A saúde pública é um campo repleto de desafios, mas também de oportunidades para inovação e transformação. Os estudantes do Mestrado Profissional em Saúde Coletiva da Unesc demonstraram isso ao participar da segunda edição da disciplina de Inovação e Desenvolvimento de Produtos em Saúde Coletiva. Concluída na sexta-feira (4/10), a edição tem como foco a criação de soluções para combater a baixa adesão à vacinação.
Ao identificar a situação-problema, os mestrandos, mergulharam nos desafios enfrentados pela Secretaria Municipal de Saúde de Criciúma e pela Vigilância em Saúde no que se refere à vacinação, e desenvolveram propostas viáveis. No total, foram elaboradas quatro soluções que abordaram diversas questões, desde a certificação de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) até a utilização de Inteligência Artificial (IA).
“Atingir as metas de vacinação tem sido um desafio não só para Criciúma, mas em diversas regiões. A baixa adesão compromete a saúde individual e coloca em risco a saúde coletiva, uma vez que doenças anteriormente erradicadas podem reaparecer, como é o caso da poliomielite”, enfatizou a gerente de Instrumentos de Gestão e Projetos, Fernanda Mattioli, que representou a secretária Municipal de Saúde de Criciúma.
Ela expressou ainda a surpresa com as propostas apresentadas, que exploraram desde o uso de tecnologia leve e de ponta, como a Inteligência Artificial. “Todos os trabalhos são viáveis e essenciais para enfrentar a baixa cobertura vacinal. A saúde pública me fascina porque permite usar a criatividade e o conhecimento para mudar ou melhorar a vida das pessoas, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade. Fiquei impressionada com a diversidade de profissionais colaborativos”, acrescentou.
Soluções inovadoras
A disciplina de Inovação e Desenvolvimento de Produtos em Saúde Coletiva tem o foco na promoção da criação de soluções inovadoras na área, sempre alinhadas à ética e à responsabilidade social. Os estudantes trabalham com situações-problema reais e utilizam o método de Design Thinking, que abrange as etapas de empatia, definição, ideação e prototipagem.
Para a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSCol), Lisiane Tuon, a colaboração da Secretaria Municipal de Saúde é fundamental nesse processo educacional. “É por meio desse contato que se define a situação-problema a ser trabalhada. Além disso, as visitas da equipe da secretaria aprofundam o entendimento do tema e validam as propostas desenvolvidas pelos mestrandos”, avaliou.
A fiscal da Vigilância, Andréia Bertoncini Pereira, elogiou a iniciativa e disse que, para ela, a aula e as sugestões foram excelentes. “É muito bom ouvir ideias de diferentes contextos. Nós apresentamos nossa realidade, e eles a interpretam de forma clara, resultando em trabalhos variados e impressionantes. Não consigo apontar a melhor proposta, pois todas foram de alta qualidade”, comentou.
Propostas inovadoras
Nesta edição, foram apresentadas quatro propostas, todas voltadas para aumentar a adesão à vacinação. Embora compartilhem o mesmo público-alvo, as abordagens adotadas pelas equipes variaram. Para entender os motivos por trás da resistência à vacinação, foram realizadas pesquisas de opinião com a comunidade e profissionais de saúde, que serviram como base para o desenvolvimento das soluções.
De acordo com Liziane, a primeira proposta foi o aplicativo “ImuniDigital”, que permite aos usuários inserir dados como sexo e idade para verificar quais vacinas precisam tomar. A implementação requer a aquisição do aplicativo e a disponibilização ao público. O principal impacto esperado é o esclarecimento sobre o calendário vacinal, que ajuda a evitar atrasos nas imunizações.
A segunda proposta aproveita recursos já disponíveis na Secretaria Municipal de Saúde. Por meio da plataforma Botmakerã, seria possível divulgar o calendário vacinal e informar sobre vacinas disponíveis, locais de vacinação, campanhas e as consequências da não vacinação. A equipe criou um material focado no combate à poliomielite, já que a taxa de vacinação em Santa Catarina está abaixo da meta de 95% desde 2018, variando de 83,8% em 2021 a 94,6% em 2018. O material inclui um vídeo sobre a poliomielite para incentivar a vacinação.
A terceira proposta envolve uma tecnologia leve: o “Programa de Certificação em Educação na Saúde para Gestantes e Puérperas”. A ideia é utilizar os protocolos já estabelecidos no atendimento pré-natal para orientar gestantes e familiares sobre a importância da vacinação. Além disso, a certificação seria estendida aos hospitais, que garante que todas as famílias de recém-nascidos recebam as informações adequadas. O objetivo é reduzir a hesitação vacinal, e promover a corresponsabilidade no cuidado do bebê.
A quarta proposta é o “VacinaAI”, um agente virtual de comunicação que utiliza inteligência artificial para responder a dúvidas sobre a vacinação de maneira clara e acessível. A equipe forneceu informações confiáveis para que o agente pudesse combater fake news e esclarecer a população sobre vacinas.
Gratidão pelo aprendizado
O encerramento da disciplina foi marcado pela apresentação das propostas desenvolvidas pelos mestrandos, e reuniu stakeholders da Secretaria de Saúde de Criciúma, essenciais para a tomada de decisões na gestão dos serviços de saúde, além de professores do Mestrado Profissional em Saúde Coletiva.
A professora doutora Susana Confortin enfatizou a importância da disciplina de Inovação e Desenvolvimento de Produtos em Saúde Coletiva do PPGSCol, que tem se mostrado fundamental ao abordar desafios práticos, como a baixa adesão às vacinas, identificada pela secretaria. “Durante esse processo, os estudantes tiveram a oportunidade de transformar conhecimento teórico em soluções inovadoras, e conectar de maneira prática a academia com as necessidades reais da comunidade local”, expressou.
“É gratificante observar tantos produtos criativos com grande potencial de impacto na saúde pública do município. Como professora do PPGSCol, é uma honra acompanhar o desenvolvimento de propostas que podem efetivamente transformar a sociedade de maneira concreta e significativa”, completou.
A mestranda Aline Cristina compartilhou a experiência na disciplina. “Sou biomédica, mas com pouca experiência prática na área da saúde pública. Com a disciplina, troquei experiências com colegas mais experientes e identificar as necessidades reais do serviço, o que nos permitiu desenvolver soluções de forma eficiente, criativa e inovadora. Trabalhar em grupo estimulou minha criatividade, e o produto que mais me orgulha é o vídeo de incentivo à vacinação contra a poliomielite”, enfatizou.
A professora Cristiane Damiani Tomasi, responsável pela coordenação da disciplina, celebrou o encerramento e citou que, ao vivenciarem essa experiência, os mestrandos se aproximam de problemas reais e praticam o exercício de criar soluções viáveis que podem ser aplicadas nas realidades locais. “A colaboração do serviço de saúde é imprescindível, pois traz para a sala de aula questões reais e possibilita levar soluções com viabilidade de aplicação para o local de prática”, comentou.
A partir de agora, os passos para a próxima edição da disciplina, programada para 2025, serão estabelecidos, e trarão um novo tema também apontado pelos serviços de saúde.