
Uma manhã em que a arte se fez memória, a memória se fez vida, e a vida, mais uma vez, se fez arte. Assim foi o lançamento da cinebiografia de Edi Balod, regado a muitas homenagens e emoções. Professores da Unesc, familiares, amigos e convidados se reuniram para prestigiar a estreia do média-metragem “Edi Balod – Linha de Frente”, que celebra a vida e a arte do artista que lotou o cinema do Shopping Della, em Criciúma, neste sábado (12/7). A próxima apresentação será na Unesc.
Durante a exibição da cinebiografia, corações batiam em sintonia com as imagens projetadas. Cada cena abraçava a plateia, revelando as facetas de um artista que, antes de tudo, é essência e presença. Ao final, olhos marejados, sorrisos emocionados e abraços silenciosos expressavam o que as palavras não conseguiam dizer.
“Todo o trabalho, desde o primeiro olhar até a captação das imagens e dos fatos, despertou muita emoção. Por conviver intensamente com a arte, percebo as nuances, as cores, os detalhes. E tudo ficou muito bonito, tanto pelo olhar artístico quanto pela escolha sensível dos depoimentos e registros. É uma obra que preserva parte da história da cidade”, afirmou Balod, emocionado.
A produção é assinada pela Mozaiko Filmes e contou com a direção do professor e pesquisador do mestrado e doutorado em desenvolvimento socioeconômico (PPGDS) Unesc Alcides Goularti Filho, além do roteiro e produção de Giani Rabelo, também docente e pesquisadora do mestrado e doutorado em educação (PPGE) da Universidade. A obra mescla imagens de arquivo, depoimentos, memórias e registros poéticos para apresentar ao público a vida de um artista em permanente transformação.
Com carinho e admiração, a reitora em exercício da Unesc, Gisele Silveira Coelho Lopes, ressaltou a importância de contar histórias em vida e lembrou que, assim como a arte, a ciência também revela diversas camadas da essência humana.
“É tão bom ter o professor aqui hoje para compartilhar a sua história em vida. Assim como a arte, que possui tantos vieses, você nos revela aqui a sua essência. Faço questão de afirmar que a ciência também é arte. O professor Alcides e a professora Giani conseguiram, por meio de uma metodologia científica aplicada ao cinema, extrair e contar uma história que nos tocou profundamente neste momento. Tenho certeza de que esta obra impactará a vida de muitas outras pessoas”, comentou Gisele.
“Ela ainda agradeceu aos professores por usarem sua sabedoria, em meio às pesquisas e estudos, para retratar a vida do artista Edi Balod por meio da arte. Porque você faz arte e respira arte. Muito obrigada por nos presentear com esse momento”, enfatizou Gisele.
A presidente da Fundação Cultural de Criciúma (FCC), Cristiane Uliana Zappelini, destacou que foi uma manhã verdadeiramente agradável. “Edi, a tua história é linda e inspiradora. Muito obrigada por ter contribuído tanto para a cultura de Criciúma. Até hoje colhemos os frutos do que você construiu. Foi uma inspiração maravilhosa”, afirmou ela.
“Que alegria vivenciar tudo isso. Que prazer poder passar uma manhã assim, reencontrando tantas pessoas que há anos não víamos. Mais do que isso, foi um momento de reencontros e, quando reencontramos amigos, reencontramos também lembranças. A tua história de vida é, de certa forma, parte da história de vida de cada um de nós”, complementou ela.
Entre raízes, memórias e cores
Mais do que contar a trajetória de um artista, a cinebiografia revela o elo profundo entre sua arte, suas raízes e suas memórias. Por meio de imagens e vozes, a obra convida o espectador a mergulhar em um universo criativo, onde histórias familiares ganham forma, emoções são traduzidas em imagens e o papel transformador da arte na cultura local se revela.
Segundo Filho, a cinebiografia se apoia em três linguagens distintas: a leveza da Nouvelle Vague, as sombras dramáticas do caravagismo e um engajamento sutil. A narrativa começa explorando sua ancestralidade no Rio Novo, em Orleans, segue sua trajetória como estudante e profissional, e culmina na revelação de sua paixão pela arte. Nas locações externas, o diretor procurou envolver Edi em cenários que foram — e ainda são — fontes constantes de inspiração e encantamento.
“Organizei os depoimentos de amigos, amigas e do irmão a partir dos diferentes momentos de sua vida. Também retrato a forte relação que mantinha com a mãe e a conexão afetiva com sua casa. A poesia se entrelaça com as lembranças, criando momentos de intensa emoção”, destacou Filho.
Para a roteirista e produtora Giani Rabelo, a experiência foi marcante. “Conhecer novas dimensões da trajetória de Edi me fez entender ainda mais por que ele é tão admirado. Ele vive a arte em sua forma mais profunda, múltipla e generosa. É um criador que inspira, um amigo que acolhe, uma presença que marca. Criciúma e região têm uma preciosidade”, destacou Giani.
O projeto foi contemplado por meio do Edital nº 001/2024 da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura – PNAB (Lei nº 14.399/2022), e conta com apoio do Município de Criciúma, por meio da Fundação Cultural de Criciúma.
Educador e inspiração
Por 27 anos, Edi Balod foi professor na Unesc, encantando estudantes com histórias, objetos simbólicos e provocações que iam além da sala de aula. “Quando o conheci, ele chegou na sala de aula com um monte de objetos e contou histórias de um jeito que me encantou. No intervalo, eu e alguns colegas ficamos por ali, e ele também. A melhor aula que ele deu foi no intervalo”, lembra o amigo Antônio César de Medeiros Pereira, que fez parte da cinebiografia.
“Minha aproximação mais importante com ele foi na Unesc. Fui acadêmico dele. O Boi de Mamão, por exemplo, foi um projeto marcante daquela fase. Não havia personagens prontos, e tivemos que criar tudo. Fizemos até uma música exclusiva e fomos aperfeiçoando. Tudo na casa dele é arte”, relembra Sérgio Brody, que também participou do depoimento.
“Edi é um artista completo: desenho, pintura, dobradura, interpretação, contação de histórias. Ele faz tudo”, resume Rose Maria Adami. “Assim é o Edi, com sua loucura de invencionista”, sintetiza Sérgio Luiz Zapelini.
A arte de Edi Balod é marcada por ciclos, uma característica visível em sua produção, como destaca o amigo e jornalista Nei Manique Barreto. “Há algo muito presente na arte dele que são os ciclos. Ele os delimita com clareza”.
Mais do que seus títulos ou funções ao longo da vida, o que realmente marca sua presença é o olhar vibrante, a curiosidade inquieta e a capacidade de encontrar beleza até nas frestas mais discretas do mundo. “O mais interessante na obra dele é a vibração. Ele enxerga o belo nas pequenas coisas”, observa o amigo e admirador Marcelo Guimarães.
Para Edi, a convivência com os estudantes era fonte constante de inspiração. “Ele é extremamente criativo e precisava compartilhar esse fluxo de ideias. Estar na Universidade o fazia expandir ainda mais”, lembra Amalhene Baesso Reddig, a Lenita. Segundo ela, o legado de Edi segue vivo na trajetória dos acadêmicos que passaram por ele, carregando aprendizados, vivências e inspirações deixadas ao longo do caminho.
Sua passagem pela presidência da Fundação Cultural de Criciúma (FCC) também é lembrada com admiração. “A gestão dele ficou marcada pela intensidade das atividades comprometidas com a cultura da cidade. Havia exposições em galeria, oficinas de arte, a descentralização cultural. Um evento que marcou muito foi a festa Rota da Imigração, o Teatro para Todos, entre outros”, recorda o amigo Alexandre Rocha.
O irmão Wilson Balod guarda com carinho as lembranças da infância de Edi, especialmente sua participação nas comemorações escolares, quando já se destacava ao declamar poesias. “Ele sempre foi apaixonado por literatura, pelos livros. Desde pequeno, já era um exemplo para os demais”, relembra com orgulho.
Entre afetos, memórias e livros artesanais
Com a parceria do amigo Antônio César de Medeiros Pereira, Edi Balod dedica-se atualmente à produção de livros de poesia manuscritos e ilustrados, inspirados pelas paisagens da Bacia do Rio Araranguá. São obras que carregam o tempo, o gesto e a delicadeza de quem transforma a arte em permanência. “Criei no meu imaginário algumas situações como se fossem um delta, e a partir disso decidi desenvolver uma série de colagens e pinturas, usando imagens que nasceram dessa contemplação da beleza do rio. Também escrevi um poema sobre isso”, revela o artista.
Sobre a arte, Balod finaliza deixando um recado. “Quem quiser se aventurar precisa entrar de cabeça, identificar-se com os materiais, descobrir aquilo que mais se conecta com o seu querer, com o seu fazer artístico. É preciso acreditar piamente, profundamente, e trabalhar intensamente na busca dos ideais e fazer acontecer”, aconselha.
Exposição
Além da exibição da cinebiografia, Edi Balod também aproveitou a ocasião para expor algumas de suas obras no hall do cinema do Shopping Della. “Estamos muito honrados em receber essa exibição. O Edi é um artista com uma trajetória marcante no cenário cultural da nossa região. Ao longo dos anos, ele integrou diversas mostras e ações em parceria com o Shopping Della, construindo uma relação de proximidade e afeto que também faz parte da nossa história. É uma alegria poder receber essa produção em nosso espaço e celebrar esse momento com uma nova exposição, justamente em um local que já acolheu tantas de suas obras”, destacou a gerente de Marketing do Della, Greici Lima.
Ela também lembrou que o Shopping conta com a Estação da Arte – Galeria, um espaço especialmente dedicado à valorização de artistas locais. O ambiente foi realizado para atrair diferentes perfis de visitantes, como apreciadores de arte, arquitetura e design de interiores, além de colecionadores em busca de peças autorais, criativas e exclusivas.