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SOS Rio Grande do Sul: as várias faces da solidariedade

Catarinenses se uniram ao movimento em prol do estado vizinho, e campanha iniciada pela Unesc ajudou milhares de famílias gaúchas durante as enchentes. (Fotos: Agecom/Unesc)

Pedro Pieri

Solidariedade. Talvez esta tenha sido a palavra mais escutada por muitos brasileiros desde de Maio deste ano. A tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul mobilizou o país inteiro.  As imagens, os relatos e as dificuldades que o povo gaúcho enfrentou durante as cheias causaram uma comoção nacional. Para Santa Catarina, foi um pouco diferente, e ainda mais intenso: a proximidade entre os dois estados fez a população catarinense sentir junto o drama, e a partir daí, buscar formas de ajudar.

Nesse momento, a palavra solidariedade deixou de ser somente dita e ouvida, e se transformou em ação. Milhares de  pessoas buscaram  maneiras de colocá-la em prática, e muitos catarinenses saíram de casa, atravessaram o limite entre os estados e se doaram por uma causa maior.

O empresário Daniel Graci foi uma dessas pessoas. Ele não se acomodou diante do cenário arrebatador, e encontrou uma forma direta de ajudar. Com um grupo de amigos e familiares, se deslocou até o Rio Grande do Sul e ajudou na montagem de marmitas para desabrigados e voluntários. “Nós temos amigos lá, a família de um cliente meu foi muito afetada, conversando com o meu sócio a gente viu que podia fazer mais. Arrecadamos dinheiro e fomos para a cidade de Viamão, na grande Porto Alegre, nos deparamos com um cenário muito triste, mas ao mesmo tempo foi gratificante ver as pessoas se solidarizando e pegando junto”, detalha.

Com a voz embargada, Daniel, que há pouco mais de um ano se tornou pai, relembra um dos momentos mais marcantes que viveu em solo gaúcho. Quando foi separar donativos e teve contato com sapatos infantis, doados às crianças vítimas das cheias, o coração apertou. “Nesse momento eu lembrei da minha filha, em casa, no conforto, enquanto ali as crianças mal tinham onde dormir e o que comer, nessa hora a gente desaba”, conta.

Várias empresas e instituições também aderiram à causa, e movimentaram uma multidão de pessoas para ajudar o Rio Grande do Sul. Um grande exemplo disso foi a Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), que mobilizou professores, colaboradores, estudantes e voluntários para  ajudar na coleta e separação de doações que chegavam na Universidade. O movimento reuniu todos que de alguma forma se solidarizaram com o estado vizinho, mais de duzentas pessoas procuraram a universidade para prestarem serviço voluntário, e de alguma forma, mostrar sua compaixão com as vítimas.

A campanha foi coordenada por Pedro Hilario e Tatiane Macarini, professores da Unesc e assessores da reitoria. “A ideia do SOS Rio Grande do Sul partiu da nossa Reitora, Luciane Ceretta, que também é presidente da ACAFE (Associação Catarinense das Fundações Educacionais). Ela rapidamente colocou o time da UNESC à disposição tanto para a arrecadação de donativos, quanto também posteriormente às ações humanitárias. Naquela primeira semana já começaram as mobilizações para que a gente pudesse iniciar a nossa campanha” contou Tatiane.

Na época, a reitora comentou em entrevista para a Agência de Comunicação Unesc que essa ação representava não apenas um gesto de ajuda material, mas também um símbolo de esperança e união em tempos difíceis.

A campanha iniciou com arrecadação de donativos, equipes de voluntários se reuniram em supermercados parceiros da universidade, que também contou com a ajuda de transportadoras da região, que levavam esses itens  até a triagem, no ginásio da universidade. Houve muito cuidado com a separação dos materiais doados, desde a higienização até a identificação, contando também com as cartinhas, colocadas entre os donativos, com mensagens especiais para acalentar aquelas que mais necessitavam de palavras de afeto, esperança e acolhimento.

Louyse Damazio foi uma das voluntárias. Professora do curso de Nutrição da Unesc, ela é natural do Rio Grande do Sul e tem familiares morando em cidades atingidas. A professora liderou grupos de arrecadações em supermercados parceiros da campanha. “Ser voluntária no SOS Rio Grande do Sul foi uma decisão que veio naturalmente. Como gaúcha, assistir ao meu estado natal, com o povo em sofrimento e lugares históricos, sendo devastado pelas águas, despertou um senso de urgência. Ver essa tragédia de perto uniu não só a mim, mas também a muitas outras pessoas. Diante de uma situação tão crítica, a única resposta possível foi unir forças e participar de iniciativas como essa, que buscavam oferecer apoio da forma mais eficaz possível. Ser voluntária nesse momento foi, acima de tudo, uma maneira de retribuir ao estado, estendendo a mão àqueles que precisavam de auxílio imediato”.

 

Atendimento multiprofissional pós-tragédia

 

Nas semanas seguintes, uma equipe multiprofissional da UNESC, liderada por Tatiane, visitou instituições no Rio Grande do Sul para identificar as reais necessidades e de que forma a universidade poderia contribuir de forma humanitária. Nesse momento a campanha foi além dos donativos, o atendimento chegou às questões emocionais, naquele momento as pessoas estavam perdendo as suas moradias, seus familiares e a sua dignidade.

A assistente social Tamara Bellettini Munari participou da equipe multiprofissional: “Foi muito impactante e emocionante, uma experiência única. o que vimos pela mídia o que estava se passando no Rio Grande do Sul não se compara com a vivência e contato in loco com aquelas pessoas. Um misto de sentimento de tristeza, impotência e força de vontade de querer ajudar mais e mais”.

A profissional prestou atendimento sócio assistencial, orientando as vítimas sobre os seus direitos, encaminhamentos para serviços da rede de atenção à saúde e da rede socioassistencial.

“Nesse momento as famílias perderam tudo. Quando falamos que perderam tudo, automaticamente em nossas mentes já pensamos em casa, roupas, móveis, mas não podemos esquecer de documentos, receitas médicas, carteira de saúde e vacinação, laudos médicos. As pessoas precisam de orientação para saber por onde começar, quem procurar, em um estado onde os serviços de saúde, de assistência social, bancos, entre outros também foram afetados”, completou Tamara.

Várias ações humanitárias foram executadas pelas equipes, todas elas muito impactantes. Tatiane compartilhou uma de suas visitas mais chocantes: “Foi um dos abrigos que atende somente famílias atípicas em Cachoeirinha. Uma casa que foi reorganizada por duas mães de crianças e adolescentes com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Oito famílias com crianças atípicas e outros tipos de deficiências, mas todas elas com TEA” contou a profissional, que coordenou uma equipe multiprofissional com médicos, neurologista, médico de família, assistente social, psicólogo, fonoaudióloga para identificar as situações de saúde dos abrigados daquele local.

No início do mês de junho, a Universidade adotou uma nova estratégia para arrecadação e uso de doações via Pix. O método permitiu aos coordenadores a utilizarem os recursos de forma mais eficiente, atendendo de maneira precisa às necessidades específicas de cada comunidade. No total, foram mais de mil toneladas de donativos e cerca de dezoito ações humanitárias in loco. Ações e doações que fizeram a diferença, acolheram os que mais precisaram e mostraram o lado solidário de cada um que se dispôs a fazer o bem, a ajudar o próximo.

Balanço da campanha

Além da Unesc, outras 13 instituições que fazem parte da Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE) também aderiram à campanha, no início de maio, somando 14 pontos de arrecadação em todo o Estado. Dez dias depois do lançamento, somente de Criciúma partiram 300 toneladas de donativos, segundo a coordenação da campanha. Os números finais do SOS Rio Grande do Sul não foram divulgados pela Associação.

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