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Pesquisa da Unesc desenvolve nova
tecnologia em proteção balística

Resultado de anos de estudos, a Placa Balística Multicamada consolida o protagonismo da Universidade em ciência aplicada. Projeto é finalista do Prêmio Inovação Catarinense 2025. (Fotos: Marciano Bortolin/Agecom/Unesc)

Uma pesquisa iniciada em 2013, no Laboratório de Cerâmica Técnica (CerTec), da Unesc, vem consolidando avanço significativo na área da proteção balística. A Placa Balística Multicamada, desenvolvida sob a coordenação do pesquisador Oscar Rubem Klegues Montedo, reúne inovação, ciência aplicada e potencial estratégico para o Brasil. O estudo, que começou em parceria com as universidades federais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, nasceu de um projeto da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), voltado ao desenvolvimento de materiais para defesa e segurança.

Ao longo dos anos, o grupo de pesquisa da Unesc orienta trabalhos de Mestrado e Doutorado dedicados ao tema. O resultado mais recente, que originou uma patente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e publicada em revista internacional, propõe uma placa multicamada composta por diferentes materiais poliméricos e sintéticos, com desempenho comparável a produtos de ponta como o Kevlar, porém com custo reduzido e tecnologia nacional.

“Projetos dessa natureza têm grande importância porque, em todo o mundo, as munições evoluem constantemente, e isso exige tecnologias de proteção cada vez mais avançadas. À primeira vista, o material parece simples, mas fatores como o tipo de fibra, a configuração e o processo de montagem fazem toda a diferença. É isso que dá ao compósito uma característica única”, explica Montedo.

As proteções balísticas

De modo geral, os sistemas de blindagem multicamadas (MAS) são compostos por uma camada frontal de material cerâmico duro e frágil, de alta resistência à compressão e baixa densidade, cuja função é destruir e quebrar a ponta do projétil, absorvendo a maior parte da energia cinética. Na segunda camada, os materiais compósitos absorvem a energia remanescente dos fragmentos e do projétil por meio de diversos mecanismos, como tração, deformação e deslocamento das fibras, etapa fundamental para dissipar a energia residual do impacto.

Materiais poliméricos têm se mostrado especialmente promissores para esse tipo de aplicação, por apresentarem baixa densidade e alta capacidade de dissipar energia balística. Nessas estruturas, é comum o uso de compósitos à base de fibras, como aramidas (Kevlar e Twaron), polietileno de ultra-alto peso molecular (UHMWPE), como Spectra e Dyneema, além das fibras PIPD (M5) e compósitos de fibra de vidro. Também há crescente interesse em fibras naturais, como juta, sisal, coco e abacaxi, empregadas como reforço em matrizes poliméricas, menos resistentes que as sintéticas, porém mais sustentáveis e economicamente acessíveis.

Foi nesse contexto que os pesquisadores desenvolveram a Placa Balística Multicamada com uma configuração inédita, ao combinar fitas sintéticas de poliéster, poliamida e polietileno de ultra-alto peso molecular (UHMWPE) com resina polimérica. “Buscamos uma alternativa acessível e nacional, com a utilização de materiais simples, de mercado, mas com uma configuração inovadora. Sozinhas, essas fitas não suportam o impacto de um projétil, mas, em conjunto e com a disposição adequada, formam um compósito com propriedades mecânicas superiores”, explica.

Testes rigorosos comprovam a eficácia

O material passou por testes rigorosos no Centro de Pesquisa do Exército, no Rio de Janeiro, em ambiente controlado e com medições de velocidade a laser. “Os resultados foram expressivos. Em alguns casos, o projétil padrão não atravessou o material, o que surpreendeu nossos colegas do Instituto Militar do Exército (IME). Mesmo com disparos de fuzil, que possuem energia muito superior, as placas mostraram altíssima capacidade de absorção de impacto, o que representa grande potencial de proteção”, relata Montedo.

“Buscamos uma alternativa acessível, que aproveita fitas sintéticas comercializadas no mercado, como as de poliéster, poliamida e polietileno de ultra alto peso molecular (UHMWPE). Sozinhas, essas fitas não resistem ao impacto de um projétil, mas a combinação e a configuração entre camadas criam um compósito com propriedades mecânicas muito superiores”, acrescenta o pesquisador.

No vídeo, você confere os testes realizados:

https://youtube.com/shorts/VFf2VCOosjc?si=q_USvKkTUqN2NBFa

Outras utilizações

Além da blindagem pessoal, o material apresenta versatilidade para outras aplicações, como capacetes, equipamentos esportivos e proteções estruturais. “É um compósito leve, resistente e de múltiplos usos. A ideia agora é buscar parcerias para viabilizar a produção e comercialização da tecnologia”, antecipa.

A reitora em exercício da Unesc, Gisele Silveira Coelho Lopes, reforça o papel da Universidade como protagonista em ciência e desenvolvimento regional. “A Unesc tem no seu DNA o compromisso com a Pesquisa e a inovação voltadas à sociedade. Trabalhos como este demonstram que o conhecimento produzido aqui tem impacto real, com potencial de transformar setores estratégicos do país. A pesquisa nasce do investimento constante em estrutura, qualificação e incentivo aos nossos pesquisadores e estudantes. Esse resultado é fruto de uma política institucional que entende a ciência como ferramenta de desenvolvimento humano, econômico e social”, afirma.

Finalista do Prêmio Inovação Catarinense

A Placa Balística Multicamada, que representa mais de dez anos de estudo e aprimoramento tecnológico, é finalista do Prêmio Inovação Catarinense Professor Caspar Erich Stemmer – Edição 2025, na categoria Pesquisador Inovador, promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc).

Para Montedo, o projeto é também a prova da força da pesquisa desenvolvida na Unesc. “A Universidade tem se destacado por investir em ciência aplicada e inovação, com apoio constante aos Programas de Pós-graduação. Quando uma proposta como essa é reconhecida, o mérito é coletivo: do pesquisador, da equipe e da instituição que nos dá suporte. É motivo de grande satisfação ver um trabalho assim concorrer a um prêmio de relevância estadual”, destaca.

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