
Quando os jovens de 1970 rasparam a cabeça para celebrar a aprovação no primeiro vestibular da Fundação Educacional de Criciúma (Fucri), a cidade vivia um tempo de transformação. O carvão ainda moldava a economia, mas Criciúma já buscava novos horizontes. Talvez nem passasse pela mente daqueles calouros da Faculdade de Ciências e Educação (Faciecri) que eles estavam dando início a um movimento que mudaria, para sempre, a história do Sul catarinense.

Jornal Tribuna Criciumense de 22 de junho de 1968 confirmava: prefeito Ruy Hülse sancionaria a lei de criação da Fucri e mudaria Criciúma e a região para sempre
Mais de meio século depois, a Fucri, que em 1997 se tornaria Universidade, mas permanece viva como mantenedora da Unesc, representa exatamente o que aqueles estudantes sonhavam: uma cidade com alma universitária, que pulsa em conhecimento, tecnologia e humanidade. A trajetória da Unesc é, na verdade, um dos capítulos mais simbólicos da própria evolução de Criciúma, que celebra o centenário neste dia 4 de novembro de 2025.
Hoje, a Universidade reafirma a essência comunitária ao estar à frente de iniciativas estratégicas para o desenvolvimento do território onde está inserida, como a gestão do Centro de Inovação Criciúma (CRIO) e projetos como o Integratur, o Plano de Desenvolvimento Regional, o Observatório de Desenvolvimento Socioeconômico e Inovação, a Escola de Lideranças Comunitárias, além de atuar na área da saúde como gestora da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Boa Vista e as Clínicas Integradas que, sediada no campus, atende mais de 200 mil pessoas por ano. Cada uma dessas frentes traduz, na prática, o compromisso da Unesc com o futuro da cidade que ajudou a transformar.
“A Unesc nasceu do sonho de uma cidade e hoje é parte essencial da sua identidade. Somos resultado da coragem de uma comunidade que, ainda no fim dos anos 1960, acreditou que o conhecimento seria o caminho para transformar a realidade econômica e social do Sul de Santa Catarina. Aquela decisão visionária de criar a Fucri plantou uma semente que germinou em todas as áreas do desenvolvimento regional”, enfatiza a reitora licenciada da Unesc e secretária de Estado da Educação, Luciane Bisognin Ceretta.

Estudantes que vibraram com a aprovação do título de Universidade, em 1997, mal podiam imaginar as realizações que vinham pela frente
“Ao longo dos anos, a Instituição cresceu junto com Criciúma, formando milhares de profissionais, pesquisadores e lideranças que hoje atuam em diferentes setores, da educação à saúde, da tecnologia à gestão pública. Cada projeto e cada iniciativa nascem desse sentimento de pertencimento e de compromisso com as pessoas. Ser comunitária é muito mais do que uma característica institucional. É um propósito. É estar presente nos municípios, é olhar para as demandas da sociedade e construir soluções conjuntas. Quando olhamos para Criciúma, que chega ao seu centenário, é impossível separar a história da cidade da história da nossa Universidade. A Unesc segue comprometida em ser protagonista do futuro, com a mesma energia, coragem e humanidade que inspiraram, há 57 anos, aquelas pessoas que acreditaram nesse sonho coletivo”, acrescenta.
O sonho que nasceu do povo
Antes de ser Universidade, a Fucri foi um movimento. Sonho coletivo de quem acreditava que o desenvolvimento não brotaria somente do carvão ou da indústria, mas também da educação. Um dos aprovados no vestibular de 1970, Rodeval Alves, lembra do frio da navalha cortando os fios de seu cabelo em contraste com o calor da vitória quando, ao lado dos colegas, comemorava no City Club.
A alegria do jovem de 24 anos era o resultado de anos de mobilizações, de reuniões comunitárias, da Câmara Júnior, da imprensa e de lideranças visionárias como o prefeito Ruy Hülse, um dos grandes nomes registrados na história centenária do município. Aquela Criciúma que se urbanizava e ganhava contrastes de cidade grande, aprendia a pensar além do carvão, movida pela mentalidade de que o conhecimento seria o combustível do futuro.
“Há o antes e o depois da Fucri/Unesc. A Instituição é um divisor do desenvolvimento. Ainda hoje é um ambiente muito bom onde me sinto bem e renovo as energias”, relata Alves que, anos depois assumiria como diretor-presidente da fundação.
A cidade que se fez Universidade
A assinatura da Lei nº 697/68 que criava a Fucri dava impulso à educação superior que começava a deixar raízes. O prédio onde hoje funciona a Casa da Cultura, no coração da cidade, foi a primeira sede da Fucri, símbolo da união entre tradição e transformação. No local, começaram os cursos de Matemática, Ciências e Pedagogia, de onde saíram professores que formariam gerações e moldariam o ensino em todo o Sul catarinense.
“Cada professor, cada estudante, cada história construída dentro das salas da Fucri/Unesc ajudou a escrever uma trajetória que se confunde com a própria história de Criciúma. É impressionante perceber que as decisões e sonhos de algumas pessoas criaram um alicerce sólido que hoje floresce em forma de Pesquisa, Inovação, Cultura e Cidadania. A cidade cresceu, se modernizou e se reinventou, mas manteve viva a vocação de ser um centro de educação. Essa história não é apenas da Unesc, é de Criciúma, de todos que participaram e contribuem com a construção de um futuro melhor. Criciúma se fez Universidade, e a Universidade se fez cidade, lado a lado, construindo uma história que inspira e continuará inspirando muitas gerações”, salienta a reitora em exercício Gisele Silveira Coelho Lopes.
Transformação e desenvolvimento
A construção do campus da Unesc no bairro Pinheirinho não apenas mudou o mapa da educação em Criciúma, mas também transformou a própria região, que se desenvolveu ao redor do novo polo universitário. O que antes era uma área isolada, de poucas casas e estradas de chão batido, passou a vibrar com o movimento de estudantes e professores, tornando-se um verdadeiro ponto de encontro do conhecimento. Assim, a nova estrutura, que iniciou com apenas seis blocos, não apenas ampliou a capacidade da Universidade, como também influenciou o crescimento urbano do bairro Pinheirinho, atraindo residências, comércio e serviços. Hoje, a área respira Ensino, Extensão, Pesquisa e Inovação, que reflete o compromisso da Unesc com Criciúma e consolida a sua vocação de Universidade Comunitária.
“O que antes era uma região isolada, aos poucos se tornou um polo de conhecimento, inovação e convivência. Cada bloco inaugurado, cada laboratório, cada sala de aula não apenas ampliou nossa capacidade, mas também impulsionou o crescimento urbano, estimulando a instalação de residências, comércio e serviços. Hoje, ver o bairro pulsando com atividades acadêmicas e comunitárias, além da economia que gira de forma potente, é a comprovação de que a Unesc está de fato presente na vida das pessoas e contribui para o desenvolvimento da cidade que ajudou a transformar”, enfatiza Gisele.
Universidade não cresceu apenas em estrutura, mas se tornou a cada ano mais pujante e reconhecida com a excelência que se tornou marca registrada
Dos corredores ao crescimento regional
O crescimento da Fucri não se limitou ao que hoje é chamado de Bairro Universitário. As décadas de 1980 e 1990 marcaram um salto decisivo, quando a Fundação Educacional de Criciúma avançou rumo ao reconhecimento como Universidade. O diretor-presidente da época, Laênio Ghisi, foi protagonista desse processo. Foi ele quem levou a Carta Consulta até Brasília, abrindo caminho para a oficialização da Universidade.
“O que seria do Sul catarinense sem a Unesc? A Universidade é o motor propulsor do desenvolvimento da região. Desejo que a Universidade continue crescendo. A Instituição está em um grande desenvolvimento e vai seguir crescendo sempre, cada dia mais. A Unesc cumpre muito bem a sua missão, promovendo o desenvolvimento regional com trabalhos e projetos em Extensão, Ensino, Pesquisa, Inovação e Internacionalização”, afirma Ghisi, destacando o impacto da Instituição na comunidade.
Naquele período, também foram implementados marcos importantes de identidade institucional, como o Colégio de Aplicação, hoje Colégio Unesc, além do coral, do hino e da bandeira. Todos esses elementos ajudaram a Fucri a se consolidar como parte da identidade criciumense.
A Unesc como retrato de Criciúma
Se Criciúma se reinventou economicamente, foi em parte pela influência da Universidade. Enquanto a cidade ampliou a economia, diversificando-se na indústria, na tecnologia, na saúde e nos serviços, a Unesc formava engenheiros, empreendedores, professores e cientistas que ajudaram a desenhar o novo perfil da região. O ex-reitor Edson Rodrigues define a Instituição como “o motor propulsor do desenvolvimento regional”.
“Um dia me perguntaram se eu achava que a Unesc possui a importância que eu afirmo que tem. Eu respondi: acho, sim! Se alguém duvidar, pergunte como seria a nossa região se não fosse a Universidade. Questione aqueles que são atendidos e acolhidos nas nossas clínicas! As pessoas que estão com dificuldade de saúde física, mental e, até mesmo, aqueles com problemas de saúde espiritual encontram todo o apoio na Unesc. Pensar na região sem a presença da Unesc? Seria muito diferente, pois, além de ser uma Universidade Comunitária, ela é humanitária”, reflete.

Somente em 2024, Clínicas Integradas de Saúde da Unesc realizaram mais de 200 mil atendimentos. (Foto: Marciano Bortolin/Agecom/Unesc)
Da Unesc também saiu a única vice-prefeita de Criciúma: Maria Dal Farra Naspolini, que lecionou na Universidade por mais de 40 anos, em uma relação que iniciou no curso de Ciências Biológicas, em que ingressou como estudante da segunda turma. “hoje não tem como pensar a Unesc fora do contexto da região Sul. Ela cumpre este papel de estar integrada na região e leva os municípios em conta nas tomadas de decisões”, afirma.
De ontem para o amanhã
Em 1997, o reconhecimento oficial consolidou a Instituição como Universidade do Extremo Sul Catarinense, a Unesc. De oito cursos e 2,7 mil estudantes, a Instituição saltou para mais de 60 graduações, nove Mestrados e cinco Doutorados, e uma comunidade acadêmica formada por mais de 17 mil acadêmicos e 1,5 mil colaboradores. Além disso, criou o Parque Científico e Tecnológico (Iparque) que, com pesquisas e prestação de serviços, segue contribuindo com Criciúma e a região.
Mais que números e estrutura, a Unesc construiu um legado humano e comunitário. Ao longo das décadas, formou mais de 50 mil profissionais, além de pesquisadores e lideranças. Além disso, segue acolhendo pessoas, transformando vidas e contribuindo com todas as áreas da sexta.
- Por meio dos projetos de Extensão, Universidade está presente em toda a cidade diariamente
- Projeto Integratur contribuirá com o desnevolvimento do turismo integrado da Região Carbonífera
- Pesquisa de excelência da Unesc contibui com Criciúma e com o Sul Catarinense
Linha do tempo — Unesc e Criciúma, histórias que caminham juntas
1968 – Fundação Universitária de Criciúma (Fucri)
A Câmara Municipal aprova a Lei nº 697/68, criando a Fucri, sancionada pelo então prefeito Ruy Hülse. É o início do movimento que transformaria o sonho da comunidade em uma Instituição de Ensino Superior.
1970 – Primeiro vestibular e início das aulas
Nasce a Faciecri, com os cursos de Matemática, Ciências e Pedagogia. A comemoração dos primeiros calouros, com cabeças raspadas e festa no City Club, entra para a história.
1972 – Primeira formatura e expansão da sede
Os primeiros professores formados pela Fucri passam a atuar em escolas da região, ampliando o impacto educacional da jovem Instituição.
Anos 1980 – Consolidação da identidade comunitária
A Fucri cresce e ganha símbolos próprios: hino, bandeira, coral e projetos culturais, que fortalecem o sentimento de pertencimento.
1992 – Carta Consulta enviada ao MEC
Fucri dá o passo decisivo rumo ao reconhecimento como Universidade.
1997 – Nasce oficialmente a Unesc
O Ministério da Educação reconhece a transformação da Fucri em Universidade do Extremo Sul Catarinense, a Unesc.
Anos 2000 – Expansão regional e novos cursos
A Universidade amplia suas áreas de atuação, cria o Parque Científico e Tecnológico (Iparque) e reforça a missão comunitária com projetos sociais e ambientais.
2010 – Mestrados e doutorados fortalecem a Pesquisa
A Unesc consolida a pós-graduação, com Programas de Mestrado e Doutorado que colocam a Instituição entre as principais universidades comunitárias do Brasil.
2020 – Ensino, ciência e compromisso social em tempos de pandemia
A Unesc assume protagonismo científico e comunitário, apoiando municípios e profissionais da saúde no enfrentamento à Covid-19.
2025 – 57 anos de Unesc e 100 anos de Criciúma
Com mais de 17 mil acadêmicos, 1,5 mil colaboradores, mais de 60 cursos de graduação, nove Mestrados e cinco Doutorados, a Unesc é referência em Ensino, Pesquisa, Inovação e Extensão.





















