“Um dia me perguntaram se eu achava que a Unesc possui a importância que eu afirmo que tem. Eu respondi: acho, sim! Se alguém duvidar, pergunte como seria a nossa região se não fosse a Universidade! Questione aqueles que são atendidos e acolhidos nas nossas clínicas! As pessoas que estão com dificuldade de saúde física, mental e, até mesmo, aqueles com problemas de saúde espiritual encontram todo o apoio na Unesc. Pensar na região sem a presença da Unesc? Seria muito diferente, pois, além de ser uma Universidade Comunitária, ela é humanitária!”
A afirmação é de alguém que convive com a Fucri/Unesc há muito tempo: o ex-reitor Edson Rodrigues. O atual assessor da reitoria iniciou a sua relação com a Instituição no início da década de 1980 e até hoje frequenta os corredores da Universidade.
Ainda antes disso, após concluir o curso de Matemática na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rodrigues recebeu convite para permanecer na capital catarinense e fazer parte de um grupo de pesquisa, mas preferiu voltar para Criciúma onde, acreditava, poderia dar a sua contribuição.
“Vim e comecei a lecionar no curso de Matemática da Faculdade de Ciências e Educação de Criciúma. Depois, por várias questões, ajustei o meu caminho com a trajetória da Fucri e da Unifacri, que foi o primeiro passo para chegarmos à Unesc. Saímos de quatro escolas separadas, formulamos a estrutura de uma só e, pelo processo no Conselho de Educação, a criação da Unesc foi aprovada”, relata.
“Fui convidado para ser chefe de departamento da Escola de Tecnologia (Estec), depois secretário de Educação de Criciúma e presidente do Conselho Técnico Pedagógico da Instituição, na época em que conseguimos fazer avançar o processo de aprovação do estatuto da Fucri que previa eleições diretas com participação dos estudantes, professores e funcionários, o que se consagrou e até hoje nós vivemos esta democracia tão plena e legítima. Esta é uma das razões pelas quais ela é tão pujante e comunitária”, acrescenta.
O cargo de secretário Municipal de Educação de Criciúma, Rodrigues ocupou durante os quatro anos do mandato do prefeito José Augusto Hülse. Porém, em 1985, o professor retornou à Fucri e em 1988 foi eleito diretor da Faculdade de Ciências e Educação (Faciecri), abrindo mão do cargo a bem do processo de unificação da Faciecri, da Estec, da Escca e da Esede. Deste processo, surgiu a União das Faculdades de Criciúma (Unifacri), o embrião do que viria a ser a Unesc.
Primeiro reitor da Unesc
Edson Rodrigues assumiu a Fucri em 1993, após, ao lado de Antonio Milioli Filho, formar uma chapa de oposição e vencer nas urnas, se tornando, posteriormente, o primeiro reitor da Unesc.
“Fui eleito na época em que a Universidade fazia a sua transição no Conselho Federal de Educação, depois o processo foi transferido para o Conselho Estadual. Nos meus primeiros quatro anos de gestão, nós conseguimos a aprovação da transformação da Unifacri em Unesc. Já no segundo mandato, trabalhamos uma nova perspectiva de uma Universidade que jamais imaginaríamos que seria tão pródiga. Criamos diversos cursos e fizemos o que eu considero que é mais importante para a Instituição: a definição de sua missão”, cita.
“Todos que participaram deste processo chegaram à conclusão de que não bastava somente formar técnicos, professores, bacharéis, engenheiros para atuar, mas que a Universidade ajudasse as pessoas a se tornarem cada vez melhores, pois pessoas melhores cuidam do ambiente de vida. Esta é a tônica que acredito que vem direcionando todas as atividades da nossa Universidade que sempre foi, mas hoje é ainda mais comunitária. A intenção era ter uma Universidade que não apenas educa pelo Ensino, Pesquisa e Extensão, mas ter uma educação comprometida para buscar, não só a qualidade, mas também a perenidade do ambiente de vida. É isso que tem sido feito e é por isso que a nossa Unesc tem destaque em todos os setores em que atua”, complementa.
Enfim somos uma Universidade
Após as idas e vindas e quatro anos mais tarde, em 1997, finalmente a instituição foi reconhecida como Universidade, passando a se chamar Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), ficando a Fucri como mantenedora.
A festa em torno da transformação em Universidade iniciou em Florianópolis, seguiu pela BR-101 e chegou ao campus em Criciúma.
Rodrigues lembra que as pessoas lotaram diversos ônibus para ir ao Conselho Estadual de Educação acompanhar a votação. “A alegria ia aumentando a cada voto positivo dos conselheiros. Até chegar naquele momento, nós fizemos uma campanha muito forte para contar com o apoio da comunidade. Lembro que usávamos a frase ‘Unesc, conta comigo!’ e tínhamos bonés e camisetas”, recorda.
“Quando entramos no campus, eu não sou treinador, mas fui alçado nos ombros e carregado. Vi toda aquela multidão feliz, contagiada pelo mesmo sentimento: a emoção de sermos uma Universidade, um embrião do que somos hoje. Naquele momento, todos os esforços foram coroados: a distância da família, o tempo integral de dedicação, as idas e vindas à Florianópolis. Hoje ouço muito o reconhecimento das pessoas pelo que fizemos, o que me enche de emoção e de alegria”, cita.
O ex-reitor diz que quando assumiu a Reitoria, a Instituição possuía oito cursos e 2,7 mil estudantes, números que foram elevados para 21 cursos e 5,5 mil acadêmicos. Em 2023, quando a Universidade completa 55 anos, já são mais de 15 mil estudantes e mais de 70 cursos de graduação.
“Hoje já são cinco Doutorados e sete Mestrados, o que faz uma grande diferença para a região, pois são conhecimentos que conseguimos reunir e que impressionam. Os nossos pesquisadores estão em topo de listas no estado, no país e no mundo. Construímos uma Universidade que tem a ver com a vida das pessoas de todos os lugares: acadêmicos, professores, colaboradores, comunidade em geral. Só temos que agradecer a todos que estiveram conosco nessa luta e a Deus, porque sem Ele não teríamos conseguido”, afirma.
Desafios
Apesar da grande alegria pela conquista, lembra Edson, nem tudo foi flores após a transformação em Universidade. Rodrigues lembra que muitos desafios surgiram. Um deles, foi o enfrentamento na busca pela implantação do curso de Medicina, já que estava proibido por decreto presidencial.
Conforme o ex-reitor, à época foi necessário estudo profundo da legislação para que fosse possível encontrar um caminho. “Assim nasceu um curso com metodologia própria e inovadora, trazida do Canadá. No curso de Direito, nós precisamos atingir um determinado número de títulos de livros da área. Fizemos campanha de arrecadação de obras e muitos advogados, entre outras pessoas, doaram”, acrescenta.
Em 1993, durante a gestão de Edson Rodrigues, outra conquista para a Unesc, que beneficia a região Sul até os dias atuais: a aquisição de imóveis da Indústria Carboquímica Catarinense, que deixou os locais desativados, entre eles o Departamento de Concentração de Pirita (Cecop), no bairro Sangão, local onde a Universidade instalou o Parque Científico e Tecnológico (Iparque).
As conquistas e engajamento junto à comunidade não paravam de acontecer. Em 1995 a Fucri assumiu a administração do Hospital Regional de Araranguá (HRA). A ideia de transformar o local em um hospital universitário não evoluiu já que a legislação foi modificada e não havia mais a exigência para ter o curso de Medicina, então, anos depois, a parceria foi encerrada.
Outro desafio foi vencer as desconfianças. Uma delas estava em uma lista elaborada por empresários da cidade. Nela, haviam 14 prioridades, cada uma com o seu grau de importância. A transformação da Fucri em Universidade era a 13ª.
“Para nós isso não foi demérito, mas sim um desafio. Hoje, analisando, percebemos que os empresários entenderam o que representa uma Universidade para o município e, atualmente, têm uma relação que contribui com toda a região. A associação empresarial também é uma entidade forte que, aliada à Unesc, produz uma série de transformações”, observa.
Significativa
O ex-reitor, que hoje dá nome a um dos auditórios da Universidade, localizado no Bloco P, não esconde a contribuição que a Fucri e depois a Unesc proporcionaram para a sua vida. “Não só na vida profissional, mas na pessoal, até hoje colho os frutos. Fico feliz, porque esta vivência é inigualável. Para ter a experiência de um ex-reitor, você precisa ter sido reitor. Tem que cuidar da Instituição, da estrutura, mas principalmente, das pessoas que estão conosco. A quantidade de pessoas que pude compartilhar os momentos fáceis e difíceis, os momentos de alegria e de tristeza, me marcaram profundamente. Eu não posso nem imaginar o que seria a minha vida se eu não tivesse essa experiência”, menciona.
O futuro
Para o futuro, Edson Rodrigues vislumbra a manutenção do desenvolvimento da Universidade. “A Unesc vai continuar crescendo e se qualificando. Hoje já é um case de sucesso. Há desafios todos os dias, mas acredito que a Unesc vai ser ainda mais lembrada, porque seguirá influenciando na vida das pessoas”, enfatiza.
“A nossa reitora Luciane Ceretta é uma liderança acima da média e a população e os líderes da sociedade reconhecem isso. O que desejo é que ela possa seguir inspirando as pessoas a sempre fazerem mais de forma coletiva, se unindo cada vez mais. Ela merece todas as homenagens nestes 55 anos da Unesc, pois capitania hoje uma Instituição que mostra para a sociedade o que é ser uma Universidade que não se preocupa somente com diplomas, mas com profissionais comprometidos com o ambiente de vida das pessoas. A Unesc se aprimora cada vez mais com esta questão fundamental, que é interagir com a comunidade e produzir uma vida melhor”, acrescenta Edson.
Confira mais um depoimento da série “Unesc: 55 Anos de Histórias”: