A principal voz do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Medeiros Carvalho, apresentou na noite de terça-feira (8/05), no Auditório Ruy Hulse, na Unesc a palestra com o tema: “Racismo no futebol, além das quatro linhas”. O convidado é estudioso da questão étnico racial e tem como formação no curso “Cidadania e Reconstrução da Identidade Étnico-Racial”, da Universidade Livre, do Centro Ecumênico da Cultura Negra (Cecune).
A atividade faz parte da 17ª edição do Maio Negro, que neste ano tem em sua temática a “Engehosidades Afro-Brasileiras para a Reconstrução do Brasil”. O projeto é organizado pela Unesc por meio da Pró-reitoria de Pós-Graduação, Inovação, Pesquisa e Extensão (Propiex), Secretaria de Diversidade e Políticas de Ações Afirmativas e Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi).
Representando a reitora Luciane Bisognin Ceretta, a pró-reitora de Ensino, Graziela Amboni, destacou a importância da discussão do assunto dentro de uma Universidade Comunitária. “Hoje estamos vivendo mais um momento histórico aqui na nossa Universidade, com essa palestra que tem o propósito de desmistificar as crenças que vivem dentro das pessoas do que é o racismo e o quanto isso faz mal a todos nós. O papel da Unesc é estar junto em todas as grandes causas em prol da humanidade”, avaliou.
“O futebol é uma paixão que mexe com as nossas emoções e trazer o Marcelo, que é uma autoridade nesse assunto para dialogar com os nossos acadêmicos, é muito gratificante. Essa questão da irreverência, de coragem, que a nossa Unesc tem, faz com que ela esteja sempre à frente dos temas”, destacou a coordenadora da Secretaria, Janaína Damásio Vitório.
Conforme ela, abordar o racismo pelo viés do futebol é uma excelente oportunidade para demonstrar o fato de o assunto estar intrínseco em várias situações do cotidiano. “Acreditamos que o racismo é atitudinal, está presente em como você chama uma pessoa, como trata, nesses pequenos momentos. Ele está lá no futebol, na escola, no local de trabalho, no processo seletivo. Esta, portanto, é uma oportunidade de refletir sobre os locais onde eles acontecem”, explicou
O palestrante Marcelo Carvalho é graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs), onde também cursou o MBA em Gestão Empresarial. Antes da sua explanação, ele atendeu a imprensa da Unesc para uma entrevista.
Confira na íntegra:
Agecom: Qual a mensagem que você traz sobre o racismo no futebol?
Marcelo: A mensagem é de começarmos a pensar sobre educação e conscientização racial através do futebol. O Observatório da Discriminação Racial no Futebol é um projeto que nasceu com o objetivo de monitorar e acompanhar os casos de racismo, mas jamais uma pretensão de acabar com o racismo no futebol. A ideia é usar essa janela imensa que o esporte tem para falarmos de racismo com a sociedade. Existe uma parcela que não é negra que pouco discute o assunto. Mas quando acontece um caso no futebol, elas param para ouvir e entender o que está acontecendo. Então, conseguimos, através do futebol, mobilizar uma parcela grande da sociedade para discutir essa questão.
Agecom: Por que usar o futebol como instrumento de igualdade?
Marcelo: O futebol até ontem era um dos poucos caminhos de ascensão social dos nergros. Se olharmos para 20 anos atrás, os homens negros olhavam para o futebol e para a música como os únicos espaços de possibilidade de ascensão social. E o esporte nos coloca neste lugar, nos colocou neste lugar. O futebol no Brasil influencia mais a sociedade do que em outros lugares.
Agecom: Existe racismo entre os negros?
Marcelo: Racismo não! Existe a reprodução de falas racistas. Afinal, racismo é um sistema de opressão; negros não tem poder para serem racista. Mas negros reproduzem discurso racistas. Pois, estamos em uma sociedade extremamente racista, que muitas vezes repete o discurso racista. E as pessoas negras não estão isentas de discutir, de repetir um discurso racista. Por exemplo: o Edilson Capetinha, ex-jogador, em determinada programa esportivo, disse que não contrataria goleiro negro. Porque goleiro negro falha e goleiro negro dá azar. Ou seja, ele está repetindo uma fala racista que ele ouviu em algum outro lugar.
Agecom: É correto tratar por “negro” ou “preto”?
Marcelo: Temos dois pontos aqui para discutir. Nós somos negros e a questão do preto veio muito mais por conta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que classifica as pessoas como brancas, pretas ou pardas. Na verdade, os dois estão corretos. Aí vai depender da região do Brasil onde existem alguns movimentos que lutam para o uso do termo negro e em outros lugares querem serem chamados de preto.
Agecom: Pelé, o rei do futebol, é negro. Qual sua importância?
Marcelo: Precisamos lembrar que o rei do do futebol é negro e sofreu toda essa violência racial. Nós muitas vezes discutimos a sua omissão sobre o racismo, dizendo que ele nunca tinha se manifestado, o que é um erro que estamos conseguindo reparar agora, infelizmente, depois da morte dele.
parabéns à unesc e responsáveis por fazer acontecer o MAIO NEGRO, que ação nunca se acabe show.