Entre as características consideradas imprescindíveis para que um negócio inovador tenha sucesso é o fator de resolutividade em sua área de atuação, ou seja, que a ideia seja tão oportuna que se torne indispensável a partir de sua colocação em prática. Foi exatamente com foco neste princípio que a startup iForth Sistemas Inteligentes, de Criciúma, conquistou lugar no mercado e hoje desponta entre as principais empresas incubadas na Incubadora Tecnológica da Unesc. Fundada em 2015 a partir da ideia do então programador, hoje empresário, Fábio Feltrin Silveira, a iForth atua na gestão do processo cerâmico e colabora com os bons resultados do setor que é uma das fortalezas do Sul de Santa Catarina.
Formado em Ciência da Computação na Unesc e pós-graduado em Engenharia de Software, Fábio traz desde a infância o desejo de empreender. Ele encontrou no ramo da tecnologia o elemento que precisava para realizar o sonho de ter o próprio negócio e na Unesc o caminho para o crescimento e para o sucesso, que está só começando. Com olhar já atento para um nicho de mercado, o empresário usou a expertise em programação e tecnologia para desenvolver uma ferramenta que já faz parte de grandes empresas do país.
Apoio no controle de processos
Conforme o criciumense que fala com brilho nos olhos, o método, desenvolvido ao longo de intensos dias de testes e pesquisas, oferece uma forma de controle de processos por meio de um sistema que se comunica com equipamentos. “Nós instalamos um painel elétrico que faz a coleta de dados do processo de forma automática. A ferramenta atua no Controle Estatístico de Processo (Cep) e aponta os dados de quanto produziu, quanto descartou, principais motivos de parada, principais defeitos, entre outras informações importantes no processo de produção utilizando dos conceitos de indústria 4.0 e seguindo os procedimentos internos das unidades”, explica o idealizador do sistema iCep, acrescentando ainda o foco nas normas NBR 15.463 e 13.818, necessárias para as indústrias que produzem porcelanato e que são auditadas pelo Centro Cerâmico do Brasil (CCB).
Para que o projeto saísse do papel foram necessários dois anos de dedicação exclusiva de Fábio. Uma imersão em processos, ferramentas e possibilidades de inovação, atenção dispensada com a confiança de que a recompensa do esforço chegaria com o tempo. “Eu identifiquei a oportunidade em uma visita à fábrica de uma cerâmica. Ao conhecer o processo de produção, reconheci o problema no controle manual de informações e, nisso, a chance de desenvolver um sistema que digitalizasse o apontamento de dados. Com o acesso facilitado a esses gráficos as empresas que utilizam o serviço conseguem aprimorar processos e melhorar os resultados. Tenho exemplos práticos de clientes que conseguiram economizar R$ 600 mil ao aperfeiçoar um detalhe percebido a partir da utilização do sistema”, destaca.
Crescimento junto da Unesc
Além dos dois anos dedicados exclusivamente ao desenvolvimento da proposta, o empresário já investiu quase quatro anos desde a primeira venda do sistema até a expansão do negócio, que hoje conta com colaboradores contratados e está abrindo processo seletivo para novos membros para a equipe. A alavancagem do negócio, conforme Fábio, está intimamente ligada à parceria firmada, em 2020, com a Unesc, inicialmente por meio do projeto Plano de 60 Dias, que integra o Núcleo de Empreendedorismo da Universidade.
A partir da participação no Plano de 60 Dias, ação que conta com o trabalho de professores e acadêmicos do curso de Administração com foco no desenvolvimento de uma empresa ou projeto, de acordo com Fábio, houve a tão esperada “virada de chave”. “Eu senti a necessidade de estruturar um pouco mais o negócio. Foi ali que eu defini mais claramente onde estou e para onde quero chegar com a empresa. O apoio do Plano de 60 Dias foi o que me deu ainda mais segurança e coragem e, a partir disso, deslanchei”, comenta.
Com a aproximação com a Universidade, Fábio encontrou no Talent Lab, espaço especialmente pensado para um ambiente de inovação, o lugar ideal para o dia a dia da empresa. Atualmente é ali, na sala localizada no Parque Científico e Tecnológico (IParque) da Unesc, que a rotina da iForth acontece com apoio e orientação de todo o ecossistema de inovação oferecido por meio de professores e colaboradores.
O acompanhamento das estratégias e do planejamento é feito por uma equipe de consultores de forma gratuita, o que, para o empreendedor, é fator determinante para os frutos que estão sendo colhidos. “Vejo um potencial gigante no meu negócio e sei que aqui tenho a experiência e o conhecimento de toda uma equipe a meu favor. Mesmo que em breve eu precise ter um espaço próprio para a empresa, quero continuar com o vínculo ao Talent Lab e a tudo o que ele proporciona”, acrescenta confiante e orgulhoso pela trajetória já percorrida.
Inovação aplicada na saúde
A palavra inovação remete à tecnologia, modernidade. Apesar do elo inquestionável com práticas atuais, o resultado da inovação vai muito além dos laboratórios: ele está no dia a dia de cidadãos comuns que tem problemas resolvidos por meio de ideias até então desconhecidas. Na saúde a tecnologia aplicada a tratamentos e na busca da qualidade de vida transforma realidades.
Neste sentido, o professor e pesquisador da Unesc Paulo Cesar Lock Silveira trabalha no desenvolvimento de tecnologias para uso de laser e correntes elétricas na cicatrização de feridas. A startup da qual faz parte, a Regenera, integra a Incubadora Tecnológica de Ideias e Negócios (ITEC.in), vinculada à Agência de Desenvolvimento, Inovação e Transferência de Tecnologia (Aditt) da Universidade.
O projeto de Paulo propõe a inserção do profissional fisioterapeuta nas equipes multidisciplinares focadas no processo de tratamento de lesões de pele. A iniciativa, que fez e faz a diferença de muitos pacientes, foi reconhecida, ainda em 2021, pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), no Prêmio Inovação Catarinense “Professor Caspar Erich Stemmer”. O pesquisador, representante da equipe que trabalha no projeto, venceu na categoria “Agente de Inovação”, o que rendeu homenagens também na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) e na Câmara de Vereadores de Criciúma.
Desenvolvimento do método
Graduado no curso de Fisioterapia da Unesc, Paulo carrega com orgulho a marca da Instituição que faz parte de todo o seu crescimento enquanto profissional da saúde e, mais recentemente, empreendedor. “O reconhecimento que obtive é da Instituição. Sou um aluno genuinamente Unesc. Fiz graduação aqui, fiz pós-graduação, saí para fazer o doutorado e voltei como pesquisador, criei a Regenera, incubei ela na Universidade e o prêmio que recebi coroa toda essa história acadêmica. A Unesc faz parte de tudo isso, de todos esses dias em laboratório, escrevendo artigos e orientando alunos”, reconhece.
Conforme o profissional, o desenvolvimento do método da Regenera passou pela análise dos mecanismos bioquímicos e moleculares envolvidos na cicatrização de feridas e os efeitos desses equipamentos no processo, colocado em prática também por meio da Instituição. “Ao longo dos anos desenvolvi um método que associa aparelhos respeitando a resposta celular da pele lesionada e, em 2017, tive a oportunidade de aplicar em humanos, no Ambulatório de Feridas da Unesc. Em 2018, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, publicou um acórdão habilitando o fisioterapeuta a tratar feridas e queimaduras. Em janeiro de 2019, criamos a Regenera, que atua em clínicas, hospitais e hoje presta serviços para o Consórcio Intermunicipal de Saúde da Amrec (Cisamrec)”, explicou Silveira.
Ecossistema de Inovação da Unesc
Se o ambiente de uma Universidade já respira conhecimento e atualização constante, na Unesc o foco é ainda maior a tudo o que envolve a palavra do momento: a inovação. A instituição conta, desde 2013, com a iTEC.in, setor que nasceu com o propósito de dar suporte a empreendedores da região.
Além do suporte de professores e pesquisadores em torno da temática com a bagagem da atuação em grandes empresas de nível nacional e internacional, os incubados na Universidade contam com apoio técnico, contábil, jurídico e até focado na abertura de mercados para exportações.
A proposta da Instituição, conforme a pró-reitora de Desenvolvimento e Planejamento Institucional, Gisele Coelho Lopes, é aprimorar cada vez mais o serviço que serve não só para apoio ao desenvolvimento socioeconômico da região, mas também para a troca de experiências e saberes com os acadêmicos. “Este espaço, onde os empreendedores podem encontrar a oportunidade de desenvolver a sua ideia, se consolida como uma vitrine de destaque frente ao mercado. A Unesc, considerando o seu DNA como comunitária, conta com uma Incubadora Tecnológica preparada para receber os novos negócios, dando condições de crescimento e consolidação. É a garantia de sustentabilidade econômica aliada a processos ágeis e um desempenho estratégico”, frisa Gisele.
Pronta para o novo
Universidade aposta ainda mais fichas na inovação e inaugura o Unesc Labs
O cenário que já é de olhares voltados ao ecossistema de inovação ganhou, nesta semana, um novo impulso: o lançamento do Unesc Labs, projeto em parceria com empresas da região para fomento de desenvolvimento profissional, inovação e tecnologia.
Para o fôlego inicial de início do programa a Universidade já conta com duas grandes organizações parceiras: a Procer, Agrointeligência de Pós Colheita, e a Piql Brasil, Soluções Tecnológicas de Proteção de Dados, ambas com produtos e perfis inovadores e dispostas a crescer de forma colaborativa. Representantes das empresas participaram do evento e firmaram o compromisso com a ideia que promoverá o desenvolvimento de talentos, o fortalecimento e posicionamento das marcas e a conexão destas com a Universidade e ambientes inspiradores.
Conforme a reitora da Universidade, Luciane Bisognin Ceretta, a chegada do Unesc Labs marca um novo tempo da Unesc de hoje para a Universidade almejada para o futuro. “Nós precisamos ser protagonistas desse movimento, desse cenário que veio já acelerado pela pandemia e nos coloca numa situação de que ou caminhamos nesse passo ou ficaremos para trás. Nossa opção é nos envolver em todos os processos que sejam inovadores e tragam a possibilidade de pensar em outros processos, trazendo a historicidade e a expertise que a Universidade tem”, destacou no evento.
O passo que a Instituição dá, de acordo com Luciane, inaugura a atitude necessária para a caminhada ainda mais firme rumo ao futuro. “Este é um projeto transformador. Vocês verão, logo ali na frente, uma nova Universidade, que se abre para o futuro, a partir de hoje. Todos estão convidados a nos seguir nessa incrível trajetória de transformar lugares com nossas ações. É um movimento que não tem volta. É para frente e para cima”, acrescentou em convite para que outras empresas integrem o projeto.
Centro de Inovação na casa da Unesc
De forma a completar o panorama que proporciona as melhores condições para a criação de novas ideias e negócios, em 2022 Criciúma poderá contar com seu próprio Centro de Inovação. O projeto, conforme o gerente de Inovação da Unesc, Oscar Montedo, sairá do papel com grande contribuição da Universidade, responsável pela doação do prédio que abrigará o Centro. A reforma do espaço já foi iniciada e tem prazo de um ano para finalização, ou seja, em agosto de 2022 a inovação terá novo lar na cidade. Para Oscar, a escolha da empresa responsável pela reforma e o início dos trabalhos representam mais um grande passo. “A obra do Centro de Inovação é de uma magnitude sem tamanho. Ela envolve a expectativa de todo o ecossistema de inovação do Sul de Santa Catarina e tem todos os olhares voltados para si. A Unesc está cedendo um importante espaço para tal função por 20 anos e espera que, com o sucesso que será, possa ceder por mais 20 e ‘ad aeternum’”, destaca.
O local que abrigará diferentes instituições de ensino e organizações, de acordo com o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, já conecta a iniciativa pública e privada para colaborar com o ecossistema de inovação regional. “Isso combina muito com o nosso estado: a tríplice hélice da inovação diz respeito ao setor empresarial, ao Governo e à universidade e não haveria ambiente melhor para escolher do que a parceria com a Unesc. Foi batalhado para ajustar todos os pontos e chegamos a esse termo porque houve vontade de muita gente. Vamos ver esse prédio adaptado para este grande projeto, que vai incentivar a inovação e seu ecossistema regional”, afirmou o governador, no evento que marcou o repasse da verba para reforma do espaço.
A disponibilização do espaço cada vez mais próxima, conforme o presidente da Fapesc, Fábio Holthausen, faz com que Criciúma se prepare para integrar a Rede Catarinense de Centros de Inovação. “É uma estrutura que conta com a articulação de todos os atores locais, liderados pela Unesc e pela prefeitura de Criciúma. Tenho certeza de que o Governo do Estado está investindo com a expectativa de que gere cada vez mais desenvolvimento na região, que possamos ter oportunidades a pesquisadores, empreendedores e, com isso, cumprir a missão de desenvolvimento econômico e social sustentável e de qualidade de vida do catarinense”, enfatizou.
Com a inovação presente de forma crescente no dia a dia da academia, do mercado e do setor público, a expectativa é que cases como o da iForth tendem a se tornar mais frequentes. Ao mesmo tempo em que a criatividade e o surgimento de novas tecnologias se incorporam à rotina das empresas, Criciúma e Santa Catarina ganham em competitividade e se beneficiam do desenvolvimento econômico e social que sempre acompanham as iniciativas inovadoras.