Em comemoração aos 54 anos de implantação do curso de Pedagogia na Unesc, a Universidade recebeu, na noite desta segunda-feira (19/06), no auditório Ruy Hülse, a palestra “A formação do professor e da professora alfabetizadores”, com a docente Francisca Isabel Pereira Maciel da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Francisca, é professora titular da Faculdade de Educação/UFMG, integra o corpo docente da Pós-graduação da UFMG e coordena o grupo de pesquisa: ‘Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento’.
Para abrir o evento, promovido pela coordenação do curso, os bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e acadêmicos do curso, apresentaram uma contação de história, que foi releitura pelos estudantes. Chamada de “O Coelho sem Orelhas”, a peça buscou transmitir ensinamentos sobre igualdade, inclusão e respeito às diferenças.
Rica troca de experiências
Segundo a coordenadora do curso de Pedagogia, Andréia Rabelo Marcelino, a palestrante veio para conversar e trocar conhecimentos. “Essa interação com os nossos acadêmicos é muito oportuna, uma vez que alfabetizar não é somente ler e escrever. Alfabetizar vai muito além disso. E foi com esta proposta que nós a trouxemos. Para nos passar seus ensinamentos e a linha da sua pesquisa”, pontuou.
Para prestigiar a palestra, a coordenação convidou, além dos estudantes, profissionais que trabalham com alfabetização, professores das escolas da rede privada e do Município. “Esta palestra vem muito ao encontro do nosso projeto de alfabetização e letramento no Pibid. Hoje temos cerca de 34 bolsistas que fazem parte desse projeto lindíssimo. Realizamos encontros todos os sábados pela manhã, dentro das nossas ações comunitárias”, acrescentou Andréia.
A professora e pró-reitora de Ensino, Graziela Amboni, representando a reitora Luciane Bisognin Ceretta, parabenizou os coordenadores e acadêmicos do curso pelos 54 anos de atividade e deu as boas-vindas à palestrante, destacando ser um momento muito especial e um ambiente adequado para se falar sobre a formação dos professores alfabetizadores.
Considero o tema desta aula fantástica e ouso dizer que, para mim, uma das principais funções do professor é conseguir alfabetizar um aluno com excelência. Fazer uma criança aprender, o amor pela alfabetização, pela leitura, pela escrita, pela matemática, é construir um bom cidadão”, avaliou.
Antes de subir ao palco para a sua palestra, Francisca Isabel Pereira Maciel atendeu a reportagem da Agência de Comunicação (Agecom) da Unesc. Confira a entrevista na íntegra:
Agecom: Qual o conteúdo do seu tema nesta noite?
Professora Francisca:
O meu tema é alfabetização, leitura e escrita. É nesse campo que eu atuo como professora, como orientadora, no mestrado e no doutorado da Faculdade de Educação da UFMG. É um tema que no momento é muito caro para todos nós, porque os dados mostram que nós temos mais de 50% das crianças ao final do segundo ano sem ter o domínio da leitura e da escrita. Desta forma, penso que isso é muito preocupante e mais uma razão para poder pensarmos numa formação para que possamos de fato, fazer algo pra essas crianças.
Agecom: Como a senhora analisa o surgimento da Linguagem Neutra?
Professora Francisca:
A linguagem neutra, não é muito a minha área de atuação, mas eu digo para você que a comunicação, a língua, está em constante movimento e mudanças. Penso que esse é um movimento mundial e não só no Brasil. De uma certa forma, temos que ter esse reconhecimento. Eu acho que faz parte do movimento da língua enquanto comunicação e transformação.
Agecom: Como a senhora analisa a linguagem abreviada utilizada atualmente nas redes sociais?
Professora Francisca:
A linguagem que utilizamos no principal aplicativo de mensagem, na maioria das vezes é citada. Um exemplo: Ninguém mais escreve beleza e sim ‘blz, e o ‘td’, para tudo. Então, isso também faz parte do movimento, mas as crianças têm que aprender o certo. Que ‘blz’ é ‘beleza’, que ‘td’ é ‘tudo’. Então, você tem que saber o que está falando, porque que está falando e com quem tá falando, dentro de um contexto. Eu penso que pode ter todos esses movimentos, essas coisas todas, mas eu tenho que saber quando usar, porque usar e como usar.
Agecom: A pandemia Covid-19 influenciou muito no aprendizado das crianças?
Professora Francisca:
Com certeza a pandemia afetou as crianças do mundo todo. Temos conhecimentos pelas avaliações, seja da alfabetização, do ensino médio, em todos os segmentos, de que tivemos um decréscimo na aprendizagem de todos, independente, até no superior. E agora, eu acho que é um momento da gente ter isso muito claro, os desafios que são postos e, principalmente, ver com as crianças do terceiro, quarto, quinto ano que são frutos desta pandemia.
Agecom: E como recuperar esse tempo perdido?
Professora Francisca:
Somente com políticas públicas e consistentes. As escolas têm que se organizar e os governantes também. Penso também que devemos aumentar o tempo das crianças nas escolas, montar grupos específicos para que possa atender essa demanda.O professor precisa ter um bom diagnóstico para saber o que fazer com cada grupo e a escola tem que ter esse movimento numa ação mais integrada, mais coletiva. Não dá para o professor com mais de 25 alunos, sozinho, consertar isso. Ele e os estudantes precisam ter uma capacitação extra sala de aula, um apoio pedagógico sobre as dificuldades das crianças.
Agecom: Como o aprendizado pode se beneficiar com a tecnologia?
Professora Francisca:
Olha, não tem como negar que essas crianças são da era digital. A tecnologia veio para ficar. Agora cabe a nós professores, a nós pais, saber como fazer esse uso com as crianças. Aí então é necessário ter um uma visão crítica, um acompanhamento. É uma ferramenta que veio e não temos como negá-la. Hoje qualquer criança já sabe pesquisar no Google. Nós temos que aprender e saber como usufruir da tecnologia em sala de aula, em prol do aprendizado e da escrita.