Inserido na programação da XII Semana de Ciência e Tecnologia (SCT) da Unesc, o 6º Workshop de Arqueologia deste ano teve, na sua temática, “A relação Brasil/Portugal na Arqueologia Colonial – 1500 a 2021)”. O workshop, realizado na última quarta-feira (10/11) no formato de palestras teve o objetivo de interligar a ciência arqueológica a diversas áreas do conhecimento. O evento online contou com a participação de professores e acadêmicos e foi organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da Universidade, reunindo os cursos de História, Geografia e Ciências Biológicas e o Laboratório de Arqueologia Pedro Ignácio Schmitz (LAPIS).
Conforme o professor Juliano Bitencourt Campos, que mediou o debate, essa temática teve uma grande interlocução com a do evento, já que por meio de estudos que a ciência arqueológica faz a respeito dos povos originários e comunidades tradicionais, sabe-se que a relação desses com o meio ambiente era de integração. “Desta forma, a arqueologia é um mecanismo para evidenciar que nossa sociedade pautada na esfera científica tem muito a considerar sobre os conhecimentos tradicionais dos povos originários”, comentou.
A descoberta de uma nau com seus tesouros
A professora Tânia Casimiro abriu o debate abordando “Contatos, Identidade e Globalização no Mundo Atlântico – séculos XV – XIX”. Ela é de Portugal e especialista em cultura material, investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, com importante trabalho desenvolvido nas áreas da arqueologia europeia medieval e pós-medieval e das relações atlânticas.
Tânia Casimiro participou, há quatro anos, no projeto de recuperação de uma nau (navio) portuguesa descoberta em Omã, no Oriente Médio. A nau Esmeralda naufragou em 1503 na costa de Omã. A embarcação, que fazia o percurso das Índias, era incluída na armada de Vasco da Gama. Do seu interior foram recuperados 2,8 mil artefatos, na grande maioria moedas, uma esfera armilar e um emblema pessoal do rei Dom Manuel I.
A pesquisadora ainda mencionou um dos projetos realizados em Lisboa, como homenagem a todas as pessoas escravizadas na época colonial: uma ‘plantação’ com 540 pés de cana-de-açúcar em alumínio preto. A obra “Plantação-Prosperidade e Pesadelo”, do artista angolano Kiluanji Kia Henda, foi a proposta mais votada para o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas.
As profundezas dos oceanos foram citadas como referenciais importantes das pesquisas. “Aquilo que acontece no Atlântico é influenciado por tudo que passa do ponto de vista global”, lembrou Tânia, pontuando o papel importante desempenhado pelas rotas marítimas na história.
Arte indígena também em destaque
A professa Mariane Sallum propôs uma reflexão da arte indígena, com abordagem da persistência nas comunidades de práticas em São Paulo. Para ela, está claro que o conhecimento e a estética resultam das relações mais variadas. A cerâmica paulista resultou da conexão de tecnologias, práticas, significados e memórias. Ela foi produzida inicialmente pelas tupiniquins, em uma aliança com os portugueses na área de São Vicente e continuada por diversas gerações de mulheres, incluindo as que vieram de fora. O exame de vasilhas inteiras, de fragmentos e dados publicados, mostra que a Cerâmica Paulista foi produzida desde o século XVI com algumas variações. “A arte indígena é fundamental para pensar como forma de resistência. Estamos vendo cada vez tantos museus com a política da descolonização”, enumerou Mariane.
Já o professor Francisco da Silva Noelli pautou o tema “Da cerâmica tupiniquim à cerâmica paulista”, que são dois conjuntos de artes fatuais que avançam até os tempos atuais. Ele lembrou que as vasilhas produzidas nessa linha temporal são observadas inclusive em museus.
“Essas comunidades que produziam a cerâmica paulista podiam estar situadas tanto nos núcleos urbanos quanto fora deles. Examinando as fontes históricas, a gente passa a perceber que a maioria das comunidades de São Paulo viviam em clareiras na floresta ou eventualmente na transição da Mata Atlântica para as áreas de campo naturais que tem em São Paulo”, comentou.
Segundo ele, há uma série de morfologias que continuaram ao longo do tempo e todos conhecem quais vasos eram usados para determinados fins, ou seja, são variações de vasilhas produzidas entre 300 e 400 anos atrás. “Temos persistências de práticas e a relação de pessoas que vão transmitindo os conhecimentos. Tem muita coisa ocorrendo agora, pois está tudo interligado”, finalizou.
Assista a programação do Workshop de Arqueologia clicando aqui.
O sucesso da SCT
O workshop de arqueologia fez parte de uma ampla programação que movimentou a SCT na Unesc. Foram mais de 2 mil inscritos nas palestras, minicursos, workshops e nos variados eventos relacionados. “Conseguimos oferecer 230 atividades e muitas formas de compartilhamento e conhecimentos”, sublinhou a professora Merisandra Cortes de Mattos, coordenadora da SCT.
A SCT termina nesta sexta-feira (12/11). Confira as últimas atrações da programação clicando aqui. A programação tem o patrocínio do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-SC) e o apoio de Fapesc, CNPq, Capes e Biozenthi Dermocosméticos.