Pessoas que mudaram o espaço em que vivem em seu tempo merecem ter as histórias eternizadas para incentivar as gerações futuras. Uma delas, que agora ganha as páginas de um livro é a professora Enedina Alano da Rosa, que lecionou por cerca de 50 anos em diversas cidades da região.
A obra “Enedina: de Laguna a Criciúma, a saga de uma guerreira”, escrita pela egressa do curso de Letras da Unesc, Kelly Cristina Fernandes da Rosa, foi lançada na Universidade. Afrodescendente, militante política, educadora, religiosa e organizadora de movimentos sociais, Enedina passou a lecionar em 1922, em Laguna. Em uma carreira que durou 50 anos, ela deu aula em diversas cidades do Sul catarinense.
O livro que retrata os detalhes dessa história é fruto do Mestrado de Kelly dentro do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Unesc. “O interesse por estudar e compreender a atuação da professora negra e a presença no magistério por 50 anos surgiu por um número significativo de pesquisas a respeito de outros educadores negros pelo Brasil”, contou Kelly.
Os estudos das relações raciais, especialmente na abordagem gênero e etnia, são o eixo central do trabalho que dá visibilidade à mulher negra educadora e à ação pedagógica em diversos municípios da região.
“Gratidão por compartilharem este momento conosco. Parabéns aos amigos da Kelly por honrá-la por esta conquista e virem à Universidade para prestigiar o lançamento do livro. A Unesc é plural; democrática; participativa e inclusiva. Aqui tem espaço para todos. Este é o nosso papel como Universidade Comunitária, que foi criada por iniciativa popular”, enfatizou a pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação, Inovação e Extensão, Gisele Coelho Lopes.
Para crianças e adultos
Ainda antes do evento, a escritora lançou na Biblioteca Central Eurico Back, um livro infantil que conta a história de Enedina de forma lúdica.
A coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Unesc, Normélia Ondina Lalau de Farias. Normélia, que atuou no apoio ao lançamento, também ressaltou a honra em receber o lançamento do livro na Universidade. “É um momento em que percebemos que temos expoentes escritores negors e negras no país, mas hoje uma escritora negra da nossa região. Para mim, o mais importante é termos uma pessoa negra falando de outra pessoa negra. Durante muito tempo as nossas histórias foram contadas por pessoas não negras, então este protagonismo é extremamente importante”, citou.
“Essas ações reforçam o que nossa Instituição prega: uma Universidade diversa e inclusiva. Aqui não se admitem práticas de preconceito ou racismo de qualquer forma. É um campo que se abre porque, a partir de hoje, temos em nosso acervo uma obra sobre uma mulher importante para a nossa região e que foi silenciada. Sempre tivemos dificuldades de encontrar relatos do povo negro da nossa região, mas agora estamos conseguindo resgatar essas histórias que são muito importantes”, acrescenta.
A trajetória que inspira muitas pessoas no Sul catarinense, orgulha a família da professora. A filha, Onélia Alano da Rosa, por exemplo, disse que é motivo de alegria ver tudo retratado nas páginas dos livros. “Sempre tive orgulho da minha mãe. Frequentemente conversamos com pessoas que foram alunos dela há 40 ou 50 anos e falam do que ela significa. Entre tantos fatos, lembro que quando morávamos em Lauro Müller, ela ia à Florianópolis pedir ao governador materiais para a escola em que trabalhava. Naquela época tudo era muito difícil, mas mesmo assim ela ia em busca porque sempre lutou pela educação”, relatou.
Os dois livros lançados já estão à disposição na biblioteca da Unesc. Eles foram doados pela autora, que agradeceu a Fundação Catarinense de Cultura, por meio do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, que custeou as impressões das obras. Exemplares serão doados ainda para escolas de toda a região.