
A Unesc, por meio do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSCol) e as Clínicas Integradas de Saúde, em conjunto com a Prefeitura de Criciúma, promoveu ação integrada da campanha Maio Laranja, nessa segunda-feira (19/5). O evento reuniu representantes de diversos setores da sociedade para discutir e propor estratégias de enfrentamento à violência infantojuvenil.
Na ocasião, as professoras Vanessa Iribarrem Avena Miranda e Susana Cararo Confortin, do PPGSCol, apresentaram um diagnóstico sobre a violência interpessoal contra crianças e adolescentes no município, resultado de uma pesquisa que abrange os últimos cinco anos (2018 a 2024). O material, que inclui um boletim epidemiológico detalhado, traz informações que servirão de base para a formulação de políticas públicas e ações conjuntas de prevenção.
“As crianças de zero a quatro anos são as principais vítimas de negligência. Já os adolescentes, entre 10 e 19 anos, concentram a maioria dos casos de violência física, sexual e psicológica. Esta última sendo a menos notificada. Em 78% dos casos, a violência acontece dentro de casa, e em 90% das situações, o agressor é alguém da própria família”, destacou a professora Vanessa. Segundo o levantamento, foram registradas 3.320 notificações de violência contra crianças e adolescentes em Criciúma no período analisado.
A atuação das pesquisadoras ocorre em parceria com o Núcleo de Prevenção às Violências e Promoção da Saúde (Nuprevips), com o qual mantêm vínculo há três anos. O trabalho conjunto busca apoiar a geração de dados e a tradução do conhecimento científico para uso prático em políticas públicas.
“Quais são os nossos maiores desafios? O primeiro é a subnotificação: estima-se que apenas um a cada seis casos seja registrado oficialmente. Outro ponto crítico é a qualificação da rede de proteção. Não basta dizer o que fazer, é preciso saber como fazer. Esses momentos de diálogo são fundamentais para isso”, reforçou Vanessa.
Além da apresentação dos dados, o evento contou com uma roda de conversa intersetorial com o tema “Desafios e Percepções da Violência Infantojuvenil em Criciúma”, reunindo representantes das secretarias municipais de Saúde, Educação e Assistência Social, além de membros da Segurança Pública, Justiça, Câmara de Vereadores, Unesc e da Vigilância Epidemiológica.
Lançamento de livro e novas estratégias de prevenção
O encontro também marcou o lançamento do livro “Alerta na Floresta”, de autoria da assistente social do Nuprevips, Andrea Vieira da Silva. A obra foi inspirada no cotidiano do núcleo, a partir da análise de fichas de notificação (Sinan) que relatam situações de violência sexual contra crianças.
“Para as crianças, muitas vezes, não é claro que estão sofrendo uma agressão sexual. O livro traz essa temática de forma sutil, por meio de personagens do folclore, permitindo que a criança se reconheça na história e expresse seus sentimentos por meio da arte, como o desenho”, explicou a autora. A atividade foi realizada em alusão ao Dia Nacional de Combate à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, lembrado no domingo (18/5).
Fala dos participantes
A coordenadora das Clínicas Integradas da Unesc, Carine Cardoso, destacou o papel do material desenvolvido. “O diagnóstico e o livro foram construídos de forma intersetorial, com apoio da Universidade e das clínicas. São ferramentas importantes que orientam ações desde a Educação Básica, integrando saúde e educação desde os primeiros anos de vida”, comentou.
Já a técnica do Nuprevips, Lusiane Mendes, destacou o trabalho do núcleo. “O Nuprevips é um serviço da Vigilância Epidemiológica que monitora situações de violência e articula ações com a rede de atenção. Com capacitações e vigilância ativa, temos contribuído para reduzir a subnotificação e colocar essas crianças em uma linha efetiva de cuidado”, citou.
O vereador de Criciúma, Luiz Fontana também participou do encontro e elogiou a iniciativa. “Esse tipo de evento é fundamental. Espero que a cidade, cada vez mais, enfrente e combata esse tipo de violência.”
Representando o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Andrey Manoel dos Santos reforçou a importância da articulação prática. “Muito se fala sobre trabalho em rede, mas pouco se vê efetivamente. A rede precisa ser fluida, articulada e eficiente, para que possamos reduzir as notificações, que são apenas a ponta do iceberg”, sublinhou.
“Desejo um excelente evento e reforço a importância de termos espaços como este para discutir uma temática tão urgente. Temos um comitê que debate alternativas para o enfrentamento dos diversos tipos de violência, mas é fundamental que essas discussões avancem para ações efetivas. Precisamos integrar esforços, unir forças e promover iniciativas mais articuladas. Eventos como este são essenciais para fortalecer essa rede de proteção e garantir respostas mais eficazes à violência infantojuvenil”, finalizou a assistente social da 8ª Promotoria da Comarca de Criciúma, Vara da Infância e Juventude, Fabiane Fernandes Farias Escarpari.