A história da Unesc tem sido marcada pela contribuição de diversos grupos étnicos para o desenvolvimento de tecnologias e conhecimentos populares e científicos de maneira interdisciplinar. As contribuições das populações e povos negros se apresentam com grupos de estudos e pesquisas, bem como, coletivos e projetos sociais que dialogam com as comunidades em prol da educação para as relações étnico-raciais.
O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) é um espaço proposto para promover a interação entre os cursos e seus professores, funcionários e acadêmicos, bem como, demais setores e seus colaboradores em todos os níveis de ensino e a sociedade. Busca incentivar políticas e práticas contra discriminações de diversas ordens, na busca pela promoção da justiça social para a equidade racial e de gênero e suas intersecções em todos os meses do ano, com ênfase em novembro quando o Dia da Consciência Negra volta ainda mais os olhares ao assunto.
“O 20 de novembro ter se tornado um feriado nacional é uma grande vitória. É fazer com que a gente possa expressar toda a cultura, tudo aquilo que o povo negro contribuiu naquilo que significa a cultura da nossa nação. Independente do segmento racial, étnico-racial, nós temos várias vertentes, vários vocábulos, vários costumes, hábitos alimentares trazidos de África. Nós temos a África dentro de nós. Então, poder mostrar essa riqueza para nós é muito importante e nada melhor do que o espaço da Universidade. Porque se a educação transforma, se ela é capaz de realizar uma sociedade que venha a ser pensada por um todo, é necessário esses momentos para reflexão e para entendimento, para que se possa respeitar a cultura do outro, porque uma riqueza muito grande é a troca”, comenta a coordenadora do Neabi, Normélia Ondina Lalau de Farias.
Durante todo este mês a Unesc realiza o 11º Novembro da Consciência Negra, com uma vasta programação com atividades voltadas à reflexão sobre a cultura afro-brasileira, as lutas históricas e as contribuições dos povos negros à sociedade brasileira. A programação inclui palestras, oficinas, exposições, documentários e a socialização de pesquisas científicas por meio do Neabi. Uma das palestras aconteceu nesta sexta-feira (22/11), no Auditório Ruy Hülse, com o tema “Exú não é o Diabo: Demonização, Desconstrução e Compreensão de uma Divindade Yorùbá”. A abertura do evento foi marcada pelo cortejo de Maracatu do Coletivo Aracuã.
“A Unesc é diferenciada. E quando ela permite que a gente ouse, e traga essa pauta, o debate sobre Exú dentro do campo da Universidade, para desmistificar o medo, a demonização, ela demonstra que a educação está acima de tudo. Isso é conhecimento em todas as esferas, inclusive sobre esses estigmas que se tem em determinadas religiões. Então, é um passo muito importante da Unesc abrir a porta, porque aquilo que a Universidade diz ‘sim’, a comunidade digere de uma forma melhor e procura entender mais”, acrescenta Normélia.
Pluralidade em todos os níveis
O palestrante da noite foi o doutorando e mestre em Teologia pela Yotùbá pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), com especialização em História e Cultura Afro-brasileira e Africana, Rodrigo Peniche. “Eu vim abordar essa divindade que aqui na diáspora é tão demonizada. Então, a partir de uma análise em específico exegética, a gente compreende inicialmente o que é esse diabo e a partir de que momento ele entra dentro dessa tradição judaico-cristã e acaba influenciando essa assimilação de Exú com o diabo”, explica.
Peniche ainda fala sobre a busca para retirar a aproximação que há, segundo ele, entre Exú e o diabo. “Após fazer isso, resgatar o real sentido de quem é Exú, que não tem relação nenhuma com o diabo, e sim é o Senhor da comunicação, das encruzilhadas, aquele que conecta o homem a essas divindades africanas”, afirma.
O palestrante também comenta sobre a importância de abordar o tema dentro de uma Universidade. “Falamos tanto de um Brasil plural, ainda mais no ambiente acadêmico. E essa pluralidade precisa alcançar diálogos combativos que desmistificam imagens equivocadas a respeito de divindades africanas. Então, quando a Unesc se dispõe a abrir esse espaço para promover esse diálogo, ela mostra que está engajada nesse combate a essa intolerância religiosa, bem como o racismo religioso”, reforça o professor.
Conhecimento e cultura juntos
Para recepcionar os participantes, foi montado um altar com diferentes objetos significativos da cultura afro-brasileira e africana. “Eu sou umbandista e na minha religião gostamos de trazer para os espaços os nossos símbolos, os elementos que a gente utiliza nos nossos ritos e até em nossas casas, e em nossas práticas de contato com essa espiritualidade”, comenta a coordenadora Secretaria de Diversidade e Políticas de Ações Afirmativas e membro do Neabi, Janaína Damásio Vitório. “Trouxemos alguns símbolos para montar o altar, como o cachimbo, que o Preto Velho utiliza na hora da reza; o terço, que ele também utiliza; a flecha que remete às frutas e ao caboclo; além da Iemanjá, que é a mais conhecida do espaço do terreiro”, acrescenta.
A programação do 11º Novembro da Consciência Negra continua. Na próxima quinta-feira (28/11), haverá a socialização de pesquisas no âmbito da educação para as relações étnico-raciais. Será no Bloco O, sala 001, a partir das 13h30. A programação completa pode ser acompanhada no Instagram no Neabi (@neabi_unesc).