Para uma melhor experiência neste site, utilize um navegador mais moderno. Clique nas opções abaixo para ir à página de download
Indicamos essas 4 opções:

Ok, estou ciente e quero continuar usando um navegador inferior.
Geral

Proteção marinha e impactos da atividade petrolífera
em debate no Ciclo de Palestras

Ações do Projeto de Monitoramento de Praias no Sul de SC inspiram estudantes na Semana de Ciência e Tecnologia. (Fotos: Ana Paula Bazi/Agecom/Unesc)

O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP/BS) é uma iniciativa que surgiu em 2011 e ficou conhecida por resgatar e salvar animais marinhos na costa litorânea do Sul e Sudeste brasileiro. Nesta quarta-feira (26/10), estudantes e professores que participam da Semana de Ciência e Tecnologia (SCT), da Unesc tiveram a oportunidade de entender a dimensão do trabalho desenvolvido no Trecho 01, entre Laguna e Imbituba, por meio do relato inspirador do biólogo, professor e pesquisador, Pedro Volkmer de Castilho.

Na palestra, que integra a programação do Ciclo de Palestras do Museu de Zoologia, evento paralelo da SCT, Castilho apresentou dados, falou sobre a evolução do projeto do qual faz parte desde a implantação e sobre os expressivos resultados que transformaram a iniciativa em um exemplo. 

Com uma abrangência de mais de 1,5 mil quilômetros de costa brasileira, é um dos PMPs com a maior extensão do mundo, com grande frequência e amostragem, inclusive se comparadas a projetos com mais de 60 anos feitos nos Estados Unidos. No ano passado, os dados coletados pelo PMP/BS foram reunidos em uma plataforma e estão abertos para consulta pública. “Vocês podem acessar para o que vocês quiserem. Para o seu TCC, para o seu mestrado ou doutorado. Ele é público”, ressalta. 

Há sete anos, desde a estruturação e início do monitoramento no Trecho 01, já foram coletados um total de 9,6 mil animais. De acordo com Castilho, não há intervalo com mais de cinco metros nessa extensão sem registro de ocorrências. “No início era um trabalho bastante solitário, apenas eu e uma caminhonete. Mesmo fazendo ciência de baixo custo, a minha maior preocupação era fazer um trabalho sistematizado e padronizado”, conta. 

As fichas de medidas e o detalhamento das coletas desde o começo foram fundamentais para o reconhecimento das espécies, registros de incidência, hábitos e como fonte para os mais diversos estudos. “O pinguim, por exemplo, com três medidas, do bico, da altura e da pata, eu já consigo saber se é macho ou fêmea”, explica.

A geração e cruzamento de dados também têm indicado os hábitos migratórios e a ocorrência de uma temporada invernal, que ocorre nos meses de agosto, setembro e outubro, em que há o aumento na mortalidade de animais. E de acordo com o pesquisador, a incidência de morte tem sido maior entre bichos jovens, que nem alcançaram o período reprodutivo e em geral estão em primeira migração.

A importância do PMP para o licenciamento da atividade petrolífera

A descoberta do pré-sal na Bacia de Santos, em 2009, gerou expectativa sobre a exploração do petróleo, mas também despertou a atenção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Diante do desastre ocorrido na Bacia do Golfo do México, à época, o Ibama colocou como condicionante para o licenciamento ambiental da Petrobrás na Bacia Santos a implementação do projeto de monitoramento de praias com o objetivo de avaliar a interferência das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos.

O monitoramento é um trabalho complexo e exige a presença diária nas praias durante os 365 dias do ano. “É determinante que o animal esteja fresco. Os bichos precisam ser analisados o mais rápido possível, pois alguns contaminantes são absorvidos em questão de horas”, esclarece Castilho.

Ele explica ainda que, cada tipo de contaminante (petróleo, bunker, diesel, gasolina, combustível de avião) geram diferentes efeitos e graus diversos de reações. “O óleo tem uma impressão digital. Quando ocorre um vazamento a gente consegue fazer o DNA e identificar qual é a empresa responsável”, informa o biólogo.

As equipes de campo, que percorrem as praias, encaminham os animais para as Unidades de Estabilização, que são como prontos-socorros, preparados para atendimento veterinário de urgência aos animais vivos e necropsia dos animais mortos para identificação da causa morte e verificar se houve interação com atividade humana, como pesca, embarcações e óleo. A reabilitação e soltura dos animais recuperados é feita nos Centros de Reabilitação e Despetrolização (CDR), que no caso de Santa Catarina, estão localizados em Florianópolis.

Além disso, as instalações e as equipes do PMP/BS estão preparadas para agir em casos de grandes vazamentos, com estratégias e planos de ação e minimização dos impactos. “A gente tem que estar preparado. Para lavar um pinguim, por exemplo, são necessários de 10 a 15 banhos, com detergente, para tirar todo o óleo. Precisamos de pessoas e de muita organização”, relata.

Os cuidados com os pinguins e a educação ambiental das comunidades litorâneas, aliás, foram enfatizadas durante a palestra. “Precisamos desmistificar essa ideia que bicho de lugar frio precisa de frio. A temperatura corpórea dos pinguins é de 37 graus e normalmente quando ele sai da água para a praia é para se esquentar. Infelizmente, é muito comum nós recebermos o chamado e, chegando lá, encontramos o pinguim morto dentro de um freezer”, comenta.

Inspiração para os futuros biólogos

Entre as explicações, o biólogo contou experiências práticas e vivências pessoais incomuns, como o primeiro caso atendido na Unidade de Estabilização, de uma toninha bebê, em que toda a equipe teve que se mobilizar para descobrir a composição do leite para alimentá-la, e das mais diversas situações de encalhe de animais em locais inóspitos e em momentos imprevisíveis. “Tocar em um animal vivo é uma sensação indescritível. Não poder fazer isso era o que mais me angustiava no ensino remoto. Todo biólogo precisa ter essa experiência, de tocar, de sentir, de cheirar”, diz.

Histórias compartilhadas que fizeram os olhos dos estudantes brilharem, como os do Pedro Silvino Dias, que está na 6ª fase do curso de Ciências Biológicas. “Dá para ver como eles se sentem realizados e a satisfação que eles têm de devolver os bichos para a natureza. Eu gostaria muito de trabalhar nessa área porque dá a sensação de fazer algo maior, de colocar a mão na massa”, disse o aluno.

Sobre o palestrante

Pedro Volkmer de Castilho é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000), doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (2005) e pós-doutorado em Arqueologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro (2006-2007). Atua na área de Ecologia e Zoologia, com ênfase em Arqueozoologia, Morfologia, Osteologia e Tafonomia de Mamíferos Marinhos. Atualmente é professor adjunto da Universidade do Estado de Santa Catarina e ministra disciplinas de Manejo e Conservação de Tetrápodes Marinhos, Ecologia de Campo, Zoologia Geral, Zoologia de Vertebrados e Mamíferos Marinhos.

Semana de Ciência e Tecnologia

A SCT, maior evento acadêmico institucional da Unesc, segue até sexta-feira (28/10). A 13ª edição do evento conta com mais de 120 atividades como palestras, minicursos, oficinas, apresentações de trabalhos, entre outros. Em 2022, a SCT, que ainda terá a apresentação de cerca de 440 trabalhos, é realizada de forma presencial e online com ações no campus sede da Unesc, em Criciúma, e na unidade de Araranguá. A programação completa, as inscrições, além de outras informações podem ser conferidas no link: sct2022.unesc.net/.

O evento conta com patrocínio do CREA e apoio do Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovação; do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; CNPq; Capes; Fapesc; Biozenthi e Portal Mix. 

Neste ano a Semana tem como temática “Bicentenário da Independência: 200 anos de ciência, tecnologia e inovação no Brasil”, proposto pela Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

Texto: Ana Paula Bazi/Agecom/Unesc

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *