O Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGScol) da Unesc proporcionou um importante debate com trabalhadores de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da região carbonífera. O evento, que ocorreu nesta sexta-feira (2/12), na Universidade, é parte da pesquisa em andamento, intitulada “Serviços de Saúde Mental: o fortalecimento das estratégias de protagonismo de usuários e familiares para efetivação do cuidado em liberdade”, coordenado pela professora doutora Fabiane Ferraz.
Segundo Fabiane, um tema de fundamental importância e alinhado aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Reforma Psiquiátrica Brasileira, pois busca a produção de conhecimentos de forma colaborativa junto a rede de saúde mental da região carbonífera com importante apoio e articulação da Câmara Técnica da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).
“Este projeto estrutura-se em três momentos. No momento I foi realizado o levantamento do perfil sociodemográfico dos usuários dos CAPS da região carbonífera. O resultado fará parte de uma dissertação do mestrando João André Rodrigues, o qual associará um produto na linha de pesquisa da Educação e Gestão do Trabalho em Saúde”, disse.
O evento, de acordo com ela, configura uma parte do momento II da pesquisa, a qual prevê a participação dos trabalhadores dos CAPS, que foram convidados a participar de um momento de coleta de dados por meio de entrevista grupal, proporcionando o reconhecimento das ações realizadas nos CAPS da região.
Concomitante, de acordo com ela, já está ocorrendo o momento III junto ao município de Criciúma, que seguirá sendo implementado, e envolvendo trabalhadores, usuários e familiares. “Nossa intenção é expandir esse movimento para os demais municípios da região carbonífera”, comentou Dipaula Minotto, egressa do PPGSCol e integrante da equipe do projeto.
Ela mencionou ainda que, com os avanços promovidos pela reforma psiquiátrica, os territórios e os espaços diversos de vida, convocam a produção de novas práticas de cuidado, a partir da lógica de clínica ampliada que nos CAPS, implica a promoção da autonomia.
“A proposta dessa natureza busca contribuir para o fortalecimento da rede de atenção psicossocial, por meio de movimentos de educação permanente em saúde”, acrescentou a coordenadora do projeto.
Participação
O projeto conta com a participação de residentes do programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, e de estudantes de graduação dos cursos de Enfermagem e Psicologia. Esta parceria, tem como produções, o Trabalho de Conclusão de Residência da psicóloga Residente Letícia Kammer – vinculada a etapa II, e do estágio curricular de Psicologia Social da acadêmica Isadora de Oliveira Martinhago nas etapas II e III, dentre outras participações.
Para a coordenadora do PPGSCol, professora doutora Cristiane Tomasi, a ampliação e debates em torno do tema é fundamental para a busca de novas perspectivas de atendimento e alinhamento de pesquisas que visem promover mudanças nos processos de trabalho, ou seja, de fato pesquisas aplicadas à prática, sendo esse um dos objetivos de mestrados profissionais. Ao comentar o protagonismo dos usuários ela expressou que “os trabalhadores trazem uma visão que nos ajudam, enquanto profissionais, fazermos um realinhamento e repensarmos a nossa prática. E essa é a proposta do projeto. Temos vários pontos para refletirmos em conjunto, e isso incluiu a integração ensino-serviço expressa nesse projeto”, enfatizou.
A psicóloga do CAPS AD Criciúma, Mirian Daros Ducioni, estava representando os coordenadores da Câmara Técnica da RAPS, Felipe Pedroso e Ana Losso, e destacou a luta diária para a diminuição de internações e do envolvimento de todos os profissionais e dos usuários. “Esses debates são importantes para o fortalecimento dos serviços, além de discutir a oferta de maior cuidado com as pessoas e não apenas para as pessoas, sempre visando a melhor qualidade”, disse.
Associação
A Associação de Usuários, Familiares e Profissionais da Saúde Mental da cidade de Criciúma, foi estruturada há muitos anos, porém estava desativada. Em janeiro de 2022 foi reestruturada e desde então têm participado ativamente de debates acerca do tema em diversas cidades da região e fora do estado. Foi o que contou o atual presidente Vandercarlos Cardoso. “A prática para trabalhar com a saúde mental, na maioria das vezes, requer tempo e diálogo, e busca de experiências. Aqui, na Unesc, temos muito este apoio, sendo que a equipe do projeto está nos possibilitando assumir esse protagonismo, nos apoiando e incentivando nossas ações”, sublinhou Cardoso.
A tarde iniciou com o lançamento do livro “O primeiro remédio somos nós: assistentes sociais e familiares no cuidado em saúde mental nos CAPs”, das autoras Priscila Schacht Cardoso e Fabiane Ferraz, sendo que essa obra é um dos produtos da dissertação da egressa do mestrado profissional a assistente social Priscila Cardoso.
Para Fabiane, “este evento também marca o retorno ético e social aos participantes do estudo da Priscila, pois estamos entregando essa obra aos CAPS que tiveram profissionais participando do estudo, bem como esperamos que seja consumida e faça sentido a diferentes serviços”, acrescentou.
O encerramento contou com a webconferência com o professor doutor Eduardo Mourão Vasconcelos, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele abordou a temática “Desafios atuais para a clínica interprofissional em CAPs: o papel dos trabalhadores no fortalecimento do protagonismo das pessoas usuárias e familiares”, sendo que essa webconferência ficará à disposição para acesso no canal do Youtube do PPGSCol. “Esperamos que os sérvios utilizem essa palestra do professor Eduardo para promover ações de educação permanente em saúde junto aos trabalhadores”, sublinhou Dipaula.
O projeto foi aprovado no edital 16/2020, do Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), da Fundação de Amparo e Pesquisa de Santa Catarina (Fapesc).