Uma Universidade Comunitária tem em seus pilares e princípios o desenvolvimento social por meio do Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação. Plural e multiplicadora, ela acolhe a todos sem distinção de tribos, raças, preferências, minorias ou maiorias, seu papel é oportunizar o acesso à educação a todos, como é o caso das dezenas de indígenas catarinenses que estão integrados em cursos e iniciativas voltadas à valorização e preservação da cultura indígena de Santa Catarina.
A presidente da Associação Catarinense das Fundações Educacionais (Acafe), reitora da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Luciane Bisognin Ceretta fala com orgulho do trabalho desenvolvido pelas instituições.
“Como representante de uma Universidade Comunitária e plural como a nossa Unesc me sinto privilegiada em receber um indígena em nosso campus. Da mesma forma, outras instituições que compõem a nossa Acafe, também desempenham belíssimos trabalhos na área da educação que acolhem e promovem essa troca cultural riquíssima entre os acadêmicos. Fazemos questão de prestar o apoio necessário a eles, pois entendemos a dimensão da presença deles e a troca de conhecimento que eles nos proporcionam”, fala.
Fabiano Alves, de 32 anos, formado em Pedagogia, sonhava em fazer mestrado. A vontade começou a se tornar realidade em 2021, justamente durante a pandemia, uma época em que o ensino à distância tomou o lugar do presencial.
O estudante indígena precisou de doses extras de esforço e uma ajuda especial da Universidade para que pudesse seguir firme no propósito de estudos no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da Unesc, no Sul do estado.
Fabiano, que é indígena da Comunidade Guarani Aldeia Tekoá Marangatu, de Imaruí, recebeu a titulação de mestre após a defesa do trabalho “Nhandereko Yvyrupá Py: Modo de Viver Guarani na Terra Indígena Tekoá Marangatu”, que teve como propósito mostrar a cultura, costumes e tradições do seu povo.
“Hoje me sinto realizado por ter alcançado e concluído o tão sonhado mestrado. Quero agradecer a Universidade por abrir as portas para eu poder frequentar e mostrar um pouco do meu conhecimento tradicional Guarani por meio da escrita, da pesquisa e do meu trabalho. Agora o importante é a comemoração desta conclusão do estudo, do mestrado, algo que sonhei desde criança que é poder adquirir o conhecimento. Muito obrigado!”, agradeceu.
Iniciativas em todo o estado
A Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unochapecó), por exemplo, oferece desde 2009 o curso de Licenciatura Intercultural Indígena, que busca integrar os conhecimentos acadêmicos à realidade cultural dos povos indígenas.
O curso tem como principal diferencial a realização das aulas nas Terras Indígenas, facilitando o acesso e permanência dos estudantes. Nele já foram formados muitos professores capacitados para atuar nas escolas indígenas da região, disseminando a cultura para as próximas gerações. Alguns egressos optaram por seguir na vida acadêmica, e já se formaram três mestres, dois estão realizando o mestrado e quatro atuam como docentes nas Licenciaturas Interculturais Indígenas da Unochapecó.
No Vale Europeu, a Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb) também tem um curso inédito em Pedagogia Indígena Xokleng, que busca formar professores indígenas para atuar nas escolas da comunidade Laklãnõ/Xokleng, em Santa Catarina.
Já a Unesc, no Sul do estado, possui o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), que desenvolve projetos e atividades voltados para o estudo e valorização da cultura afro-brasileira e indígena.
“O trabalho da Acafe junto aos povos indígenas de Santa Catarina é permanente, é o ano inteiro, até porque se trata de pesquisa. Tem gente que ainda confunde e diz que aparece somente nas datas comemorativas, mas não. As nossas ações vão para além disso, vale a pena conhecer o trabalho desempenhado pelas Universidades Comunitárias neste segmento ”, finaliza Ceretta.