
Nesta segunda-feira (22/09), às 15h19min, ocorreu o equinócio da Primavera e, simultaneamente, no espaço do Museu da Infância, situado no hall do bloco da Reitoria, era instalada a exposição: “Ború: Escola e Museu como Jardins do Mundo”, de autoria dos alunos da segunda série do Ensino Fundamental 1, da Escola de Educação Básica Estadual Julieta Torres Gonçalves, do distrito de São Bento Baixo, em Nova Veneza.
Na linguagem do povo indígena Krenak, popularmente conhecidos como Botocudos, habitantes originários do norte do estado de Minas Gerais, a palavra “ború”, significa flor. E a data de abertura da Mostra artística e cultural não poderia ter sido mais propícia e significativa.
O evento marca a participação da Unesc na 19ª edição do Primavera dos Museus, que acontece desta segunda até domingo (28/9), com a coordenação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), e que tem como tema: Museus e mudanças climáticas”.
Ativação
Segundo a coordenadora do Setor de Arte e Cultura, responsável pelo Museu, Amalhene Baesso Reddig, a Lenita, essa exposição está sendo cadastrada como uma ativação.
“Nós estamos chamando essa ação de ativação no Museu da Infância da Unesc, na perspectiva de pensar a temática deste ano, bem como a Exposição de Orquídeas, instalada no hall do Bloco XXI. Seguiremos, através dos nossos equipamentos culturais, ajudando as pessoas a compreender qual é o significado do tema e nos comprometermos cada vez mais em estar ligados às questões da educação ambiental, questões ligadas à vida, ao viver, a deixar de ver os seres humanos e todos os outros seres vivos”, explicou a coordenadora.
Parceria
Lenita também destacou a importância dessa parceria entre escola e Universidade. “Quando uma escola vem pra dentro da Universidade fazer uma ativação, significa que nós, como uma instituição comunitária, estamos em diálogo. Eu tenho certeza que várias outras escolas desejarão estar aqui na primavera do ano que vem querendo também fazer uma ativação. Nós, do Museu da Infância, estamos orgulhosamente abrindo a Primavera dos Museus, com esses trabalhos ricos, especiais, e muito bonitos, produzidos pelas crianças da Escola Julieta Torres Gonçalves”, agradeceu Lenita.
Representando a reitora em exercício, Gisele Coelho Lopes e a pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação, Inovação e Extensão (Propriex), Vanessa Moraes de Andrade, a diretora de Extensão, Cultura e Ações Comunitárias (Dirext), Sheila Martignago Saleh, destacou que a honra de receber a exposição é toda da Unesc.
“Estamos honrados de receber essas obras lindas que vocês fizeram que ficarão por aqui para muitas pessoas visitarem. Olha como vocês são importantes. Uma exposição feita por várias mãozinhas, incentivadas pelos professores, que maravilha. Só tenho que dizer que somos muito gratos e parabenizamos cada aluno pelo capricho e dedicação que depositaram em cada trabalho, colocando em prática tudo o que aprenderam em sala de aula. Vocês são artistas maravilhosos, vi cada trabalho e todos estão perfeitos”, comentou Sheila.
Idealizadora
A professora Jú Zilli foi a idealizadora do projeto “Ború”.e, segundo ela, o momento é de sentimento. “Esse trabalho começou de mansinho para depois virar uma exposição da escola. O tema da mostra é uma união de muitos outros conteúdos que estão no currículo do ano. É uma honra imensa e uma gratidão muito maior, porque é a oportunidade de valorizar o trabalho desses pequenos que vem casando com a ideia de criar os alunos para o mundo. Fazê-los crescer sem perder a essência, sem perder a inocência. Dar a essas crianças a oportunidade de expor, aqui na Unesc, num ambiente fantástico como esse, é simplesmente respeitá-los”, pontuou a professora.
Curador
Ao egresso da Universidade e hoje professor da escola, Marcos Santos, coube a curadoria da exposição. Ele destacou que toda boa semente que a Universidade lança e semeia, volta.
“E nós voltamos aqui como boas sementes dos grupos de estudos do Arte na Escola com a Lenita, a professora Silemar, que precisa ser também rememorada aqui, um trabalho fantástico de cultivo junto aos professores e professoras de arte da nossa região, para que as coisas aconteçam lá, onde de fato, precisa acontecer, como já foi dito aqui, na sala de aula, que é lugar de cultivo. E estar aqui no segundo ano, trazendo o Boru, que significa tanto flores, quanto florescer. Boru nos chama para habitar o mundo, e isso começa na escola, que se conecta com as casas, com as famílias. E esse trabalho representa várias famílias da nossa comunidade e partilhar o resultado aqui na Universidade, é um privilégio muito grande para nós”, avaliou o curador.
Orgulho
A diretora da escola, Alessandra Vilpert Damiani, ficou orgulhosa pela abertura da segunda exposição na Unesc. “É muita alegria que estamos sentindo com esse trabalho, com essa exposição tão linda, maravilhosa, feita pelo segundo ano, com tanta dedicação e organização. Os professores se empenharam muito, e esses trabalhos foram feitos em uma feira na nossa escola. Foi até difícil selecionar os materiais de tão maravilhosos que eram. É muito orgulho mesmo ter essa mostra, ser disposta aqui, nesta instituição em que estudei, há 30 anos..Meus parabéns a todos os alunos, especialmente a Ju e ao Marcos, que se dedicaram tanto nessa proposta. Trabalhar essa questão dos povos indígenas e ter o Museu da Infância, resgatando essas histórias, é fantástico”, resumiu a diretora.
Origem e significado
Ború vem de Borum, palavra Krenak que significa flor.
Na cultura dos povos indígenas, são os mais velhos que ensinam aos mais jovens. A escola, em sua essência, guarda a mesma lógica: aqueles que já trilharam caminhos partilham suas experiências com as crianças. Em todas as comunidades humanas, o futuro se constrói a partir do que foi legado por quem nos antecedeu — o trabalho, o semear, o cuidar da terra e, sobretudo, o cuidar das crianças, para que todos possamos permanecer fortes e unidos.
No pensamento do escritor e ativista indígena Ailton Krenak, de que “o futuro é ancestral”, ecoa a chave da sabedoria dos povos originários, que nos ensinam a habitar o planeta deixando pegadas suaves, em harmonia com a Terra. O escritor nos convida a pensar a escola como jardim: um espaço fértil, onde podem florescer os conhecimentos herdados dos povos indígenas e seus modos ancestrais de compreender o mundo.
Os estudantes da Escola Estadual Julieta Torres Gonçalves, São Bento Baixo/Nova Veneza aproximam-se desses saberes que tocam o que há de mais sagrado: a vida. Aprenderam sobre os povos originários, sua relação profunda com a ancestralidade, a importância da observação respeitosa na interação com a natureza. Escutaram histórias e mitos da formação do mundo, dos bichos e das gentes, nutrindo-se de um conhecimento que entrelaça memória e imaginação.
E neste “portal mágico” chamado Museu da Infância onde se tecem conexões entre infâncias de outros tempos e aquelas que seguem inspirando o futuro, as crianças da turma da professora Jú Zilli chegam agora para compartilhar seus trabalhos artísticos, frutos de suas aprendizagens sobre os povos indígenas do Brasil.
Das conversas entre professores, na escola, no Museu, nos corredores ou entre os canteiros floridos da Universidade, floresceu Ború: uma exposição-ativação que anuncia a urgência de conhecer para amar, cuidar e preservar.
O conhecimento se faz presente no ensino, na escola, na cidade, na aldeia, no Museu, e na relação entre uns e outros.