O professor doutor Jānis Bērzinš, pesquisador-sênior do Centro de Pesquisa em Segurança e Estratégia da Academia de Defesa Nacional da Letônia compartilhou com os professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico (PPGDS) da Unesc com uma profunda análise sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. Na Aula Inaugural que ocorreu de forma remota na manhã desta terça-feira (22/03) o palestrante contextualizou o conflito, destacando que trata-se de um evento relacionado à globalização ocidental financeira e como ela afeta as pessoas e influencia na política.
Dentre as questões históricas apontadas pelo professor esteve o modelo atual adotado pela Rússia, que, conforme ele, não é atraente para as repúblicas que já fizeram parte do império Russo e da ex-União Soviética. “O que ocorre é que podemos ter duas versões, mas acredito que seria a aversão ao modelo econômico político e social russo”, disse.
Para ele, outro fator importante é que o modelo ocidental é muito mais atraente fazendo com que outros países não queiram fazer parte da área de interesse da Rússia. “Historicamente a Rússia sempre foi se expandindo. Nesse sentido existe também um conflito de visões desde o século 16 a respeito do papel do país. Ela tem que ser próxima do ocidente ou oriente? Qual a sua identidade enquanto país? Sempre houve uma discussão há séculos e continua existindo”, analisa.
Como exemplo de gastos em guerras, o especialista citou o valor de US$ 8 trilhões no conflito entre Iraque e Afeganistão. “Imaginem usar esses valores em programas de desenvolvimento, oportunizando a paz mundial, segurança e estabilidade mundial”, questiona Bērzinš.
Ele finalizou destacando que a Ucrânia está recebendo ajuda do Ocidente não só com armamento, mas em outras formas de aporte financeiro. Por outro lado, conforme ele, a Rússia não tem capacidade tecnológica para continuar a guerra por mais tempo também.
Desequilíbrio econômico
Os reflexos de uma guerra, conforme o professor, elevam a incerteza ao redor do mundo e geram desequilíbrio entre oferta e demanda. Um dos exemplos é o aumento no preço dos combustíveis. “Acredito que essa guerra vai durar alguns meses ainda e quem sofre é a população, pois já se vê aumento no preço do petróleo e em consequência crescimento inflacionário. Além disso, está se formando uma crise alimentar”, enfatiza Bērzinš, relatando ainda o controle do ocidente em relação a economia mundial e o aprofundamento da divisão mundial.
Para o coordenador do PPGDS, João Henrique Zanelatto, o debate foi relevante. “Estamos enfrentando uma pandemia que ainda não acabou, mas está diminuindo consideravelmente, e já estamos vivenciando um conflito que está longe de nossas fronteiras, mas ao mesmo tempo muito perto pelos impactos socioeconômicos e políticos globais que a guerra está provocando”, fala.
Conforme ele, a conferência do professor Jānis Bērzinš especialista na temática da guerra trouxe outras perspectivas ao abordar esse conflito, pois para além da guerra está em disputas a possibilidade de uma nova ordem mundial. “Disputa geopolítica, econômica financeira que envolve as potências ocidentais lideradas pelos Estados Unidos, Rússia, China”, enumera Zanelatto.
Palestrante
O convidado para o evento virtual desta terça-feira, já palestrou nos Estados Unidos, Suécia, Noruega, Holanda, Cingapura, Bélgica, Brasil, Estônia e Lituânia em várias instituições acadêmicas e de defesa, entre elas a Universidade de Nova York, a Universidade Johns Hopkins, o Centro Europeu George C. Marshall para Estudos de Segurança e a Universidade Sueca de Defesa.
Também assessorou o Comitê Seleto de Defesa da Câmara dos Comuns do Reino Unido, o Parlamento de Cingapura, o governo sueco e o governo polonês. Ele aconselhou o Ministério da Defesa de Cingapura sobre Comunicações Estratégicas e influência, informação e operações psicológicas. Ele também forneceu conhecimentos sobre a doutrina da Rússia para o Departamento de Defesa dos EUA e questões estratégicas da Rússia para o setor privado.
