“Estava em uma crise suicida por falta de tratamento e de medicamento até que um dia minha vida mudou completamente tanto nas dores quanto no meu psicológico. A Unesc é uma mãe que seca a lágrima, cura a ferida, abraça e protege”. Esse relato emotivo e intenso é da moradora de Criciúma, Giselli Cunha que sofre, há 20 anos, com a síndrome da Fibromialgia.
A doença, que atinge principalmente mulheres, provoca dor intensa, cansaço, ansiedade, depressão, problemas cognitivos, entre outros sintomas, e afeta em torno de 2,5% a 5% da população no Brasil, segundo estimativas.
Giselli é uma das pacientes do Ambulatório de Atenção à Pessoa com Fibromialgia da Unesc que fica anexo às Clínicas Integradas e, desde que foi implantado, já atendeu quase cinco mil pessoas até abril deste ano. O modelo deu tão certo que vem inspirando projetos similares não somente no Estado e país, mas internacionalmente. A Itália, por exemplo, já está interessada em conhecer o trabalho que é pioneiro no Brasil, e o município de Indaial, no Norte do Estado de Santa Catarina, está em fase de implantação do programa inspirado na Universidade.
A busca pela referência, conforme a delegada voluntária da região Sul da Associação Nacional de Fibromiálgicos e Doenças Relacionadas (Anfibro), Flávia Mesquita, se dá pelo método no atendimento realizado ao fibromiálgico. “Um dos grandes diferenciais da Unesc está no atendimento multidisciplinar que é o ideal para quem sofre com a Fibromialgia. A Universidade foi pioneira no Brasil e está servindo de molde para muita gente. Portanto, levamos esse exemplo para vários lugares”, relata Flávia, que também é coordenadora do Comitê de Saúde do Grupo de Mulheres do Brasil, Núcleo Joinville.
Flávia Mesquita diz que Unesc é referência:
No atendimento multidisciplinar, a equipe multiprofissional em saúde é composta por profissionais de diferentes áreas que trabalham conjuntamente em prol da saúde e do bem-estar de um paciente ou mesmo de uma família, o que permite a percepção do problema a partir de diferentes olhares, podendo haver um cuidado mais eficaz.
“O tratamento multidisciplinar é importante por ser uma dor generalizada e intensa com influência de vários fatores e que acaba atingindo vários sistemas orgânicos. Aqui cada um trabalha dentro das suas especialidades e em conjunto com os demais profissionais das outras áreas de acordo com a necessidade de cada paciente. Este processo chama-se Projeto Terapêutico Singular (PTS) e faz parte da Política de Humanização proposta pelo Ministério da Saúde”, explica a então gestora das Clínicas Integradas da Universidade, Mágada Tessmann.
Mágada Tessmann enfatiza o grande diferencial no atendimento:
Segundo ela, isso também permite que o atendimento seja mais horizontalizado, sem a supervalorização de uma única disciplina ou profissão, concedendo maior diálogo entre os profissionais e uma assistência mais humanizada. Para isso são envolvidos especialistas, como nutricionista, psiquiatra, profissional da educação física, fisioterapeuta, cirurgião dentista, enfermeiro, dentre outros. “A proposta é que cada um tenha seu projeto terapêutico singular discutido pela equipe e pelo paciente promovendo maior comprometimento dele mesmo e sua família. Com a terapêutica proposta e construída em conjunto, promove em via de regra, uma resposta mais eficiente e até mais rápida, o que é importante para quem sofre”, analisa Mágada.
Essa observação é fundamentada pela paciente que relata que isso faz toda a diferença para o fibromiálgico. “Quando falamos com alguém que entende a gente faz toda a diferença, pois, quando chegamos com dor no corpo e sem dormir, eles sabem exatamente tratar a dor e como levantar nossa autoestima. Todo o carinho faz a diferença na nossa vida, dá esperança, vontade de viver e cria expectativa para uma qualidade de vida melhor”, reforça a paciente Giselli.
Essa diferenciação analisada pelos profissionais é muito importante para a diminuição da dor, de acordo com a fisioterapeuta Kálita Silveira Nunes. “Além da dor da Fibromialgia, outras patologias devem ser analisadas e é nesse momento que temos que saber diferenciar o que é a fibromialgia e o que não é, e até que ponto a dor está sendo, em virtude da síndrome. Precisamos oferecer uma oportunidade para que consiga lidar com a dor no dia a dia e com as suas limitações. Cada paciente tem a sua percepção de dor”, analisa ela que atua juntamente com a colega Luana Teixeira David.
Além das dores intensas, o fibromiálgico precisa lidar com outro problema: o desemprego. Segundo pesquisas, o maior índice de desemprego entre pessoas com doença crônica é de pacientes com fibromialgia atingindo 47,8% da população. “Muitos pensam que não queremos trabalhar, que só reclamamos, que nos isolamos, que não queremos sair com a família. Mas como vamos sair para passear, fazer um serviço da casa ou até ir ao trabalho se a gente tem dor? A gente se ‘arrasta’ para poder viver”, enfatiza Giselli.
Paciente relata o dia a dia e as conquistas:
A dor solitária e a acolhida na Unesc
Márcia Beatriz Santana Gomes é moradora de Concórdia e veio até a Unesc para conhecer os trabalhos do Ambulatório. Durante a visita relatou, emocionada, o seu cotidiano. “O fibromiálgico se sente muito solitário na sua dor porque é uma dor diversa, generalizada e que nem a gente mesmo consegue entender no princípio da doença. Essa integração de troca de informações é muito boa porque nos sentimos acolhidos”.
Márcia também destaca que as referências da Unesc são as melhores possíveis. “Estou maravilhada com tudo o que tem aqui, com uma capacidade de acolher e auxiliar muitas pessoas com essa síndrome que tem crescido muito. Vamos levar ideias para a nossa cidade e, quem sabe, implantar algo parecido em nosso município”, adianta.
Para Andreia Sabino Marques, também visitante, a gratidão é o sentimento predominante ao ver de perto o serviço oferecido na Universidade. “Muitas pessoas estão sendo alimentadas por esse projeto aqui na Unesc. Os atendimentos são maravilhosos e aqui nos sentimos acolhidos. Aqui, na Unesc, fomos ouvidos e somos muito gratas a isso”, reforça Andreia.
Quem também é atendida na Universidade é Jucimere Pereira Bussolo. Ela mora no Bairro Mina do Mato e não perde nenhuma sessão. “Muitas vezes chegamos com muita dor e saímos daqui aliviados. É uma esperança de poder ser ajudada, o que faz diferença na nossa vida e, além disso, encontrar uma pessoa que entende as nossas dores. Foi uma porta aberta para mim. Estou feliz e alegre pela oportunidade. O dia em que temos menos crises de dor é um alívio”, salienta ela, logo após a sessão de fisioterapia aquática.
Fibromiálgica sente alívio após as sessões na Unesc:
O grito de socorro
O Ambulatório de Atenção à Pessoa com Fibromialgia nasceu devido uma grande demanda. Preocupadas com o diagnóstico e tratamento na região, um grupo de mulheres resolveu soltar a voz e ir atrás de seus sonhos. Procuraram a Unesc, os Poderes Legislativo e Executivo e falaram das suas dificuldades.
Sensibilizada com a causa, a Universidade, por meio da reitora Luciane Bisognin Ceretta, tratou da implantação, juntamente da coordenação das clínicas da Universidade. Em setembro de 2020, em plena pandemia, é que o sonho saiu do papel.
Mágada lembra que o início teve envolvimento da equipe do Centro Especializado de Reabilitação (CER) que elaborou protocolos, atualizou as escalas utilizadas, os formulários e iniciou o atendimento até a formação de um grupo oficial de trabalho do Ambulatório. Após início das atividades, a Unesc contratou duas fisioterapeutas para atender especificamente no serviço e teve a inserção da equipe de Residência Multiprofissional composta por enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, cirurgiões dentistas e profissional da educação física inseridos ao grupo.
Para a psicóloga Suzamara Vieira, uma das profissionais que atuou na implantação do programa, devido à complexidade da fibromialgia, o diagnóstico e manejo são desafiadores. Deste modo, é necessário, conforme ela, que sejam realizadas ações que contemplem o atendimento integral pelas equipes multiprofissionais com a abordagem interdisciplinar, sendo, essencial a compreensão do momento vivido pelo paciente e suas interconexões com a saúde mental.
“Os pacientes com fibromialgia, na busca pelo controle da dor, acabam abandonando atividades laborais, sociais, até mesmo seu lazer, sendo que este comportamento de esquiva, pode até mesmo aumentar a novas respostas dolorosas, vindo a retroalimentar um ciclo vicioso, agravando e intensificando a dor, potencializando um “modus operandi” de manutenção do quadro de dor”, pontua.
Dessa forma, segundo ela, o processo de acompanhamento psicológico do paciente deve estar totalmente integrado a um plano terapêutico singular baseado nas demandas daquele indivíduo, em conjunto com a equipe. “Sendo, assim, necessário compreender aspectos relacionados ao significado simbólico da experiência da dor, relações disfuncionais, com conflitos familiares ou interpessoais, vivencias traumáticas, sobrecarga de trabalho, dependência e submissão afetiva, para propiciá-lo a autoconsciência na busca por escolhas assertivas, assegurando autonomia e melhora na qualidade de vida”, acrescenta a psicóloga.
Unesc entende a dimensão e amplia atendimento
O atendimento especializado é realizado por meio do encaminhamento das Unidades de Saúde dos municípios e tem o foco voltado aos casos mais graves da síndrome. Depois do tratamento o paciente recebe alta, mas os casos seguem acompanhados nas próprias Unidades com orientações do Ambulatório.
O presidente da Câmara de Vereadores de Criciúma à época, Tita Belolli, participou das discussões. Hoje, conta com entusiasmo, o trabalho que vem rendendo grandes frutos. “Foi uma parceria do Legislativo com a Unesc, por meio da reitora Luciane Bisognin Ceretta que sempre deu apoio para as causas importantes. Atualmente, o local é referência, o que é muito gratificante, pois oportuniza melhores condições de vida para quem sofre com isso”, comenta.
No início eram atendidas apenas pessoas do município de Criciúma, mas, em setembro de 2021, os serviços foram credenciados junto ao Consórcio Intermunicipal de Saúde da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Cisamrec), que é um sistema de consórcios que permite atendimento aos municípios da região da Amrec e da Associação do Extremo Sul Catarinense (Amesc), totalizando 27 cidades.
“Percebemos a necessidade de ampliar ainda mais o Ambulatório devido ao número de pessoas que recorreram à Universidade. Assim fizemos. A equipe foi reconstituída, ganhando importantes reforços que se somam aos profissionais que aqui estão. Nossa busca é pela excelência. Acreditamos que aqui, na nossa Unesc, estas pessoas têm o mais completo e humano acolhimento disponível para o tratamento desta síndrome”, evidencia a reitora da Universidade, Luciane Bisognin Ceretta.
O projeto, que completará dois anos em setembro, oferece atendimento gratuito a esses pacientes, o que é motivo de muito orgulho para o Diretor Executivo do Consórcio, Roque Salvan. “Contamos com 263 prestadores ativos de serviços de saúde pública credenciados, entre eles a Unesc com o atendimento multiprofissional que tem despertado interesse nacional e é exemplo para outras instituições. São serviços prestados com eficácia”, retrata.
Diretor Executivo do Consórcio enumera o exemplo da Universidade:
O paciente entra em contato via telefone ou via WhatsApp onde solicita a avaliação. No dia da avaliação precisa ter em mãos a declaração médica do diagnóstico e a guia do Cisamrec. O agendamento, realizado de segunda a sexta-feira, das 8 às 19h, é feito pelo telefone (48) 3431 2537.
A abordagem escolhida para o tratamento varia em cada caso e é feita após definição do paciente com os profissionais as melhores formas terapêuticas. “É um grupo de profissionais clínicos que trabalha unidos em prol do diagnóstico, tratamento e recuperação do paciente. Assim, é priorizado um consenso nas decisões de cada intervenção. A meta é que os resultados alcançados sejam os melhores possíveis”, salienta Mágada.
Com foco no melhor resultado as atividades podem englobar terapias complementares, fisioterapia de solo ou aquática, atividades de grupo com profissional da educação física, reposição de nutrientes necessários por meio de avaliação com nutricionista, avaliação odontológica, já que muitos sofrem ainda com bruxismo, avaliações psicológicas para acompanhamento e, ainda, caso haja necessidade, atendimento com a psiquiatria, reumatologia e gastroenterologia.
“Do início da implantação do ambulatório até o momento foram ampliados significativamente o número de atendimentos uma vez que a Residência Multiprofissional é uma grande parceira do Ambulatório e nos possibilita essa ampliação. Temos muita alegria de ter esse programa porque muitas pessoas relatam que, por meio deste trabalho, devolvendo a vida e a vontade de viver a elas porque, de alguma forma, ameniza a dor, seja ela física ou emocional”, enfatiza Mágada. Exames também podem ser feitos diretamente na instituição, dando mais dinamismo e acessibilidade ao tratamento.
Encontrar na Universidade um apoio de tamanha magnitude aos serviços de saúde do Município, para o ex-secretário de Saúde de Criciúma, Acélio Casagrande, é reconfortante. “A Unesc entrou com toda a sua expertise também para o tratamento da dor. Nada pior do que o cidadão sentir dores e dores crônicas. Esse programa trouxe mais qualidade de vida e com essa parceria, que é muito importante, conseguimos alcançar um número maior de atendimentos e não só momentâneo, mas com orientações e qualidade de vida melhor”, ressalta. Uma emenda parlamentar também está sendo discutida para a aquisição de novos equipamentos ao Ambulatório.
Universidade Comunitária
Levar conforto para as pessoas, para a coordenadora dos cursos da área da saúde da Unesc, professora Graziela Amboni, faz parte da missão da Instituição. “Como somos uma Universidade Comunitária, temos todos os recursos arrecadados investidos para ofertar um atendimento cada vez melhor para a população com intuito de dar melhor qualidade de vida para a comunidade. Todo lucro da Universidade se multiplica não só na qualidade do ensino e da pesquisa, mas também na extensão, ou seja, nos serviços voltados à comunidade”, reforçou.
Indaial está em busca de recursos
A cidade de Indaial no Vale do Itajaí já está em busca de recursos para implantar esse modelo no município, conforme aponta o vereador Elton Possamai. “Ficamos encantados com o que visualizamos na Unesc. É um tratamento diferenciado para os pacientes que chegam tão debilitados e precisam de um olhar mais sensibilizado e a equipe multiprofissional que está à disposição para acolher e atender esse paciente é o que faz a diferença no tratamento”, relata o vereador, que esteve recentemente na Universidade para conhecer de perto os serviços.
Vereador de Indaial Elton Possamai diz que a ideia é implantar modelo em sua cidade:
Conforme Possamai, a intenção é ter uma estrutura para atender pacientes que precisam de um olhar diferenciado e que traga mais qualidade de vida à população de Indaial. A cidade possui cerca de 70 mil habitantes e tem grande número de casos registrados. “Temos a intenção de implantar, pois segundo dados coletados, mas não concretos, devemos ter, em nossa cidade, em média de 270 pessoas, mas esse número pode ser quatro vezes maior”, destaca o secretário de Saúde da cidade, Paulo Moschetta.
Para ele, essa visita à Unesc foi muito importante para conseguir a realização de um plano bem elaborado. “Uma Universidade em um município vem para somar o universo de possibilidades. Vamos em busca de parcerias para concretizar o serviço em nossa cidade. Espera-se que dentro de um ano seja implantado”, adianta.
“Esse é um serviço importantíssimo que dá atenção e visibilidade a uma síndrome comum, que afeta muitas pessoas em nossa região e ainda não é conhecida e respeitada como deveria. Para nós, enquanto Unesc, é uma felicidade saber que mais pacientes poderão receber o atendimento especializado e ter suas dores, ao menos, amenizadas. Isso já significa demais para todos nós”, pontua Mágada, responsável por apresentar os detalhes do projeto aos visitantes interessados em replicar a iniciativa em outros municípios.
Programação para o Dia Nacional de Conscientização e Enfrentamento à Fibromialgia
Para marcar o Dia Nacional de Conscientização e Enfrentamento à Fibromialgia lembrado nesta quinta-feira (12/5), a Unesc, por meio da Residência Multiprofissional da Universidade e a Prefeitura Municipal de Criciúma realizará ação na Praça Nereu Ramos, Centro de Criciúma. A atividade, que ocorrerá no sábado (14/5), será das 9h às 12h30 e conta com apoio também da Câmara de Vereadores.
A população que passar pelo local vai poder saber um pouco mais sobre a síndrome e realizar verificação de pressão arterial, teste de glicemia, receber orientações gerais, como exercícios com integrantes do Ambulatório de Atenção à Saúde da Pessoa com Fibromialgia (AMASF), das Clínicas Integradas da Unesc e com Fibromiálgicos, além de obterem informações sobre doenças correlacionadas. Auriculoterapia e aromaterapia também serão realizados na população.
Ainda nesta quinta-feira a equipe do ASMSF estará em Cocal do Sul proferindo uma palestra sobre a fibromialgia, em parceria com a Secretaria de Saúde e Associação dos Portadores de Fibromialgia de Cocal do Sul. Será às 13h30, na sede do Lions Clube, no Centro.