Débora Pavanate
Nos últimos anos, Santa Catarina tem se destacado como um dos principais pólos de tecnologia no Brasil, impulsionado por um ecossistema que combina empreendedorismo, educação e investimentos estratégicos. Cidades como Florianópolis, Joinville e Blumenau têm se destacado como centros de inovação, e atraem tanto startups promissoras, quanto grandes empresas consolidadas no setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
De acordo com a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), Santa Catarina projeta a criação de mais de 100 mil novos empregos até 2025 no setor de TIC. Esse crescimento reflete a capacidade de inovação das empresas locais, e traz à tona um desafio, que é a necessidade por profissionais qualificados em áreas como desenvolvimento de software, análise de dados, segurança cibernética e gestão de projetos.
A pandemia da COVID-19 desempenhou um papel catalisador nesse cenário, acelerou a transformação digital em várias indústrias e aumentou a necessidade por soluções tecnológicas. Empresas adaptaram-se rapidamente ao novo ambiente, impulsionando a demanda por serviços digitais, telemedicina e soluções de trabalho remoto, o que, por sua vez, estimulou a expansão de startups, e a contratação de profissionais de TI em todo o estado.
A professora e mestre em Ciência da Computação, Ana Claudia Garcia Barbosa, leciona na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) desde o ano 2000. Atualmente, ela coordena os cursos de Tecnologia a Distância da instituição, e observa que a região Sul do estado viu um crescimento significativo em startups e vagas de emprego na área de TI durante a pandemia.
“Com a pandemia, abriram mais vagas porque se percebeu a necessidade do uso da tecnologia. A telemedicina virou uma realidade, e muitas empresas adotaram o home office, o que permitiu o crescimento de startups e a contratação de muitos profissionais de TI”, comenta a professora.
De olho no mercado em ascensão, o Governo do Estado criou em 2022 a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação. A pasta foi idealizada para fomentar esse setor, que é um dos que mais cresce e hoje representa 6% do PIB de Santa Catarina.
Marcelo Fett, titular da secretaria, ressalta a importância desse crescimento para a economia catarinense. “Temos um dos maiores polos promissores voltados ao setor de tecnologia e inovação, e com a chegada da Inteligência Artificial, as oportunidades seguem acompanhando as tendências. O investimento do Governo do Estado nesse mercado também segue em crescente. Cada vez mais é preciso investir em tecnologias e ferramentas facilitadoras de processos, e isso demanda profissionais qualificados “, observa o secretário.
Apesar das oportunidades, a formação de novos profissionais ainda é um desafio. “Os alunos muitas vezes começam a trabalhar antes de terminar o curso. Quem quer trabalhar encontra vagas, mas é preciso gostar da área e estudar sempre, inclusive fora do conteúdo das aulas”, aconselha a professora Ana Claudia.
Mão de obra é desafio para o setor
Dados do “Panorama de talentos em tecnologia”, levantamento realizado pelo Google for Startups em 2023, revelam que o Brasil está enfrentando um desafio significativo na área de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). O motivo é o desequilíbrio entre a formação de novos profissionais e a demanda do mercado. Entre 2021 e 2025, o país formará cerca de 53 mil profissionais anualmente, segundo o levantamento. Porém, a demanda projetada para esse período é de 800 mil novos talentos.
Com essa projeção, o país deve enfrentar um déficit de mais de 530 mil profissionais ao longo de quatro anos. Esse panorama destaca a necessidade urgente de aumentar a capacidade de formação para atender às exigências do mercado e sustentar o crescimento da indústria de TIC.
A realidade dos números se reflete também na região Sul do Estado. Aldo Garcia, empresário e proprietário da Betha Sistemas, destaca a urgência e a complexidade dos desafios enfrentados pelos profissionais de TI. Ele comanda uma empresa com quase 40 anos de mercado, que atende mais de 800 municípios em todo o país.
“Não é uma exclusividade da região ou da cidade de Criciúma. É uma realidade mundial. Há anos enfrentamos um déficit de profissionais de tecnologia frente às vagas abertas. Muitos dos nossos estagiários já estão altamente qualificados para programação no segundo ou terceiro semestre da faculdade. A área de tecnologia é crucial, envolvendo desde a segurança de dados sensíveis até a gestão de transações financeiras significativas. Um código mal feito ou uma falha de segurança podem resultar em vulnerabilidades sérias nos sistemas.”
Ele também destaca a responsabilidade envolvida na área: “É um trabalho de alto risco, pois muitos sistemas operam em tempo real. A demanda por especialistas em arquitetura de software continua alta, refletindo a importância estratégica dessa carreira no mercado atual.”
O Papel do CRIO no Avanço Tecnológico
Em abril deste ano, Criciúma passou a integrar a Rede Catarinense de Centros de Inovação, com a inauguração do Centro de Inovação Criciúma (CRIO). Ao todo, Santa Catarina conta com 15 centros de Inovação Tecnológica, que promovem e dão suporte ao empreendedorismo inovador.
O CRIO é considerado um marco para o desenvolvimento regional e a promoção da inovação, oferece infraestrutura para empresas, startups e empreendedores e reforça a conexão entre os setores público e privado.
“Do ponto de vista do desenvolvimento socioeconômico da nossa região, o Centro de Inovação oportuniza a geração de emprego e renda, movimentando a economia e as conexões da nossa cidade e do Sul do estado com outras regiões”, destaca a reitora da Unesc, Luciane Bisognin Ceretta.
O CRIO já está em atividade e promovendo diversos eventos, como forma de contribuir para a criação de um ambiente ainda mais vibrante para o setor de tecnologia em Santa Catarina. Com a expansão do ecossistema de inovação, o Estado se prepara para contribuir com o avanço tecnológico no Brasil, com investimento em educação e formação de mão de obra para a indústria.