Ensino

Acadêmicas da Unesc concluem estágios em
Psicologia Social no sistema prisional de Criciúma

Grupos terapêuticos em sua terceira edição já atenderam cerca de 60 pessoas, entre homens e mulheres, dependentes de drogas (Fotos: Divulgação/Agecom/Unesc)

Na quarta-feira (10/12), a coordenadora do curso de Psicologia da Unesc, Rosimeri Vieira, a docente, Larissa Queiroz, e as acadêmicas Gabriela Luz, Juliana Oliveira, Claudiceia Rocha e Loren Abel, se reuniram com integrantes do Sistema Prisional e do Ministério Público para conversar sobre as ações e a continuidade dos Programas de Grupos Terapêuticos para pessoas privadas de liberdade que são dependentes de drogas.

“O Programa, pioneiro no município de Criciúma, vem atendendo pessoas em situação de cárcere com o objetivo de evitar a reincidência criminal e desenvolver projetos de vida como uma possibilidade de preparação para a saída do sistema prisional”, informou Rosimeri.

Os grupos conduzidos por acadêmicas de Psicologia, no estágio em Psicologia Social, ocorrem no Presídio Regional de Criciúma e na Penitenciária Feminina. Com o público masculino, o projeto já está na terceira edição e atendeu 45 pessoas até o momento. No segundo semestre de 2025, 15 mulheres começaram também a receber o atendimento.

Na reunião estiveram presentes a coordenadora de Saúde do Presídio, Monalisa Lopes, acompanhada pelos psicólogos Aline Cizewski Borb, Bianca Defaveri Muliterno de Quadros e Igor da Silva Dias, do promotor de Justiça, Jadson Javel e do assessor jurídico Júlio Baron.

Idealizador

Para o promotor Jadson, o projeto de estágio nas penitenciárias é um sonho antigo. “Foi uma iniciativa de pensar fora da caixa, em benefício dos apenados que estão lá cumprindo pena, em especial usuários de drogas. Enxerguei nesse ciclo fechado que eles repetiam muito a prática criminosa em virtude do vício. Avaliei e acreditei que algo diferente tinha que ser feito e não só o punitivo, com a reclusão. Mas sozinho não conseguiria, foi aí que lembrei da Unesc, que seria a nossa salvação. Em parceria com o curso de Psicologia, iniciamos um trabalho com esse pessoal de drogas que vieram praticar crime”, destacou o idealizador da proposta.

“Essa semente que eu plantei deu certo e já estamos na terceira edição, e o projeto concretizou, firmou, criou raízes, as pessoas envolvidas são muito interessadas, e isso me chamou bastante a atenção. O setor de Psicologia da unidade prisional, sempre apoiando e participando também, estão todos engajados, e agora o projeto está caminhando com as próprias pernas, fico feliz com isso e com certeza será uma ação duradoura”, acrescentou.

Contribuição

Conforme a coordenadora dos Grupos Terapêuticos, no fim de 2025, percebe-se como é grande a contribuição da Psicologia para o sistema prisional.

“É importante que essas pessoas que são tão negligenciadas e estigmatizadas socialmente terem um espaço de qualidade para falar e serem escutadas. Por estarem em situação de cárcere, cria-se uma possibilidade real de refazerem suas vidas, sonhos, de se prepararem para retornarem novamente à sociedade. Este programa conseguiu trabalhar na questão da dependência de drogas, um fator de risco bem importante para a reincidência criminal, devido à dependência de substâncias. Além disso, os grupos terapêuticos vão funcionando como uma possibilidade de as histórias, que acabam sendo semelhantes, se encontrarem e serem trabalhadas de maneira conjunta”, observou e continuou.

“Pelo lado acadêmico, nossas estagiárias puderam ter uma experiência extremamente rica, atuando num cenário desafiador, diferente e colocando em prática tudo aquilo que nós, professores, falamos dentro da sala de aula. O que eu percebo como orientadora é que elas cresceram muito ao longo dos semestres, como pessoas e como profissionais”, concluiu a professora Larissa.

Atendimento humanizado

Para a psicóloga do presídio, a proposta auxilia os estudantes que estão desenvolvendo suas habilidades profissionais. “Elas estão aplicando técnicas da Psicologia para terem contato com o público de reeducandos do sistema prisional. Conhecer esse mundo paralelo é aprender a lidar com diversas situações, além da dependência química, porque aqui encontramos vários tipos de perfis e isso faz com que essas estagiárias consigam aprender certas habilidades e técnicas para auxiliar depois na profissão de psicólogo. Este projeto já tem bastante aceitação, os participantes gostam muito, devido à questão do acolhimento, principalmente, e do trabalho humanizado que esses futuros profissionais fazem dentro do sistema. Esse trabalho de escuta e essa técnica mais humanizada fazem com que eles ressignificam a maneira de ver a vida e traz uma possibilidade de mudança do comportamento no futuro”, avaliou.

Impacto

Na percepção da estagiária Juliana, que atuou no Presídio Regional de Criciúma, o estágio foi impactante. “Estar aqui me transformou enquanto estudante de Psicologia e enquanto pessoa. Tive contato e conheci pessoas que estão cumprindo suas penas por terem cometido crimes, mas são muito marginalizadas, são muito julgadas pela sociedade. Foi um aprendizado estar em contato com esse ambiente, conhecer os motivos pelos quais eles cometeram crimes e o fato da dependência de drogas está diretamente ligado a isso. Essa experiência nos transforma, pois conhecer esse cenário e aplicar a teoria que a gente aprende no curso, na nossa prática, enquanto grupo terapêutico, nos dá experiência para quando formos profissionais”, comentou.

Estágio enriquecedor

A acadêmica Loren, realizou o estágio no Presídio Feminino e foi com a primeira turma do grupo terapêutico formado por mulheres. “Foi uma experiência enriquecedora, esse período contribuiu muito para a nossa formação acadêmica, pudemos construir um espaço de escuta ativa, que foi muito bom. É muito gratificante esse contato direto com as mulheres privadas de liberdade e que o nosso trabalho foi muito efetivo. As detentas compartilharam suas histórias entre elas, começaram a olhar algumas situações com outros olhares que vão ajudá-las posteriormente na reinserção social”, declarou.

 

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