A Universidade segue atuando no enfrentamento da pandemia de Covid-19 e suas consequências, em várias frentes. Uma delas diz respeito ao projeto de extensão para reabilitar pacientes que tiveram o vírus, realizado por professores e estudantes do curso de Fisioterapia da Unesc, nas Clínicas Integradas. Recentemente, o trabalho feito no Laboratório de Fisioterapia Cardiorrespiratória (Laficre) recebeu um reforço, com a adoção da Escala de Estado Funcional Pós-Covid (PCFS), que avalia as condições funcionais do paciente no seu dia a dia. Essa escala vai de 0 a 4, sendo 0 nenhuma limitação funcional e 4 limitações funcionais graves.
Atualmente o Laficre atende 10 pacientes, sendo seis do sexo masculino e quatro do feminino, com média de idade de 45 anos. Nos encontros, todas as segundas e quintas-feiras à tarde, são aplicados os protocolos de reabilitação cardiorrespiratória, exercícios cardiorrespiratórios e teste de caminhada.
Segundo a professora do curso de Fisioterapia da Unesc e doutora em Neurociências, Évelin Vicente, na avaliação feita a partir da Escala de Estado Funcional, os pacientes ficaram entre a pontuação 3 (limitações funcionais moderadas) e 4 (limitações funcionais graves).
Além disso, foi aplicada uma escala para avaliar o sono das pessoas que realizam a reabilitação na Unesc. Évelin salienta que o sono está relacionado com diversas funções fisiológicas do organismo e por isso a importância da sua avaliação nos pacientes pós-Covid. A Escala de Epworth, que avalia a sonolência diurna, foi aplicada pela equipe do Laficre. A escala vai de 0 a 4, onde o 4 significa alta chance de sonolência. Segundo a professora, os pacientes ficaram entre 3 (moderada chance de sonolência) e 4 (alta chance de sonolência).
Para a professora, as escalas dão um importante norte para o trabalho com os pacientes. “Além da parte cardiorrespiratória, as escalas orientam quanto a coordenação motora e o equilíbrio, com exercícios simples como por exemplo “sentar e levantar”, onde estamos trabalhando, concomitantemente, o sistema músculo esquelético e o cardiorrespiratório. Elas nos fazem investigar também a parte cognitiva, pois se os pacientes não estão apresentando uma boa qualidade do sono, isso pode interferir nesta área”.
O morador de Criciúma, Maxwel do Canto Perfeito, de 68 anos, iniciou recentemente o processo de reabilitação no Laficre e também está sendo avaliado a partir dos parâmetros das escalas. Entre os exercícios e os diálogos com os estudantes de Fisioterapia, ele percebe a importância do processo de reabilitação para ter uma vida o mais próximo do normal possível. Ele foi contaminado pelo vírus e ficou 16 dias internado. Precisou de tratamentos intensivos e foi entubado. Após ter alta hospitalar, iniciou fisioterapia no Centro de Reabilitação Cardiopulmonar do Rio Maina e aguardava vaga no Laboratório de Fisioterapia Cardiorrespiratória da Unesc – devido à demanda de pacientes pós-Covid, foi gerada uma lista de espera pelo atendimento.
Na última semana, Maxwel foi chamado e iniciou a reabilitação nas Clínicas Integradas da Unesc. “Muitas pessoas duvidam quando o tratamento é realizado de maneira gratuita, mas digo que é uma atitude louvável da Universidade. Boa parte dos pacientes não tem condições de contratar os serviços de um profissional e com este serviço comunitário que a Unesc presta, mais pessoas podem ter acesso a um tratamento de qualidade”, enfatiza.
Aprendizado além da sala de aula
Em suas tardes no Laboratório de Fisioterapia Cardiorrespiratória da Unesc, Maxwel é atendido pela estudante da nona fase do curso de Fisioterapia, Luana Manoel Vieira. Bolsista no Laficre há quase três anos, ela afirma ter vivido novas experiências auxiliando pacientes do pós-Covid. “Estamos passando por um período difícil para todos e é muito significativo poder ajudar na reabilitação dos pacientes. Ver a evolução deles é a prova da diferença que a reabilitação faz na vida das pessoas”.
Bons resultados
O professor do curso de Fisioterapia e mestre em Ciências da Saúde, Bruno Búrigo Peruchi, integrante do projeto, explica que os pacientes pós-Covid apresentam sequelas em diversos sistemas, como o cardiorrespiratório, músculo esquelético e nervoso e por isso, diferentes especialidades da fisioterapia se fazem necessárias no processo.
Ele conta que os resultados da reabilitação cardiorrespiratória são visíveis em um espaço de tempo relativamente curto: em geral, os pacientes ficam até dois meses até terem alta. “Tivemos casos de pacientes com longo período de internação em função da Covid-19 que chegaram aqui de cadeira de rodas e saíram andando”, conta.
O professor ainda chama a atenção para o fato de que, como a doença é nova, ainda não é possível saber com certeza quais os problemas de saúde que os pacientes com Covid em nível mais severo irão desenvolver no futuro.
Projeto deve ser ampliado e participar de pesquisa nacional
Desde 2020, o projeto de extensão atendeu mais de 40 pacientes que tiveram a doença e a ideia é ampliar o serviço, para que os atendimentos ocorram diariamente e com isso, mais pessoas possam ser beneficiadas. Segundo o coordenador do projeto de extensão e doutor em Ciências da Saúde, Eduardo Ghisi Victor, o objetivo é fazer um acompanhamento mais longo dos pacientes que foram infectados com o vírus. “Eles têm uma recuperação mais rápida em comparação com os outros pacientes de doenças cardiopulmonares e queremos saber se é só uma impressão ou se realmente a reabilitação é mais rápida. Por isso queremos acompanhar eles por, pelo menos, seis meses a um ano. Quanto tempo leva para estar reabilitado e do que ele precisa serão algumas perguntas que queremos responder”, afirma.
A partir da ampliação do número de pessoas atendidas, o projeto de extensão do Laficre deve passar a integrar o estudo multicêntrico liderado pela Unesc sobre os danos que o vírus Sars-CoV-2 (novo coronavírus) pode causar no organismo de pessoas que desenvolveram a doença.
Os pesquisadores do estudo estão avaliando os pacientes com Covid-19 da internação até 1 ano após a alta hospitalar e verificando não apenas a taxa de mortalidade da doença, mas as possíveis sequelas no campo neurológico e como ela afetou a qualidade de vida dos pacientes.
O projeto “Estudo prospectivo e multicêntrico dos fatores preditivos de mortalidade hospitalar e carga de doença da Síndrome Respiratória Aguda Grave” é liderado pelo professor doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unesc (PPGCS), Felipe Dal Pizzol e tem a participação de instituições de ensino superior, de pesquisa e hospitais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. A pesquisa foi contemplada pelo edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
Atividades alinhadas às necessidades da sociedade
O projeto de reabilitação pulmonar é um dos mais antigos da Unesc, criado em 2000 para atender trabalhadores da mineração com pneumoconiose. Com o passar do tempo, o número de pessoas com a doença diminuiu e o Laficre passou a abrir vagas para pacientes com outras doenças pulmonares. “Com a pandemia veio uma necessidade grande de reinventar o serviço, não o protocolo, porque ele já é muito parecido com o que já fazia para doenças crônicas cardiopulmonares, mas o público alvo. Como a demanda foi grande, nossos pacientes antigos foram reagendados para o atendimento nos horários de estágio do curso de Fisioterapia e deixamos o projeto de extensão em reabilitação cardiorrespiratória para atender exclusivamente pacientes do pós-Covid”, revela Ghisi.
O Serviço de Fisioterapia das Clínicas Integradas da Unesc é realizado de forma gratuita à comunidade. Para saber mais sobre o projeto e como participar basta entrar em contato com o Serviço pelo telefone (48) 3431-2654.