
Com o objetivo de discutir caminhos para uma cidade mais inclusiva, lideranças da região se reuniram neste sábado (12/7), no Novo Hotel, em Criciúma, para a “Rodada de Conversa: Construindo uma Cidade Acessível para Todos!”. O evento contou com a participação da reitora em exercício da Unesc, Gisele Silveira Coelho Lopes, na oportunidade representando o Presidente da Associação Empresarial de Criciúma (Acic), Franke Hobold, onde reuniu representantes do poder público, de entidades de classe e especialistas na área de acessibilidade. Os profissionais vinculados às áreas de infraestrutura da Unesc também participaram do encontro.
Participaram do encontro o presidente do CREA-SC, Kita Xavier; a presidente da CDL de Criciúma, Andréia Salvalaggio; o diretor de Planejamento Urbanístico do município, Edson Silva; e o especialista em acessibilidade, Eduardo Ronchetti, que trouxe ao debate experiências práticas e soluções voltadas à criação de cidades mais justas e acessíveis. O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Sul Catarinense (Sinduscon) Sul Catarinense, o empresário Alessandro Pavei, também participou do painel.
O diálogo abordou quatro eixos centrais: cidade acessível, empresas acessíveis, comércio acessível e o conceito de cidade para todos, propondo uma reflexão conjunta sobre como o município pode avançar em políticas públicas, infraestrutura e conscientização social.
Durante a explanação no painel, a reitora em exercício, Gisele Silveira Coelho Lopes, destacou a importância da acessibilidade para um setor produtivo mais inclusivo e destacou o papel essencial da Acic como parceira do diálogo para o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis, inclusivas e acessíveis. “A Acic é a casa do empresário e juntamente com as forças vivas da sociedade participa ativamente do diálogo para o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis e inclusivas. Ao lado da ACIC temos a Universidade que juntas caminhamos de mãos dadas para a qualificação de pessoas mais humanas e preparadas alinhadas às competências que o mundo do trabalho precisa”, afirmou Gisele.
A discussão também foi enriquecida por dados atualizados sobre acessibilidade no Brasil. De acordo com o Censo Demográfico de 2022; 14,4 milhões de pessoas no Brasil possuem algum tipo de deficiência, representando 7,3% da população com 2 anos ou mais. Destes, 2,2% são crianças e 27,5% são idosos. Os tipos de deficiências representam 7,9 milhões com deficiência visual; 5,2 milhões de pessoas com deficiência motora (andar/subir); 2,7 milhões com deficiência auditiva, e 1,4 milhão de pessoas com deficiência mental, intelectual e de comunicação.
Segundo a reitora em exercício, esses números indicam que precisamos ir além das normas e legislações. “Precisamos nos opor a qualquer forma de capacitismo, ou seja, qualquer ato de discriminação, preconceito e exclusão social direcionados às pessoas com deficiência. Precisamos capacitar a sociedade para serem mais inclusivas e humanas. É preciso planejar as cidades para as pessoas, para todas as pessoas. Não há mais espaço para uma visão excludente e avessa aos diferentes. Significa projetar a ambiência das cidades para que todos possam viver em harmonia com os espaços e usufruírem do bem viver. Quando temos uma visão mais ampliada da vida, conseguimos construir projetos de cidades mais fluídos, sistêmicos e inclusivos. Para tal, é preciso ir além das normas e legislações. A burocracia tem o papel de regular o mínimo do que precisa ser feito. A visão mais ampliada do processo para cidades mais sustentáveis, inteligentes e inclusivas requer dos profissionais um pensamento mais empático e sensível para o ser humano”, ressalta.
Apesar dos avanços no mundo do trabalho, os dados do Censo 2022 indicam que apenas 19,9% dos catarinenses vivem em áreas urbanas com calçadas dotadas de rampas de acesso — um índice superior à média brasileira (15,2%), mas que ainda revela o quanto é necessário evoluir.
Gisele destaca a importância de pensar em cidades mais inteligentes. “Acreditar em cidades inteligentes significa, acima de tudo, acreditar em cidades para todas as pessoas. Não podemos aceitar que a tecnologia e a inovação sirvam apenas para poucos ou que reforcem barreiras históricas. Uma cidade verdadeiramente inteligente é aquela que promove acessibilidade universal, valoriza a diversidade e reconhece cada indivíduo em sua totalidade. Precisamos de cidades que respeitem diferentes formas de existir, que ofereçam oportunidades iguais e que sejam pensadas para acolher e não excluir. Todas as pessoas têm o direito de ocupar plenamente os espaços urbanos, com dignidade, autonomia e segurança. Cidades inteligentes só serão verdadeiramente inteligentes quando forem também profundamente humanas e inclusivas”, conclui.
O presidente da Acic, Franke Hobold enfatiza que Criciúma e toda a região são reconhecidos pela boa qualidade de vida. “Possuímos bons serviços na educação e na saúde pública o que atrai muitos migrantes. Nada mais justo que debater também a acessibilidade para termos uma cidade de qualidade de vida sempre maior. Acessibilidade na cidade, no comércio e nas indústrias é inserir as pessoas a sociedade cada vez mais. Importantíssimo se debater o tema”, comenta.
Já a presidente da CDL, Andréa Salvalaggio cita que participar de um diálogo que reúne diversas instituições, profissionais e órgãos públicos, é fundamental para discutir a importância da acessibilidade na cidade. “Juntos, podemos desenvolver soluções que assegurem uma Criciúma inclusiva e acessível para todos. A acessibilidade é crucial, pois impacta diretamente a qualidade de vida da nossa população, e garante a liberdade de ir e vir. Além disso, uma cidade acessível também beneficia o comércio. É essencial que todos os segmentos da sociedade colaborem com o poder público para a implementação de soluções eficazes”, comenta.
Também presente no encontro, o diretor de Planejamento Urbanístico de Criciúma, Edson Silva relata que o evento promoveu uma dinâmica e um trabalho com todos os arquitetos e engenheiros da região tratando como ser acessível sem burocracia. “Ser acessível não está nas pessoas. A deficiência não está nas pessoas, a deficiência não está na pessoa com deficiência física, mas está nos locais. O banheiro que não é acessível, a rampa que não é acessível, a calçada que não é acessível, a casa que não é acessível. e ficou claro a importância disso, porque transformar uma cidade acessível não depende apenas do poder público. Por isso, é importante debatermos esse tema”, ressalta.
O presidente do Sinduscon, Alessandro Pavei é outro que julga esse ser um tema importante e que precisa ser debatido. “Não somente debater com os empresários do setor da construção, que é quem executa essas obras, mas também contribuir para que esta seja uma cidade para todos, porque nós temos um grande número de pessoas com deficiência, incluindo os idosos, que têm sempre alguma restrição de locomoção ou de mobilidade. É um assunto muito importante, pertinente”, fala.