Ao frequentar por quatro anos o Hospital Colônia de Santana, de São José, a pesquisadora Ana Terra de Leon foi muito além de trabalhar na preservação do acervo histórico da instituição. Sob olhar atento, ela mergulhou ainda mais fundo na pesquisa sobre a luta antimanicomial e a reforma psiquiátrica, movimentos sociais e processos históricos.
A experiência adquirida por Ana desde então foi compartilhada, na noite desta terça-feira (28/05), no 3º Seminário da Luta Antimanicomial da Unesc, realizado sob comando da Liga de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Lasmap) em parceria com a Secretaria de Diversidades e Políticas de Ações Afirmativas e Centro Acadêmico do curso de Psicologia da Universidade.
O encontro reuniu, no Bloco P do campus, acadêmicos dos cursos de Psicologia e História, além de residentes dos Programas de Residência Multiprofissional da Universidade, egressos e visitantes.
Para a professora do curso de Psicologia, Dipaula Minotto da Silva, ao longo dos estudos sobre a temática o processo é muito mais de “desconstrução” do que construção de conhecimento. “A gente vai desconstruindo os preconceitos, vai descobrindo o que é efeito colateral dos remédios, que aquele corpo vai criando aquele formato, não por conta da doença, mas por conta do espaço físico ao qual ele está restrito”, citou.
A oportunidade de acompanhar uma aula de Ana Terra, para a professora, é um momento a ser celebrado. “O Seminário acontece para celebrar a data de 18 de maio, Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Estamos aqui com essa visitante ilustre, portanto, para aprender e celebrar, pois, apesar de um longo caminho pela frente, já temos conquistas neste sentido”, acrescentou Dipaula.
Envolvida nos estudos sobre o assunto desde já, na graduação, a acadêmica Gislene Mendes, da 8ª fase do curso de Psicologia, fez questão de lembrar ao público presente que a luta antimanicomial não deve ser apenas do profissional psicólogo, mas, sim, de todos as áreas.
“Eu percebo que hoje nós estamos em uma juventude que tem dificuldade de debater. A gente foge disso, mas precisamos lembrar que, por exemplo, hoje temos um Sistema Único de Saúde (SUS) por conta de muito debate e movimentação social. Nós não podemos esperar nos formarmos para participar. Devemos participar desde já, enquanto cidadãos”, pontuou.
O evento foi aberto com a trilha sonora do grupo Velho Samba, da oficina de música do Centros de Atenção Psicossocial (Caps) AD II, de Criciúma.
Representando a Associação dos Usuários, Familiares e Profissionais da Saúde Mental de Criciúma, o presidente Vander Carlos também participou do encontro.
Dilema que virou pesquisa
O fato de participar do dia a dia do Hospital Colônia de Santana, mesmo não sendo profissional da área da saúde, possibilitou um olhar mais atento de Ana aos procedimentos e, mais que isso, à forma de abordagem realizada.
“Não era como se eu estivesse vendo algum ato de mal trato, mas uma pulguinha atrás da orelha sobre a forma como as pessoas eram tratadas começou a me fazer ter uma certa crítica à instituição, ainda que eu estivesse dentro dela, algo que acredito ser muito comum também em profissionais da saúde. Esse dilema me jogou cada vez mais para uma abordagem crítica antimanicomial da psiquiatria”, relembra.
A partir disso, conforme a pesquisadora, o trabalho se voltou a estudar a política pública que organizou a inauguração do Hospital e os primeiros anos de funcionamento, principalmente na década de 40. “O que trago hoje é, basicamente, um pouco dessa pesquisa a partir das fontes históricas, algo que construí no meu Trabalho de Conclusão de Curso e ao longo do mestrado, e que, apesar de muitos de vocês possivelmente já conhecerem esse assunto sob outro ponto de vista, também pode agregar ao conhecimento e na defesa de anti-institucionalização da vida”, declarou ainda a palestrante.