Institucional

Unesc conduz estudo pioneiro sobre Cannabis e Parkinson com resultados promissores

Pesquisa clínica da Universidade que busca comprovar benefícios terapêuticos da Cannabis combinada ao exercício físico completa um mês. (Fotos: Daniela Savi/Agecom/Unesc)

Há um mês em andamento e sem nenhum caso de desistência por efeitos colaterais, uma pesquisa pioneira no Brasil vem sendo conduzida na Unesc com o objetivo de avaliar os efeitos da Cannabis medicinal associada ao exercício físico em pessoas com doença de Parkinson em estágios iniciais (1 a 3). O estudo segue até o dia 15 de dezembro e já mostra avanços importantes, especialmente quanto à segurança e à adesão dos participantes ao tratamento. 

O projeto é desenvolvido dentro do Programa de Atendimento aos Portadores de Parkinson (ProPark), que há anos atua na Universidade oferecendo acompanhamento físico e terapêutico a pessoas com a doença. Agora, o grupo passou a integrar também o estudo clínico, realizado no Laboratório de Fisiopatologia Experimental da Unesc, em parceria com o Laboratório de Plantas Medicinais, e com apoio da Santa Cannabis, associação nacional de referência no uso medicinal da planta.

A reitora em exercício da Unesc, Gisele Silveira Coelho Lopes, explica que a Pesquisa é um dos pilares que sustentam a Unesc como Universidade Comunitária e transformadora. “Estudos como este, que unem ciência, saúde e compromisso social, demonstram a força do conhecimento produzido aqui. Esse trabalho reflete a dedicação dos nossos pesquisadores e o compromisso institucional em desenvolver ciência com ética, rigor e responsabilidade. Quando a pesquisa se alia ao cuidado com as pessoas, ela cumpre o seu papel: transformar vidas por meio do conhecimento. É motivo de grande satisfação ver o engajamento da nossa comunidade acadêmica em um estudo pioneiro, que coloca a Unesc entre as universidades de vanguarda na produção científica nacional”, ressaltou Gisele.

Segundo a professora doutora e coordenadora da equipe farmacêutica, Flávia Rigo, o estudo, realizado no Laboratório de Fisiopatologia Experimental da Unesc, é duplo-cego e randomizado, o que garante o rigor científico da pesquisa. O protocolo prevê que os voluntários realizem duas sessões semanais de exercícios de 45 minutos, ao longo de 12 semanas, com atividades que incluem alongamentos, treinos aeróbicos, exercícios de força e técnicas de equilíbrio.

“Hoje temos 44 pacientes participando. Metade deles recebe o óleo full spectrum, contendo compostos da planta, e a outra metade utiliza o placebo, que não possui canabinoides. Nenhum participante apresentou reações adversas significativas até o momento, o que já é um dado muito relevante”, explica Flávia.

Como funciona

Durante o protocolo, os voluntários tomam o óleo por via oral, com dose inicial de duas gotas pela manhã e duas à noite, aumentando gradualmente conforme a tolerância individual. Cada um é acompanhado semanalmente pela equipe farmacêutica e médica, que avalia os efeitos terapêuticos e eventuais reações.

“Nosso acompanhamento é contínuo e individualizado. O tratamento é seguro, e todos estão se mantendo firmes, o que demonstra a confiança no processo e a responsabilidade da equipe envolvida”, complementa Flávia.

Junto da utilização da Cannabis, todos os participantes realizam duas sessões semanais de exercícios físicos, conduzidas pela professora e fisioterapeuta Rúbia Pereira Zaccaron, coordenadora do ProPark. “O exercício é essencial para manter a funcionalidade e a autonomia. A Cannabis entra como uma possibilidade de potencializar os efeitos terapêuticos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, destaca Rúbia.

O estudo envolve ainda análises laboratoriais detalhadas, com coletas de sangue antes e após o tratamento para avaliar funções hepática, renal, parâmetros inflamatórios e bioquímicos. Os resultados serão comparados para verificar se o uso do óleo contribui na redução da inflamação associada à fisiopatologia da doença.

Apoio da Santa Cannabis e rigor científico

A Santa Cannabis é responsável por fornecer gratuitamente os óleos padronizados utilizados na pesquisa e por garantir a rastreabilidade e qualidade do produto. Após o encerramento, os pacientes do grupo placebo poderão realizar o tratamento com o óleo completo por mais três meses.

“Essa parceria é essencial para que o estudo mantenha o padrão de qualidade e segurança exigidos em pesquisas clínicas. É um passo importante para gerar evidências sobre o uso responsável e científico da Cannabis medicinal no Brasil”, reforça o presidente da associação, Pedro Sabaciauskis.

Equipe multidisciplinar e impacto científico

O projeto é conduzido por uma equipe multidisciplinar que reúne profissionais e pesquisadores das áreas de Fisioterapia, Farmácia e Medicina, com coordenação geral do professor doutor Paulo Cesar Lock Silveira, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS), e da professora doutora Patrícia de Aguiar Amaral, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA).
O acompanhamento clínico é realizado em parceria com o Instituto Cannabis na Prática (iCnP), coordenado pelo médico doutor Guilherme Neri, da Paraíba.

O estudo resultará em duas dissertações de mestrado e deve apresentar seus primeiros resultados em janeiro de 2026. “Estamos muito otimistas com a adesão e o engajamento dos participantes. Precisamos de mais pesquisas como essa para embasar o uso clínico da Cannabis com segurança, ética e evidência científica”, finaliza Flávia.

No Brasil, estima-se que cerca de 200 mil pessoas convivam com o Parkinson, condição neurodegenerativa ligada ao envelhecimento, que compromete a motricidade e também impacta funções como sono, digestão e cognição.

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