
Em um marco para a valorização da história e da cultura afro-brasileira, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) da Unesc, em parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Inovação e Extensão da Universidade, com a Editora Cruz e Sousa e com a deputada estadual Luciane Carminatti, realizou a entrega de 25 kits de leitura afro-catarinense para professores das redes estadual e municipal de ensino de Criciúma nesta terça-feira (19/11), no CRIO.
Os treze livros que chegarão até 70 escolas da região, abordam a história e as contribuições de personalidades como Antonieta de Barros, Trajano Margarida, Ildefonso Juvenal, Gustavo Lacerda e muitos outros, trazendo à tona a riqueza da cultura e da história negra do estado. A seleção das obras foi pensada para promover uma compreensão aprofundada da consciência antirracista em toda a rede de ensino, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
O objetivo da distribuição dos kits é enriquecer o ambiente educacional, proporcionando aos estudantes catarinenses o contato com conteúdo representativo e com valorização do legado da população negra em Santa Catarina. A ação ainda reforça a implementação de legislações como a Lei nº 3.410/1997, de Criciúma, que antecipa a obrigatoriedade da Lei Federal nº 10.639/2003, ao incluir o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas. Também auxilia na efetivação da Resolução nº 004/2022, do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina, que promove a educação para as relações étnico-raciais.
A reitora da Unesc, Luciane Bisognin Ceretta, enalteceu o papel fundamental da educação desde a infância. “Estamos oferecendo aos professores ferramentas para que possam ensinar e compreender a cultura afro-brasileira de forma mais aprofundada. Este é um passo essencial para a formação de educadores e para a valorização cultural”, ressaltou Luciane.
“Mais do que a entrega de um kit, temos o simbolismo que reveste esse momento e o dia de hoje. Quero que esse simbolismo toque o coração de cada um de vocês e que ele se perpetue nas escolas por onde estiverem. Levar esse material é importante, mas ele deve ser visto como um elemento, um veículo de mediação de muitos outros diálogos e projetos que precisam ser construídos. Projetos que devem ser construídos por todos nós – negros, indígenas, brancos – porque a luta antirracista é nossa. Eu quero estar nesse lugar de defesa dessa luta, pois acredito que é uma das causas mais urgentes e essenciais que devemos abraçar”, complementou a reitora.
A Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-Graduação, Inovação e Extensão, Gisele Silveira Coelho Lopes, enfatizou a importância do engajamento coletivo. “A luta antirracista precisa ser sistêmica e contínua, alcançando todos os espaços. Esta entrega é mais um reflexo do trabalho coletivo promovido pela Unesc em iniciativas como o Maio Negro e a Semana da Consciência Negra”, disse.
“Para que essas ações tenham impacto duradouro, é preciso que haja continuidade, que elas se espalhem para além dos muros da academia, alcançando todos os espaços e comunidades”, complementou Gisele.
Para a deputada estadual Luciane Carminatti, essa ação resgata o passado e projeta o futuro. “São treze livros de escritores e escritoras negras catarinenses. Ao refletirmos sobre as dívidas históricas com a população negra, entendemos a importância desses livros. Obras bem selecionadas têm o poder de gerar vida e transformação. Levem essas obras para as escolas e criem um ambiente de reflexão e aprendizado em cada sala de aula.”
Reconhecimento
Além de oferecer materiais pedagógicos, o projeto tem como objetivo estimular o reconhecimento das contribuições da população negra para a construção da sociedade catarinense. O editor da Cruz e Sousa, Fábio Garcia, destacou a relevância das obras. “Esses livros, premiados e reconhecidos nacionalmente, são instrumentos que conectam os estudantes à realidade e à diversidade cultural do nosso estado.
“Não estamos criando livros para deixá-los apenas na internet ou em prateleiras. O objetivo é que esses livros cheguem até os estudantes, os professores, os pesquisadores. A criança precisa pegar o livro, levar para casa, refletir sobre ele, aprender com ele. É assim que vamos criando uma cultura literária, uma cultura antirracista, e ampliando nossa visão de mundo”, disse Garcia.
“A nossa missão não é apenas educar os jovens para o que é possível, mas para o que é necessário. Precisamos educá-los para o mundo real, para que se posicionem no mundo. E o mundo é diverso, assim como Santa Catarina, assim como o Brasil. Por isso, continuaremos a formar esses jovens sem nunca deixar de destacar a importância da presença negra em nosso país, em nosso território”, acrescentou ele.
A coordenadora do Neabi, Normélia Ondina Lalau de Farias, destacou que o momento marca um avanço na luta pela inclusão e visibilidade. “Nem todos conhecem a história que está por trás dos muros, das pessoas que viveram e construíram um tempo ali. Isso é fundamental para dar visibilidade ao que, por muito tempo, foi invisível. É necessário trazer à tona as figuras que contribuíram de forma significativa para a construção deste estado. E, ao fazer isso, percebemos que não estamos falando apenas de relatos de dificuldades, de barro e esforço. Estamos falando de outras formas de contribuição, que, muitas vezes, são minimizadas ou esquecidas”, mencionou Normélia.
Outro ponto importante, conforme Normélia, é que isso não veio “da prateleira”, de algo distante das escolas, das salas de aula. Não são apenas palavras em um livro, mas sim um movimento real para que essas obras cheguem aos estudantes de forma concreta. Precisamos, de fato, ver essas obras nas escolas, não apenas como algo a ser lido, mas como um ponto de partida para a reflexão e ação.
“Eu acredito que estamos vivendo um momento importante. Quando vemos, por exemplo, a demanda crescente por novos produtos culturais e educacionais, sabemos que estamos caminhando para um novo horizonte. Estamos dando visibilidade a personagens que não são mais “favoritos do momento” ou “pontos de curiosidade”, mas figuras reais e vitais para a história do nosso estado. Esses são os indivíduos que fizeram e fazem parte da construção de Santa Catarina. Portanto, não podemos mais nos dar ao luxo de negligenciar essa parte da nossa história. Precisamos desenvolver com autoridade aquilo que a lei já demanda, de forma que não seja mais uma exceção, mas uma prática natural, incorporada ao cotidiano da educação. A idealização de um futuro mais inclusivo não precisa ser substituída por novas ações; ela deve ser a base para que a educação de fato evolua”, finalizou a coordenadora.
A supervisora educacional da Coordenadoria Regional de Educação (CRE/Criciúma), Kelly Fernandes, destacou a relevância do engajamento das escolas no fortalecimento da educação antirracista e na valorização da cultura afro-brasileira. Com a palavra “gratidão” como ponto central de sua fala, Kelly ressaltou o esforço coletivo para integrar cada vez mais as instituições de ensino nesse movimento transformador, que vai além das celebrações pontuais, como a Semana da Consciência Negra, e se reflete em ações contínuas e significativas ao longo do ano.
Programação
Nesta quarta-feira (20/11), feriado nacional, será realizado o evento Aquilombar – Diversidade, Cultura e Movimento, com foco em diversidade e movimento cultural, a partir das 15h. Esse evento é organizado pelos movimentos sociais negros da cidade.
Nesta quinta-feira (21/11) haverá a exibição do documentário Dona Sirley: cultura e costura, às 19h, na sala Edi Balod, na Unesc. Na sexta-feira (22/11), será realizada uma palestra especial, com a participação de estudiosos e líderes negros, que discutirão temas relacionados às religiões de matriz africana, afro-brasileira e a luta antirracista aliada as estratégias para promoção da equidade racial no Brasil. A palestra acontecerá às 19h, no Auditório Ruy Hulse, e é aberta ao público. Ainda no mesmo dia, haverá a oficina: Introdução à Teologia Yorùbá: Conceitos e Práticas, a partir das 15h, na sala 5 do Bloco XXI-B, na Universidade.
Ainda como parte da programação, no dia 28 de novembro, acadêmicos e pesquisadores apresentarão seus estudos que contemplam as oito linhas de pesquisas do Neabi. Os temas perpassam discussões sobre saúde, educação e direitos humanos, com ênfase em questões raciais e sociais. O evento será nos turnos vespertino e noturno, na sala 1 do Bloco O.
Além dessas atividades, a Unesc, por meio do Neabi, realizará ações de conscientização antirracista em 18 escolas, levando de forma qualificada informações sobre a importância da diversidade e da inclusão. Essas ações visam promover a reflexão sobre questões raciais e contribuir para a formação de uma sociedade mais igualitária, desde os primeiros anos de escolarização.
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