A cada geração o papel da mulher na sociedade passa por transformações. Graças ao esforço daquelas que lá atrás iniciaram a luta por espaço no mercado de trabalho, por mais respeito e dignidade, e à busca contínua do sexo feminino por oportunidade de equidade, as mudanças acontecem.
Se há algum tempo ter uma mulher no comando de uma empresa ou instituição era algo raro ou de alguma forma considerado estranho, hoje elas já dominam ambientes e têm capacidades, habilidades e diferenciais evidenciados nos lugares que ocupam. Um dos grandes exemplos disso é a Unesc, que conta coma dedicação incondicional da reitora Luciane Bisognin Ceretta, primeira mulher a assumir tal função, ao lado de duas pró-reitoras e uma diretora entre a equipe de gestão.
O comando feminino se reflete na Universidade como um todo. Para a reitora, estar entre profissionais de competência ímpar, nas quais pode depositar confiança e, junto disso, incentivá-las a utilizar suas capacidades em prol do bem comum é uma missão. “Como primeira mulher a estar reitora na nossa Unesc sinto que minha responsabilidade é grande. As mulheres apresentam um conjunto de habilidades e competências que, associadas a sensibilidade, as tornam excelentes gestoras. Costumo dizer que trabalho com pessoas, mas é inegável a importância das mulheres nesses 52 anos em diferentes lugares institucionais. Sou grata por acompanhá-las e representa-las”, destaca.
A valorização do papel da mulher no mercado de trabalho do Brasil, no entanto, infelizmente ainda não reflete esta mesma realidade. Em Santa Catarina, de forma geral, a desigualdade entre colaboradores homens e colaboradoras mulheres é ainda maior. Conforme dados do Caged 2019, analisados pelo Setor de Planejamento da Unesc, em Santa Catarina a diferença salarial entre homens e mulheres que trabalham na Indústria, por exemplo, é de 31,1%, enquanto no Brasil é de 29,4%. Nos setores de serviço e agropecuário a situação não é diferente. As diferenças salariais entre os sexos masculino e feminino são de 20,1% e 23,6%, respectivamente, no território estadual.
Outro dado que mostra esta diferenciação está na parcela de mulheres que desempenham funções nas dez ocupações com maiores médias salariais. Em quatro, dos dez cargos apontados com as melhores remunerações, não há sequer uma mulher ocupando alguma colocação, ou seja, o mercado é 100% masculino.
No restante o maior percentual de presença feminina é na função de Promotora de Justiça, com 36% das vagas ocupadas por mulheres. Em segundo plano aparece a função de Procuradora da Fazenda Nacional, na qual as mulheres aparecem com 35,9% dos postos de trabalho.
Irmã Isolene Lofi: firmeza e ternura no comando do Hospital São José
À frente do Hospital São José de Criciúma, referência em atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em toda a região, irmã Isolene Lofi é um dos grandes exemplos de liderança feminina. Em plena pandemia de Covid-19 a religiosa comanda a equipe que tem como missão o cuidado com o bem mais precioso e tão ameaçado: a vida.
Para a irmã, ao olhar para a história é possível identificar mulheres que fizeram toda a diferença e esse poder ganha cada vez mais o justo espaço nos cenários de atuação. “Estamos aqui para mostrar que temos o poder de transformar realidades. A mulheres têm a força da transformação”, aponta.
Entre as características femininas que colaboram para que a liderança seja ocupada com tamanha grandeza pelas mulheres, para Isolene, está a perseverança. “Acredito que tenhamos ainda a capacidade de nos adequarmos as mais variadas situações e darmos respostas rápidas diante das adversidades. No meu caso, junto das religiosas, sou uma mulher de trabalho, pés no chão, mas de esperança, de crença em um amanhã melhor”, acrescenta.
A luta constante pelo espaço de fala e atuação, conforme a irmã, empodera a mulher e lhe coloca em um patamar de força. “Toda essa luta de anos empodera a mulher, sem perder a beleza do feminino, a capacidade de escuta ativa, de acolhida, o feeling de perceber o que acontece ao seu redor e do que precisa ser feito”, pontua.
A batalha, de acordo com a liderança, não é para que o sexo feminino seja considerado superior ao masculino, mas, sim, para que caminhem lado a lado, como deve ser. “Como sociedade ainda não nos demos conta disso. Que é na mesma direção que devemos caminhar”, acrescenta.
“Ser uma liderança feminina é ser firme e ser terna. Desafiar e acolher ao mesmo tempo”
Débora Zanini: Juíza na comarca que se tornou referência de comando feminino
Há quase 20 anos Santa Catarina ganhou uma juíza determinada e disposta a representar a classe feminina. Débora Zanini, titular da Vara de Execuções Penais da comarca de Criciúma, é vista como espelho para aquelas que sonham com a magistratura. Débora atua na comarca na qual foi empossada a primeira juíza do país, Thereza Tang, em 1954, fato que também lhe serve como inspiração.
Para ela, a responsabilidade de representar as mulheres no tribunal é tão grande quanto o orgulho pela oportunidade de estar fazendo parte da história. “É uma grande responsabilidade. Seja como juíza, profissional, mãe ou mulher, encaro grandes responsabilidade e desafios, mas também orgulho. Isso me motiva a trabalhar com afinco, a entregar um resultado de qualidade, pois sei que tudo o que eu fizer vai ser exemplo para outras pessoas e, inclusive, pode abrir portas para outras mulheres no futuro”, avalia.
Na visão da juíza, as características positivas que fazem a diferença na gestão feminina, como uma comunicação equilibrada, o incentivo ao trabalho em equipe e o fortalecimento de relações interpessoais, fazem com que o trabalho possa ser firme, sem perder a leveza.
O espaço que as mulheres, assim como seu próprio exemplo, vêm conquistando nos mais diferentes cenários, para Débora, vem para corrigir as desigualdades e só deve se expandir. “Basta ver nas nossas avós, mães, tias. Houve mudança significativa, sim. Hoje as mulheres ocupam muitos lugares de liderança, seja em organizações ou como chefes de família. Felizmente a evolução veio e veio para ficar na conquista feminina”, garante.
Para que o ritmo seja cada vez mais acelerado na conquista de mais e mais espaços de direito, conforme a juíza, o dever é seguir contribuindo com o esforço ao trabalho, sem intimidação, sem medo do novo e com coragem para encarar os desafios e fazer a diferença. “Desta forma, em um futuro próximo nem estaremos mais discutindo o papel da mulher na sociedade. Eu acredito firmemente que a igualdade de gênero será algo natural, intrínseco, inerente a todo ser humano”, enalteceu.
Silvia Zanette: garra e disposição para encarar os desafios no comando do Bairro da Juventude
Uma instituição com 71 anos de história, uma reputação inquestionável, 1,5 mil crianças, adolescentes e jovens atendidos atualmente e infinitos desafios. A mistura de tudo isso, somado a muito amor e dedicação, faz o dia a dia do Bairro da Juventude, organização também sob comando de uma mulher. Silvia Zanette lidera colaboradores e professores que, juntos, transformam vidas na instituição de cunho solidário.
As características femininas que formam os diferenciais positivos do comando feito por elas, na visão da diretora executiva do Bairro, formam uma equação perfeita se somadas às características masculinas em uma equipe completa. Para ela, “um melhor não é melhor ou pior, mas é inegável que muitas são as diferenças”.
Conforme Silvia, entre distinções do perfil feminino está a característica fundamentalmente detalhista, sem deixar de ver o todo. “As mulheres possuem enorme e mais que comprovada capacidade de se adequar as exigências do seu dia a dia, a sensibilidade, adquirida também pela possibilidade de ser mãe e suas experiências, habilidade de comunicação verbal, capacidade de conciliação de diversas tarefas. Tudo isso e muito mais fez com que a mulher tenha se mostrado ao mercado de trabalho e conquistado o direito de um outro começo, e espero que não pare por aí”, pontua.
O caminho para uma igualdade de gêneros, para a diretora, é distante, mas os primeiros passos, os mais difíceis, já foram dados e assim o caminho deve ser trilhado. “Coragem não nos falta, disso tenho certeza”, acrescenta.
Nas experiências e vivências enquanto líder, conforme ela, não é incomum ouvir citações como a de que “administra como um homem”, ao se referir a um trabalho bem feito. “Quando se é mulher e se tem um cargo de relevância é preciso se superar todos os dias porque qualquer deslize denigre a classe toda. Não se pode perder de vista que a luta é para sempre fazer bem feito, mostrar garra, vencer desafios e perseguir a ética a todo custo para também encorajar outras mulheres a se lançar nesse mercado, que até nós mesmas acreditávamos ser espaço dos homens”, destaca ainda.
Na política, o espaço de direito
Para Roseli De Luca Pizzolo, vereadora mais votada de Criciúma, na Câmara de Vereadores de Criciúma a sociedade tem um bom exemplo de respeito, mesmo que a maioria ainda seja masculina. “Não sentimos diferença. Todas as atividades são feitas de forma conjunta, com responsabilidade e competência, independentemente do gênero. Espero que consigamos que outras mulheres se espelhem em nós e busquem no futuro ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores, o que certamente irá qualificar ainda mais o legislativo em todo o Brasil”, acrescenta.
Com o sentimento de valorização na vida pessoal e profissional, Roseli acredita em uma evolução na conquista de espaços, embasada nas competências que as mulheres demonstram em cada posição que têm a oportunidade de ocupar. “É evidente que estamos tomando papel muito relevante em várias esferas. Grandes países sendo governados por grandes mulheres, por exemplo, é uma demonstração de que estamos não só buscando, mas conseguindo, nosso espaço. Estamos mostrando que não somos mais nem menos com os homens. Temos que nos destacar pelo nosso desempenho, competência e pela maneira que realizamos nosso trabalho”, declara ainda.
Na região destacam-se ainda no cenário político as prefeitas de Içara, Danvânia Cardoso, e Lauro Muller, Saionara Bora, que tem como vice também uma mulher, Soraya Librelato.
Reprodução de reportagem destacada na edição desta segunda-feira no jornal Tribuna de Notícias*