
Por dez dias, o sotaque chileno preencheu os corredores da Unesc, as Unidades Básicas de Saúde de Criciúma e os espaços que representam a essência do Sistema Único de Saúde (SUS). Foram dias de trocas, aprendizados e emoções. O grupo de 26 profissionais do Chile encerrou nesta sexta-feira (31/10) uma jornada de capacitação marcada pelo encantamento com o modelo de atenção comunitária brasileiro, um encontro que une culturas, propósitos e o desejo comum de promover uma saúde mais humana e acessível.
A experiência fez parte do Programa de Capacitação e Aperfeiçoamento em Modelo de Cuidado com Ênfase em Gestão Comunitária e Promoção da Saúde, resultado de uma parceria entre a Unesc, o Ministério da Saúde do Chile, a Universidade Corporativa Luces, a Atom Capacitaciones, e a Nuxam Corporación-ATE. O projeto integra o programa chileno “Iniciativas Extraordinarias de Capacitación y Perfeccionamiento Dirigidos a Profesionales que se Desempeñan en Atención Primaria de Salud Municipal”, voltado à qualificação de profissionais que atuam na saúde pública do país.
Uma imersão em experiências reais
Com 125 horas de formação, sendo 25 teóricas, 80 práticas e 20 voltadas ao desenvolvimento de um projeto aplicado, os participantes conheceram de perto o funcionamento da rede de saúde da região. As visitas incluíram clínicas integradas da Unesc, Unidades Básicas de Saúde, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Serviço Aeropolicial (Saer); Hospital Dia; vigilâncias epidemiológica e sanitária; centrais de imunização; Corpo de Bombeiros; Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais de Criciúma, Içara e Balneário Rincão.
Durante as manhãs e tardes, os grupos se dividiram em agendas práticas, e ao final de cada dia, entre 17h e 18h, se dedicavam à elaboração de um projeto voltado à realidade chilena, um produto final que carrega a marca da vivência brasileira.
Para a reitora em exercício Gisele Silveira Coelho Lopes, as experiências em solo brasileiro serão levadas para toda a vida. “O que acontecerá na segunda-feira, quando vocês chegarem no serviço de vocês, lá no Chile, e continuarem a caminhada profissional? Entendemos que toda experiência nova reflete em nós, significados novos. A Unesc quer que vocês se transformem na caminhada. Que saiam melhores do que chegaram. Que vocês levem o melhor da Unesc. Que cultivem o afeto, as boas relações. Que cultivem os abraços, o toque, o bom olhar e a gratidão por estarem vivendo esta história aqui conosco. Muito obrigada por serem o que vocês são, por nos ensinarem a melhorar o que fazemos, mas acima de tudo, por nos permitirem continuar fazendo o nosso trabalho com tanto amor e carinho”, destacou aos profissionais chilenos.
A pró-Reitora de Pesquisa, Pós-Graduação, Inovação e Extensão Vanessa Moraes de Andrade destacou que o encontro proporcionou um verdadeiro ambiente de internacionalização, promovendo a troca de experiências, o diálogo entre diferentes culturas e o uso de outras línguas.
Segundo Vanessa, a imersão dos profissionais de saúde chilenos no SUS, com o apoio da Unesc, tem gerado resultados extremamente positivos e ampliado cada vez mais o reconhecimento da Universidade junto à comunidade.
“Tenho conversado com muitos chilenos e eles ficaram impressionados com a presença da Unesc em toda a cidade e com o quanto a Instituição está integrada ao SUS. Eles observaram que a Universidade atua em diversas frentes dos serviços de saúde, seja por meio dos estudantes, dos trabalhadores ou na própria gestão, evidenciando o compromisso com a formação, a inovação e o desenvolvimento regional”, descreveu ela.
A coordenadora do Escritório de Relações Internacionais da Unesc, Dayane Cortez, lembrou a parceria que desde já trouxe quase 200 estudantes e profissionais da saúde do Chile para o aprendizado em Criciúma. “Já estamos indo ao segundo ano desta parceria e como coordenadora de relações internacionais, gostaria muito que possamos fazer outros convênios, outras parcerias, que isso se estenda por muito tempo”, citou.
A coordenadora do projeto, Mágada Tessmann, destacou o envolvimento e o entusiasmo do grupo. “A experiência foi para além dos aspectos relacionados ao SUS. Ela envolveu a interdisciplinariedade, a humanização e a interculturalidade. A Unesc protagonizou este programa com responsabilidade, respeito e dedicação como tudo que a Unesc faz e sempre com os olhos fixos na excelência do processo ensino-aprendizagem envolvendo a comunidade a exemplo das visitas que aconteceram nos serviços de saúde de Criciúma e região”, afirmou.
Emoção, acolhimento e novos olhares
Entre os participantes, as impressões foram unânimes: a imersão foi transformadora. A odontóloga Patrícia Normandin, de Santiago, destacou o carinho recebido e a riqueza das práticas observadas.
“Fomos recebidos com muito afeto e carinho, de coração aberto. Aprendi muito sobre o funcionamento do SUS. Como dentista, adorei o kit que eles entregam para a educação das crianças, uma caixinha com jogos educativos. Baseei meu projeto nisso. Também fiquei impressionada com o trabalho dos agentes comunitários, tão próximos das pessoas e com um acesso tão fácil”, contou.
O médico Erik Álvaro Zecco Calcina, da cidade de Calama, no norte do Chile, se inspirou em uma das práticas mais sensíveis do SUS: o Consultório na Rua. “Foi uma experiência muito acolhedora e bonita. O que mais me impactou foi o Consultório na Rua, que me inspirou a desenvolver um projeto semelhante na minha cidade, voltado ao atendimento de pessoas em situação de rua. Levo comigo uma nova perspectiva sobre o cuidado”, compartilhou.
Participam do programa enfermeiros, médicos, assistentes sociais, odontólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, entre outros profissionais, todos selecionados por meio de um rigoroso processo conduzido pelo Ministério da Saúde do Chile.
O que dizem os envolvidos:
“Durante essas semanas, testemunhamos a grandeza do Sistema Único de Saúde e o compromisso por trás de cada serviço, cada profissional e cada unidade de saúde. Vimos como a saúde aqui é entendida com uma abordagem integral, comunitária, pessoal e profundamente humana. E essa humanidade é talvez a maior lição que levamos conosco. Esta experiência foi uma verdadeira ponte entre duas nações irmãs. Entre o Chile e o Brasil, não compartilhamos apenas um continente; compartilhamos a mesma convicção: que a saúde é um direito e que trabalhar por ela exige conhecimento e dedicação”.
Francisca Paulina Zapata Mora, profissional de saúde chilena
“Partimos cheios de gratidão, certos de que cada dia em Criciúma foi uma oportunidade para aprender, compartilhar e renovar nosso compromisso com a vocação de serviço público. E se este estágio nos ensinou algo, foi a convicção de que as conexões humanas, a colaboração e a solidariedade são tão importantes quanto, ou até mais importantes do que, protocolos ou cronogramas. Agradecemos, do fundo do coração, a todos que tornaram essa experiência inesquecível. Retornamos ao Chile com a esperança de continuar construindo um sistema de atenção primária à saúde mais justo, acessível e humano, como o que conhecemos aqui”.
Héctor Raúl Donoso Castro, profissional de saúde chileno
“Este é um momento propício para agradecer. Agradecer ao Unesc por todo o carinho que colocaram, por todo o trabalho que fizeram. Este é um trabalho que não é só destas duas ou três semanas. É um trabalho de meses de coordenação. E sei do carinho e do profissionalismo com que fizeram isso”.
Ignacio Arnal Meinhardt, representante da Nuxan Corporación e Atom Capacitaciones
“Cada vez que me perguntam qual é o milagre de Santa Catarina, que tem esses índices tão interessantes de qualidade, de segurança, de emprego, sempre procuro responder que tudo isso é fruto de uma cultura associativista. Compreender isso é absolutamente fundamental. Compreender isso é ter um sentido de comunidade. E aí está a Unesc, esta Universidade comunitária. E quais são os pilares disso? Humanismo, cuidado, atenção, empatia, tudo o que puderam perceber nesses dias”.
Luciano Rodrigues Marcelino, representante da Universidade Corporativa Luces.
“Estamos muito contentes e fazendo todo o necessário para que outras pessoas, outros colegas chilenos, possam viver esta experiência nesta Universidade, porque é um espaço que reúne muito a forma de poder trabalhar, a forma de entregar saúde e humanização da atenção. Agradecemos a todos pela acolhida, pela hospitalidade e, com certeza, todos nós vamos voltar ao Chile com maior conhecimento e com uma outra forma de ver a atenção à saúde”
Yamil Musa Iratzagorria, diretor de Novas Iniciativas da Universidade Del Alba
Texto: Thiago Oliveira/Especial Agecom Unesc





























































