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Pozolana: Rejeito de carvão poderá se transformar em cimentício por meio de pesquisa da Unesc

Projeto desenvolvido pela Universidade do Extremo Sul Catarinense agrega valor a subproduto da mineração, tem sua patente reconhecida e segue para fase de transferência de tecnologia (Fotos: Arquivo Unesc Iparque)

A região Sul de Santa Catarina, maior produtora de carvão do Brasil, está prestes a iniciar um novo ciclo no desenvolvimento econômico, graças a uma solução inovadora desenvolvida e patenteada pela Unesc. Trata-se de um rigoroso trabalho de pesquisa que resultou na criação de um produto rentável e sustentável, a partir dos rejeitos de carvão minerado e que poderá ser utilizado como cimentício na construção civil. Denominado e registrado como Pozolanita, o produto é de autoria do Laboratório de Valoração de Resíduos (Lab-Valora), do Instituto de Engenharia e Tecnologia (IDT), e teve sua patente outorgada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no início de 2021.

A pesquisa em torno da temática vem sendo desenvolvida no Parque Científico e Tecnológico (Iparque) da Unesc desde 2011, contando, a partir de 2015, com a instalação de uma planta piloto com investimento de R$ 4,6 milhões, possibilitado pelo aporte de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e participação da Maracajá Mineração, parceira no projeto. A utilização da planta comprovou as viabilidades técnica e econômica do processo desenvolvido e agora toda a parte argilosa dos rejeitos de carvão podem ser convertidas em pozolanas.

Conforme Adilson Oliveira, um dos engenheiros responsáveis pela criação do chamado cimento pozolânico, o objetivo principal do grupo foi o desenvolvimento de uma solução para conversão da grande quantidade de rejeitos decorrente do carvão minerado na região, em algo rentável. “Do ponto de vista da Engenharia de Materiais temos um olhar diferenciado para qualquer resíduo, vemos eles como subprodutos. Foi a partir desta premissa que se iniciou a busca por uma solução viável para os rejeitos”. Como resultado de anos de intensas pesquisas os estudos deram origem a um material que agrega valor ao que antes era rejeito, mas também diminui expressivamente o impacto ambiental da mineração. “Complementarmente, a pozolana, da forma como foi processada, ainda resultará em uma expressiva redução das emissões dos gases do efeito estufa, para o segmento da construção civil”, explica.

 

Um novo destino para o rejeito de carvão

Dados do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina (Siecesc), apontam que são extraídos ao ano 5,6 milhões de toneladas (mt) de carvão bruto no território catarinense. De todo o material minerado, considera-se vendável o montante de 2,6mt, o que, somado ao carvão que chega do estado vizinho para mistura, resulta em um total de 3,5mt de material até então considerado rejeito e que agora pode ter um novo destino, gerando emprego e renda na região.

Nas diversas fases da Pesquisa e do Desenvolvimento (P&D), desde as primeiras análises e os primeiros acompanhamentos do comportamento do material, até a instalação do laboratório com capacidade semi-industrial, a equipe se surpreendeu positivamente com os excelentes resultados alcançados, tanto na qualidade do material quanto na redução dos impactos ambientais.

“Desenvolver uma solução como essa significará muito para a nossa região. A partir do reconhecimento, por parte do INPI, da atividade inventiva inédita desta Pozolana, existe uma grande chance de se nuclear um novo setor produtivo na região, pois, com essa tecnologia, será possível uma sinergia entre a mineração de carvão regional e as indústrias cimenteiras ou construtoras nacionais”, detalha Adilson.

Apesar de as mineradoras já contarem com modernas técnicas de acondicionamento de água e resíduos, a expectativa é de que a utilização da tecnologia criada passe a transformar o que antes era armazenado em aterros em, literalmente, outra fonte de renda, além de evitar a necessidade de acondicionamento deste volume. Além do cimento pozolânico, outros três materiais secundários foram criados e patenteados em meio à pesquisa desenvolvida na Unesc em parceria com a holding Maracajá Mineração.

Projeto segue para transferência de tecnologia

Diante de tamanho potencial do produto desenvolvido, segundo os envolvidos, a Unesc parte agora para a etapa de transferência de tecnologia, ou seja, conversa com o mercado para a venda da tecnologia desenvolvida, para que seja aplicada em um modelo industrial. As empresas e grupos econômicos regionais têm a prioridade para a Universidade.

Para a equipe, qualquer negociação, desde já, pode significar um impacto imediato na economia regional, nas mesmas proporções do que ocorreu com o início da mineração do carvão na região. “A possibilidade de integrar o setor da energia com o da construção civil promoverá grandes investimentos, com possiblidades de rápida geração de empregos e geração de impostos, agora de forma sustentável. A AMREC poderá se tornar um case nacional”, acrescenta o engenheiro.

 

Universidade é referência em Pesquisa

Para a pró-reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional da Unesc, Gisele Coelho Lopes é inspirador saber que dentro da Universidade foi desenhada uma solução de tamanha importância: “Temos aqui algo revolucionário. É a ciência sendo utilizada para a evolução de práticas. Novas soluções, novas perspectivas e muitas expectativas”, enfatiza.

Os frutos de todo esse trabalho, conforme a pró-reitora Acadêmica da Universidade, Indianara Reynaud Toretti, são de toda a comunidade. “Essa é uma forma prática de mostrar a grandeza e potencialidade de contar com uma Universidade Comunitária. Temos a convicção de que essa pesquisa irá gerar frutos indescritíveis em desenvolvimento econômico e social para a região carbonífera”, completa Indianara.

O processo da criação da tecnologia até o reconhecimento técnico do produto se consolidou em dez anos de pesquisa e expectativas de profissionais e acadêmicos envolvidos. Fábio Elyseu, analista de laboratório do iParque, se orgulha em dizer que fez parte desta, a qual considera uma pesquisa histórica. “Foram dias e noites da equipe toda aqui acompanhando cada passo do desenvolvimento da pesquisa. Criamos laços de amizade e, a partir de um grande empenho de todos os envolvidos, resultou em um produto completo, que promete ser um divisor de águas no mercado de energia e construção civil”, avalia.

A pesquisa foi coordenada pelos doutores Adilson Oliveira e Michael Peterson, da Unesc, e Agenor De Noni Junior, atualmente docente da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O trabalho teve a participação dos alunos e egressos do curso de Engenharia Química e do Mestrado em Engenharia e Ciência de Materiais (Unesc): Enga. Bárbara Lummertz Santana; M.Sc. Ederson Becker; MSc..Fábio Elyseu; Enga Fernanda Pereira de Souza; Engo. João Vitor Vieira Ronconi e Enga.Letícia Cardoso Pedroso, além da importante parceria e motivação do Engenheiro Cláudio Zilli e demais profissionais das mineradoras.

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