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Professora da Unesc alerta para os perigos do cigarro eletrônico

Dispositivo contém nicotina e substâncias tóxicas capazes de causar doenças graves (Foto: Adobe Stock)

Os cigarros eletrônicos ganharam aparência moderna, aromas atrativos e se tornaram populares entre jovens e adultos. Mas, segundo a médica pneumologista e professora do curso de Medicina da Unesc, Helena Demétrio, o perigo é o mesmo, e, em alguns casos, ainda maior se comparado ao cigarro tradicional. “A principal diferença está nos componentes de cada um. O cigarro tradicional é composto de nicotina e cerca de mais 7 mil substâncias. Já o cigarro eletrônico pode ou não ter a nicotina como um dos componentes, só que, além disso, contém outros aromatizantes, outros solventes, que também fazem parte dessa composição”, explica.

 De acordo com a médica, as substâncias presentes nos dois tipos de cigarro são altamente nocivas. “No tradicional, nós temos a nicotina, que gera dependência química. Ele contém alcatrão, gases pesados, cádmio, diversas substâncias que são associadas ao câncer de pulmão a longo prazo. Já o cigarro eletrônico pode ter a nicotina, mas tem também alguns outros solventes e aromatizantes. Um dos aromatizantes usados, chamado diacetil, pode causar uma doença que a gente chama de bronquiolite obliterante”, alerta.

Ela destaca que o tabagismo é um acúmulo de lesões que provoca inflamações e prejuízos à função pulmonar. “Ele vai gerando uma inflamação crônica das vias aéreas. Muitas vezes, o paciente pode não ter sintomas, mas, com o passar do tempo, essa inflamação vai se acentuando e vão surgindo alterações na função pulmonar e, consequentemente, a presença de sintomas”, relata.

Helena lembra que a relação entre tabagismo e câncer de pulmão é comprovada. “A gente sabe que o tabagismo é um dos principais fatores de risco para o câncer de pulmão. Aliás, não só de pulmão, como também de boca, esôfago, bexiga. Diversos outros órgãos, mas ele tem uma relação com a quantidade de cigarros fumados ao dia e o tempo”, afirma.

O cigarro, segundo ela, também afeta o sistema cardiovascular. “Pode ter uma mudança no endotélio vascular, uma mudança dos vasos. Aumenta o risco de AVC, hipertensão, doença aterosclerótica. É um vício que prejudica muitos órgãos”, ressalta.

 

Por que o cigarro eletrônico atrai os jovens

Para a professora, a estética e o aroma do cigarro eletrônico são fatores que o tornam mais atrativo. “Eles são mais palpáveis, mais bonitos, mais modernos e, principalmente, o cheiro. Eles não têm aquela fumaça que o cigarro tradicional faz. Normalmente, têm aromas mais agradáveis e acabam atraindo, principalmente, o público mais jovem”, destaca.

Helena alerta que muitos usuários carregam a crença de que conseguem parar quando decidirem, mas isso é um equívoco. “Tanto quem usa cigarro tradicional como quem usa cigarro eletrônico acredita que pode parar a qualquer momento, porém, pela nossa experiência com os pacientes, com a frequência do uso é possível, sim, considerar uma dependência”, avalia.

 

Um risco que começa cedo

De acordo com a médica, o cigarro eletrônico foi criado como uma forma de ajudar fumantes a deixarem o cigarro comum, mas o resultado foi o oposto. “Na verdade, a gente viu o contrário, que, normalmente, os adolescentes que começam com o uso do cigarro eletrônico acabam migrando em um futuro próximo para o cigarro tradicional”, conta.

E os danos podem aparecer desde o primeiro contato. “Nos Estados Unidos, já está bem descrita uma doença que a gente chama de Evali (Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico), que pode acontecer até no primeiro uso. Gera uma inflamação aguda das vias aéreas, uma pneumonia, e muitos pacientes acabam indo para a UTI, com um quadro muito grave e, muitas vezes, até irreversível”, aponta.  

A médica destaca que o tabagismo afeta diretamente a qualidade de vida. “Hoje em dia, a gente fala tanto em qualidade de vida, em boa alimentação, em atividade física, que são essenciais. Mas, muitas vezes, o paciente acaba não percebendo os efeitos do tabagismo a curto prazo. Às vezes, a pessoa acha que o fôlego está ok, mas vai subir um morro e já se sente cansado”, observa.

 

 Tratamento e desafios para abandonar o vício

 O tratamento para parar de fumar deve ser multidisciplinar, reforça Helena. “O paciente deve procurar um médico pneumologista, fazer a avaliação da função pulmonar, avaliar a necessidade de tratamentos medicamentosos, mas é importante procurar um auxílio de um psicólogo ou psiquiatra, porque, em muitos casos, há outras questões associadas ao tabagismo”, orienta.

 Mas o caminho não é simples. “Os pacientes chegam empolgados, chegam com a ideia de parar, mas, no meio do caminho, é comum não dar continuidade. A gente sabe que não é fácil, mas o principal desafio é continuar o acompanhamento, que é longo”, completa.

 Os esclarecimentos foram feitos pela médica pneumologista e professora do curso de Medicina da Unesc, Helena Demétrio, que concedeu entrevista à Rádio Unesc. Confira na íntegra:

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