Em 1975, a jovem Vani Anacleto se encantava ao ver os acadêmicos do curso de Educação Física se dirigindo ao Estádio Heriberto Hülse, na época do time do Comerciário, para fazer as aulas. Ela os via cada vez que deixava a Escola de Educação Básica Sebastião Toledo dos Santos, o popular Colegião, onde estudava.
Presenciar aquela movimentação fez nascer nela a vontade de seguir o mesmo caminho, por isso, um ano depois prestou vestibular para a Escola Superior de Educação Física (Esed), da Fundação Educacional de Criciúma (Fucri). Aprovada, ela iniciou as aulas e se formou em 1978.
“A partir daí, passei a lecionar com muito apoio dos meus ex-professores e, graças a Deus, trilhei um bom caminho. A Unesc me deu a possibilidade de crescer profissionalmente; de ter visibilidade; ajudar a minha família, ter o que sempre sonhei. São coisas que facilitam a nossa vida e dão a oportunidade de estar socialmente incluída”, conta.
Naquele momento, Vani não se deu conta, mas estava fazendo história como a primeira professora negra da Instituição.
“Na época não tíhamos a noção de ser negro ou não ser negro. Eu era uma profissional que estava em busca de espaço. Hoje percebo a dimensão do que foi ser uma professora negra naquela época, naquele momento, na história de uma Universidade. O normal das pessoas negras da minha época era ser doméstica, trabalhar no subemprego e eu ascendi profissionalmente. Foi uma superação muito grande”, cita.
“Pelo meu histórico como pessoa, pobre, negra, vindo da periferia, eu também pude ajudar muitos alunos que deram o seu depoimento do quão significante eu fui na vida deles e de que portas a gente pode abrir e que chaves a gente pode dar nas mãos das pessoas. Isso me traz uma felicidade muito grande”, acrescenta.
Evolução
Vani lecionou por 20 anos e viu, entre tantas outras coisas, a transformação da Instituição em Universidade e a mudança da estrutura. “Era tudo muito simples, uma sala de chão batido, uma quadra rústica, sem cobertura, assim como a piscina. Fizemos uma rifa para fazer o primeiro ginásio coberto, todos os professores se engajaram nesta ideia e foi possível realizar este sonho sob o comando do professor José Antônio Carrilho. Hoje, ver essa estrutura me deixa envaidecida por que começamos a plantar uma semente e vimos que o fruto é gigante”, comenta.
Os alunos de Vani vinham de diversas cidades do Sul catarinense, mas também de outras regiões que não tinham um curso de Educação Física. “Na época já tínhamos alunos de Torres, Meleiro, Turvo, Tubarão e muitas outras cidades do Sul do estado, mas também de outras regiões. Não consigo colocar em palavras a felicidade que eu sinto. Enquanto estamos aqui, não envelhecemos, não sentimos o tempo passar. É algo que se eterniza. Hoje sinto prazer em estar aqui, participando dos projetos da Unesc”, fala, incentivando que toda a comunidade utilize os serviços oferecidos. “Que as pessoas busquem conhecimento e formação, pois isso nos dá uma autonomia muito grande”, acrescentou.
“Quando temos uma formação, temos mais possibilidades. Assim estamos preparados para quando as oportunidades surgirem. Acompanhei muito o processo de evolução da Unesc e sou grata por tudo que tenho recebido da Universidade, o carinho das pessoas, a atenção. Eu admiro muito o trabalho de quem está gerindo a Instituição”, comenta Vani.
Além de primeira professora negra da Instituição, Vani participou dos jogos universitários, na modalidade de basquetebol. Ela integrou a Seleção Catarinense Universitária, nos jogos universitários brasileiros de 1977 e 1978 pela Fucri.
“Vani dá boas-vindas a quem chega na Unesc”
A partir de 2023 quem chega ao campus da Unesc se depara com uma grande e bela pintura que toma uma parede inteira do Bloco Administrativo. A arte expressa o largo sorriso e o olhar compenetrado da primeira professora negra da Fucri/Unesc. A inauguração do espaço Sankofa Vani Anacleto ocorreu em maio.
“Diariamente, muitas histórias são construídas, e somente eu sei o quão verdadeiro isso é. Tive a sorte de encontrar pessoas maravilhosas em minha jornada. Sou imensamente grata por isso. Aquilo que desejei, Deus colocou em meu caminho, e muitas pessoas fizeram parte dessa caminhada. Fiquei extremamente feliz e emocionada ao me ver refletida. Vi minha história se desenrolar diante dos meus olhos. É uma alegria e emoção indescritíveis”, relata.
A artista responsável pelo retrato que homenageia a história e o legado da ex-professora é Monique Cavalcanti, também conhecida como Gugie Cavalcanti.