
“Bico calado, toma cuidado, que o homem vem aí, que o homem vem aí…”. Assim já dizia a música Passaredo em 1977, de autoria de Francis Hime, alertando a sociedade para a preservação da fauna e flora brasileira. Atentos ao cenário, órgãos federais e estaduais, universidades e pesquisadores se reúnem para a construção coletiva de indicadores e metas do Plano de Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção dos Campos Sulinos (PAN), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade(ICMBio).
Neste contexto, a Unesc como Universidade Comunitária, está, desde 2023, integrando o Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) do Pan Aves – Campos Sulinos, e nesta semana, do dia 19 até o dia 23 de maio, está recebendo o grupo formado por representantes de diversos órgãos públicos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, bem como, pesquisadores da Universidade do Rio Grande do Sul (UFGRS) e o docente anfitrião do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA), Jairo José Zocche.
Segundo Zocche, o GAT é coordenado pelo ICMBio, por meio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave). “Estamos reunidos e discutindo estratégias para a conservação de aves dos Pampas e também dos Campos de Cima da Serra. Estamos recebendo a comissão do ICMBio e do Cemave, de Florianópolis e de Brasília, do Distrito Federal (DF). Neste encontro estamos desenvolvendo uma oficina de planejamento, para alavancar esse processo. Os trabalhos tiveram início há três anos e irão até 2027. Daqui sai um relatório que integrará este PAN, sendo o nosso objetivo em preservar os Campos Sulinos”, destacou o docente.
Zocche ainda comenta que pelo menos 18 espécies enquadradas estão ameaçadas de extinção e mais nove serão beneficiadas, totalizando 27 envolvidas no PAN. “Precisamos alavancar esses estudos para fazer uma radiografia das espécies de aves em risco desse bioma”, concluiu o professor.
Conforme o analista ambiental do Cemave e coordenador do PAN-Aves dos Campos Sulinos, Andrei Langeloh Roos, essa oficina faz parte do planejamento do plano de ação e foca na elaboração de metas e indicadores.
“Em 2023, nós elaboramos uma oficina de planejamento de ações e atividades para o Plano e elas têm um ciclo de cinco anos. Ao longo desse período, realizamos diversas ações com o envolvimento de vários setores da sociedade, tanto de órgãos estaduais e federais de meio ambiente, universidades, sociedade civil, Organizações Não Governamentais (ONGs) e pesquisadores autônomos. São atividades focadas na conservação das espécies de aves ameaçadas dos Campos Sulinos, que envolvem desde o Bioma Pampa até os Campos de Cima da Serra do Paraná, Santa Catarina, até o Rio Grande do Sul”, informou Roos.
Na avaliação do analista biólogo e ornitólogo do Museu de Ciências Naturais, vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, Gleison Ariel Bencke, o objetivo é unir os pesquisadores, gestores de órgãos de fiscalização, de licenciamento e de controle, Instituições de Ensino Superior, em prol dessas aves, uma vez que os campos naturais do sul do Brasil estão sob forte ameaça.
“Muitas espécies de aves campestres se encontram em estado crítico de ameaça de extinção. Estamos falando de um conjunto grande de espécies que dependem dos campos nativos, ou seja, se não houver mais campos nativos, as aves vão desaparecer junto. Posso elencar um rol de ameaça como: a fronteira agrícola, com o avanço do plantio de soja sobre o Pampa, do Pinus, sobre os Campos de Cima da Serra, entre outros fatores. Nós temos uma situação realmente crítica, que exige união de esforços para encontrarmos soluções e algumas dessas, partem justamente de uma divulgação dessa situação crítica à sociedade, mediante a imprensa”, alertou Bencke.
Ainda segundo o cientista especializado no estudo das aves, estes animais têm um papel ecológico fundamental.
“Elas são termômetros da saúde do meio ambiente. Porque esses campos naturais não são simplesmente um ambiente inerte, que não tem suas funções. Pelo contrário, cada ambiente, cada ecossistema natural, incluindo os campos nativos, têm suas funções ecossistêmicas, ou seja, suas funções ambientais prestam serviços fundamentais, embora ainda não se coloque isso na ponta do lápis. Os Campos Sulinos têm um potencial enorme de reter carbono e, uma vez que os destruímos, esse estoque de carbono é liberado, contribuindo para o efeito estufa sobre o planeta. Outra colaboração importante é com a captação e retenção da água, contribuindo com a formação de muitos rios que atendem todo o Oeste catarinense, o Noroeste e Oeste gaúcho, bem como o Rio Uruguai até a região do Rio da Prata no Uruguai”, explicou o cientista.
Outra ressalva feita por Gleison, é que essas aves têm um alto potencial turístico. “Atualmente observamos no mundo inteiro, especialmente no Brasil, um crescimento do turismo de observação de aves. E essas aves, por serem exclusivas e específicas dos Pampas e Campos Sulinos, atraem pessoas de longa distância, de outras regiões do país, de outras regiões do mundo. E isso pode sustentar cadeias de turismo, tanto em áreas protegidas, comunidades de conservação, parques, reservas, como em áreas privadas, que mantêm campos e mantêm essas espécies. Com isso, as aves campestres têm um grande potencial que não podemos desperdiçar”, frisou o pesquisador.
Também integram o Gat, os seguintes participantes: Carla Suertegaray Fontana (UFRGS/Igre), Fabio Grade(MP/PR), Jan Karel Felix Mähler Júnior (Museu de Ciências/Sema), Lauren Rumpel (Bolsista Cemave), Lucilene Jacoboski (Bolsista Cemave), Luthiana Carbonell (IMA), Marcelo Madeira (Ditec/Ibama/RS), Mathias Dislich (Parque das Aves), Michele Abadie (ICMBio-COPAN), Paulo Oliveira Sousa (ICMBio-GR3), Raphael Zulianello (Autônomo), Rodolpho Credo (ICMBio-Cemave) e João Gava Just (Autônomo).
Espécies ameaçadas
Taxon Nome comum
Coryphistera alaudina corredor-crestudo
Gubernatrix cristata cardeal-amarelo
Leptasthenura platensis rabudinho
Laterallus spilopterus sanã-cinza
Scytalopus iraiensis macuquinho-da-várzea
Urubitinga coronata águia-cinzenta
Alectrurus tricolor galito
Anthus nattereri caminheiro-grande
Asthenes hudsoni joão-platino
Circus cinereus gavião-cinza
Heteroxolmis dominicanus noivinha-do-rabo-preto
Pseudoseisura lophotes coperete
Sporophila beltoni patativa-tropeira
Sporophila hypoxantha caboclinho-de-barriga-vermelha
Sporophila melanogaster caboclinho-de-barriga-preta
Sporophila palustris caboclinho-de-papo-branco
Sporophila ruficollis caboclinho-de-papo-escuro
Xanthopsar flavus veste-amarela
Conheça a música e letra da música “Passaredo” de Francis Hime, clicando aqui