A temática “Educação e Equidade Racial” norteou o encontro promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) na noite de quarta-feira (22/11). A iniciativa envolveu estudantes de cursos de licenciatura da Unesc, do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e da Escola de Ensino Básico Sebastião Toledo Dos Santos, o Colegião.
Os responsáveis por abordar a temática foram a professora da Unesc, coordenadora do curso de licenciatura em Química e do Neabi, Normélia Ondina Lalau de Farias, e o professor de Geografia da Rede Estadual de Ensino e pesquisador do Neabi, Douglas Vaz Franco Santana.
Além da palestra, o evento contou com o lançamento do clipe “Racismo Estrutural”, dos músicos Gui Negão, V Negão e Alexis.
As vivências e os ensinamentos compartilhados por Normélia alertaram sobre o fato de que a verdadeira consciência negra só vai passar a existir a partir do momento em que as pessoas negras puderem ocupar todos os espaços que são seus por direito.
“É necessário que haja essa consciência negra nas pessoas não negras, porque elas não sentem a dor que a gente sente. Elas até tentam, mas jamais vão entender a intensidade desse sentimento. Por outro lado, nós precisamos lembrar que temos sim os mesmos direitos e esse racismo não fomos nós que criamos. Somos vítimas dele. Nós precisamos continuar com esse movimento para que possamos, de algum modo, chegar naquilo que tanto buscamos: a equidade e o respeito acima de tudo. Nós respeitamos os demais, mas não somos, em mesmo grau e intensidade, respeitados”, avaliou.
Conforme Normélia, não fosse os preconceitos, não haveria necessidade de distinção entre humano preto, o humano amarelo, o humano indígena, o humano branco. “Nós temos que também pensar sobre isso. Se somos todos humanos, por que a desvantagem para um grupo? Porque o povo preto foi tratado com tamanha desumanidade? A diáspora africana deu conta de tratar esse povo, que é uma parcela da humanidade, como mercadoria. Isso tudo nos faz refletir sobre qual é a consciência negra que o branco carrega”, acrescentou.
A palestra foi uma das atividades promovidas pelo Neabi ao longo do mês de novembro, dedicado à consciência negra. A lei nº 12 519, de 10 de novembro de 2011, instituiu o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra como data a ser comemorada no dia 20 de novembro de cada ano.
“Nós sabemos que o racismo nos faz sofrer, machuca, abre feridas às quais, por alguns momentos, pensamos que estão cicatrizadas, mas sempre há um impacto novo que faz com que elas venham a abrir novamente. Enquanto indivíduos que fazem parte dessa raça que é humana. Mas não é isso que a gente constata porque também, enquanto humanos, não haveria uma necessidade de estar sendo classificados como o humano preto, o humano amarelo, o humano indígena, o humano branco. Então, isso tudo também nos faz refletir a respeito dessas questões manifestadas por práticas conscientes e inconscientes”, menciona.
Normélia enfatiza o movimento não deve ser realizado somente em novembro. “Estas ações devem ocorrer durante o ano todo e o tempo todo, porque não se é preto somente em maio ou novembro, são 365 dias do ano, enquanto a gente tiver vida, e enquanto for necessário, nós vamos ter que mexer com as feridas. É necessário que se fale o tempo todo nos espaços educacionais, em todas as disciplinas, em todas as séries, a todo momento, para que a gente consiga, pelo menos, promover uma educação e uma formação de sociedade com um novo modelo antirracista tão sonhado por nós”, finaliza.