Um evento carregado de emoção e memórias marcou o lançamento do videoarte intitulado “Negritude em Criciúma: A Contribuição do Clube dos Morenos na Representatividade do Povo Negro da Região Carbonífera”. A exibição ocorreu na noite desta segunda-feira (12/08) na Unesc e contou com a presença de membros da comunidade e personalidades envolvidas no projeto.
A produção, realizada pelo acadêmico de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação Criativa (EcoCria), Marciano Alves, teve como foco a Sociedade Recreativa União Operária e a importância na representatividade do povo negro na região.
O audiovisual reúne depoimentos como do ex-presidente do clube, Valmor Ignacio Vicencia, da coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) da Unesc, Normélia Ondina Lalau de Farias, de outros membros da comunidade e especialistas no tema.
“O projeto tem como objetivo resgatar a cultura do movimento negro na região, fortalecer o senso de pertencimento e incentivar a comunidade a reconhecer e valorizar sua própria herança cultural. Além disso, queremos destacar as origens africanas e dar voz a histórias que foram esquecidas devido ao preconceito, promovendo a identificação com figuras que representam o poder negro na região,” explicou Alves.
A pesquisa foi inspirada pela história de Vilson Lalau, que dá nome à escola do bairro onde Marciano cresceu, e culminou na ideia de criar esse registro após uma visita ao Clube União Operária.
“A população negra merece ser destacada, e poder contar um pouco dessa história é muito gratificante,” acrescentou Marciano.
Elogios
A coordenadora da Secretaria de Diversidades e Políticas de Ações Afirmativas, Janaína Damásio Vitório, elogiou o trabalho: “Este material chega em um momento muito oportuno. É um registro importante da nossa história, um espaço que preserva nossas memórias. É valioso por realmente capturar e registrar nossa presença e contribuição para a comunidade”, falou.
Para a acadêmica de História, Maria Julia da Costa Manoel, o material é fundamental no fortalecimento do senso de pertencimento social e territorial entre as crianças e jovens negros, além de resgatar a história das pessoas que contribuíram para a construção desse caminho.
Recordações
Normélia Ondina Lalau de Farias, uma das entrevistadas, compartilhou o impacto emocional de participar do projeto. Ainda residente na casa onde cresceu com seus pais, Normélia relembrou momentos da infância e as interações com amigos de sua família que frequentavam a casa. “São recordações que talvez eu não tivesse revivido se não tivesse parado para repassar as informações para o vídeo. Foi emocionante”, revelou.
Normélia ressalta a riqueza da produção: “É uma obra que traz histórias valiosas e não fui a única a participar. Outras pessoas também deram seus depoimentos, cada uma com sua visão. É um registro muito importante, que não fala apenas dele, mas também de outras pessoas daquela época, incluindo minha mãe, que foi sua companheira”, contou.
“Vejo aqui um trabalho riquíssimo, que, embora não tenha demandado muitas horas, conseguiu captar todas as ideias de maneira excepcional. Ele realmente mostra que somos frutos de resistência, que estamos aqui, firmes”, recordou Normélia.
Conforme a professora, um dos momentos de grande comoção na história do clube foi a derrubada do antigo espaço, ainda de madeira, local também frequentado por ela. “No dia em que tivemos que derrubar aquele clube, mesmo com o novo quase pronto para uso, nós choramos, especialmente os jovens daquela época. Estávamos acostumados com o clube de madeira, mas também sabíamos do grande esforço que fizemos para a construção do novo espaço. Nossa ação como grupo era organizar campanhas para arrecadar tijolos, cimento e ferro, ajudando a complementar o material que a diretoria, já maior, havia conseguido. Muitas vezes, aos sábados e domingos, íamos lá e ajudávamos, empurrando carrinhos de mão cheios de material. Foi um esforço coletivo e significativo”, completa.
Acesso a todos
O material completo está disponível no Youtube, por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=eslL0pSH4E4, além de ser exibido em escolas públicas municipais de Criciúma, na Unesc, podendo ainda se tornar acervo cultural Museu Afro-Brasil-Sul (MABSul).
Além da parceria com o Neabi, o projeto idealizado por Marciano Alves também foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo.