no emprego e em casa, faz com que elas trabalhem cerca de 10 horas semanais a mais do que os homens. Isso inviabiliza que as mulheres tenham condições de pensar em participar dos espaços de poder e decisão sem sentir a cobrança dos cuidados que nos são impostos”, analisa. 

Natural de Curitiba, Camila tem 27 anos, é estudante de Marketing e trabalha como Social Media. Desde cedo, se envolveu com o movimento estudantil, e comandou em 2015 a maior entidade de representação estudantil do Brasil para estudantes secundaristas. Ela acredita que a objetificação da mulher, principalmente com a carga destinada aos cuidados domésticos e da organização familiar,  sobrecarregam a rotina e afastam as mulheres de assumir novas funções e com isso, novas demandas.

“Sempre somos colocadas como responsáveis por cozinhar, criar, lavar, passar e organizar. Não há um problema se uma mulher escolhe fazer isso, a questão é não ter opção. Não podemos nos resumir a algo que é imposto, por isso, compreendo que a mudança cultural perpassa também sobre a forma que tratamos as mulheres que estão ao nosso redor e precisam de espaço para conhecer outras realidades e, quem sabe, contribuir para as mudanças desses locais”, conclui.

UM CAMINHO SOLITÁRIO, CORAJOSO E PIONEIRO

A história das mulheres no cenário político é recente. Faz apenas 89 anos que, pela primeira vez no Brasil, uma mulher foi eleita Deputada Federal em mais de 200 anos desde a criação do Parlamento. De lá pra cá, a participação feminina na política vem caminhando a passos lentos. No movimento estudantil não foi diferente para Gabriela Minhos, que durante a trajetória à frente do DCE, se sentiu sozinha muitas vezes.

“As pessoas nos vêem sorrindo nos eventos, mas não fazem ideia de quanto é desafiador e solitário ser mulher na política. Às vezes, somos julgadas por fazer as mesmas coisas que homens fazem sem problema nenhum “, pontua Gabriela.

A política é um caminho reto, pavimentado e iluminado para os homens, mas é uma estrada árdua, repleta de becos e desmotivadora para muitas mulheres. O reflexo social de um cenário sexista e desigual tem feito com que o acesso aos espaços de poder seja dificultado para as mulheres. A decisão de estar na política, ou não, vai muito além do que a pura vontade de participar.

“O desafio político de uma mulher é sempre muito maior que um homem. Quando a gente vai para uma eleição, uma mulher tem que provar dez vezes mais que ela é boa naquilo que se propõe. Um homem já começa privilegiado neste cenário, e quando tu assumes este cargo, é diferente. Várias vezes eu estive em mesas de diálogo onde todo o pessoal que estava dialogando comigo eram homens, então passar por isso me deu um olhar diferente. Hoje eu olho para a política com um olhar muito diferente”, analisa.

Na política partidária, o desenho se repete. Mesas, púlpitos, bancadas, tomadas por homens. Em Criciúma, dos 17 vereadores no legislativo municipal, somente 3 são mulheres.  Uma delas é Giovana Mondardo (PCdoB), eleita pela primeira vez em 2020 com 2430 votos, conquistando a segunda maior votação do município. Mais tarde, em 2022, recebeu quase 40 mil votos na disputa por uma vaga como deputada federal. O início da trajetória política de Giovana foi no movimento estudantil.

“O movimento estudantil foi uma grande escola para que eu chegasse onde estou hoje. Minha primeira vez na Câmara de Vereadores foi como estudante, reivindicando direitos. Hoje, como vereadora, me sinto honrada de ter esta experiência e ainda seguir na luta pelos nossos estudantes”, destaca Giovana.

Entre as lutas da gestão de Gabriela, que se despede da presidência do DCE em dezembro deste ano, está a participação na mobilização do movimento estudantil do programa Universidade Gratuita. O programa do Governo do Estado, que concede bolsas de estudo a estudantes de graduação, foi aprovado no segundo semestre. Para as universidades comunitárias, serão R$216,9 milhões investidos nessas bolsas.

Para além dessas conquistas do dia a dia estudantil,  Gabriela deixa uma marca na história da instituição: foi eleita com mais de 90% dos votos válidos. Com esse protagonismo, espera inspirar outras que virão, já que o movimento estudantil costuma ser um ponto de partida para impulsionar mulheres aos espaços de poder:

“Ocupar este espaço foi desafiador, mas também foi engrandecedor. Me sinto honrada de poder ter sido pioneira enquanto presidente do DCE e espero que minha passagem seja inspiração para outras mulheres”.

REFLEXO EM NÚMEROS

Fonte: TSE Mulheres / Justiça Eleitoral

 

Reportagem do acadêmico de Jornalismo da Escola de Comunicação Criativa da Unesc (EcoCria), Luccas Gonçalves.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *